Lucy Alves no forró do Semiárido

19/01/2016
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Recebi um belo presente nesse começo de ano. É o CD “Lucy Alves & Clã Brasil no Forró de Seu Rosil”. Satisfação maior porque foi um presente que veio diretamente das mãos dela.

 

O CD é a proposta de resgatar a obra de Rosil Cavalcanti, parceiro de Jackson do Pandeiro, mas que teria sido eclipsado pela fama do parceiro. É o velho problema da desvalorização dos compositores no Brasil.

 

Basta ouvir o repertório para identificar músicas muito populares como “Sebastiana” e “Forró na gafieira”.

 

O CD é um mergulho no sertão paraibano daqueles tempos. A música inicial, “Aquarela Nordestina”, segue a linhagem de Gonzaga e seus parceiros, denunciando um Nordeste seco e sem perspectiva, como “sorte”, se quisermos, como fatalidade. É o registro do entendimento de uma época.

 

Mas, esse espírito para aí. Depois vem uma série de músicas poéticas, falando da cultura da época e seus costumes. Para meu gosto, a composição mais bela é “Tropeiros da Borborema”, com muita poesia, descrevendo e interpretando o mundo dos tropeiros da Paraíba. Pelo que a música indica, razão do surgimento de Campina Grande.

 

Mas o CD não é só a obra de Rosil. É também o grupo Clã Brasil – Lucy, pai, mãe, irmãs e alguns colaboradores -, com uma química que só a intimidade explica. Eu já disse a ela que o grupo parece ter uma energia do tamanho do sol do Nordeste, ainda mais no palco.

 

Finalmente, é a arte da própria Lucy. No CD ela toca vários instrumentos, arranja e canta todas as músicas. Com a voz potente, mas de timbre suave, é impossível não ouvir várias vezes. Até o carteiro que me entregava correspondências na porta de casa perguntou: “é você que está ouvindo essas músicas”? Eu respondi: “sim”. Ele completou: “que coisa bonita”!

 

Foi a música que divulgou o imaginário que o Brasil tem do Nordeste, particularmente do Sertão, além da literatura, da pintura e do cinema. Permanece o desafio da música – e dos músicos – que cantem o novo sertão que venceu a fome, a sede, a migração, os saques e a mortalidade infantil, mas que mantém sua cultura, particularmente a fé, a festa e a música. 

 

Targino, Nilton Freittas e eu fizemos o “Belo Sertão”, dialogando com as músicas de Gonzaga e compondo novas músicas que falam do potencial do sertão, das novas realidades. De modo algum estamos condenados à fatalidade de outras épocas.

 

Que mais artistas do Nordeste, principalmente do Semiárido, possam cantar seu potencial e suas conquistas, não só os seus problemas.

 

A arte bonita nunca morre e assim é a arte de Lucy Alves.

 

Roberto Malvezzi (Gogó)

https://www.alainet.org/pt/articulo/174859
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