Eleições 2018: a disjuntiva de um jogo semiaberto; ainda.
- Opinión
A disjuntiva que assombra os dias e atormenta as noites do conservadorismo agora tem números ilustrativos.
A pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada esta semana, espeta em torno de Lula e de sua liderança três percentuais cuja sedimentação vai definir o futuro eleitoral do ex-presidente e o do projeto de restauração neoliberal no Brasil.
Desde 2005/2006 sob fogo cerrado do conservadorismo e, a partir de outubro de 2014, diuturnamente caçado pela República de Curitiba --que abastece a mídia de suposições e ilações para transformá-lo em símbolo máximo da corrupção no Brasil, o ex-presidente foi desfigurado politicamente no imaginário popular.
Cerca de dois terços do eleitorado foi convencido pelo jogral Moro & mídia.
Os governos e o partido do líder operário consagrados como sinônimo de justiça social enredaram-se em práticas ilícitas. E ele concedeu e auferiu vantagens a empresas associadas a grandes obras públicas.
É uma mutação devastadora.
Mas inconclusa, porque colide com duas mensagens opostas espetadas pelo eleitor nas planilhas do Datafolha.
Cerca de 1/5 do eleitorado brasileiro mantém-se perfilado ao lado de Lula, solidamente.
Isso o credencia de forma quase incontornável ao segundo turno da corrida presidencial de 2018, qualquer que seja a composição do plantel adversário.
Mais que isso.
Esse piso granítico –indisponível do lado oposto em que as menções espontâneas de voto se esfarelam e se dispersam— salta robustamente quando a referência escrutinada passa a ser a vida real dos cidadãos, não a porção mutante do seu discernimento, induzida agora pelo alto-falante midiático, ao qual o ex-presidente não tem acesso.
Como se fora a bruxa da fábula infantil a Folha, depois de esfalfar-se nesse labor sem trégua indaga ao cristal da memória popular:
‘Espelho, espelho meu, quem foi o melhor Presidente da história deste país?’
E de 37% respondem: ‘Lula’.
Fecha-se o círculo de ferro.
A disjuntiva do corpo meio morto meio vivo afoga o conservadorismo em dúvidas dilacerantes: é possível enfrentar e vencer Lula numa disputa na qual ele passa a dispor do que não tem hoje –e que eles fingem não considerar um dado decisivo na disputa?
Espaço e tempo igual para se defender e dialogar com a população brasileira.
Na campanha eleitoral, um jornalismo caricato, de viés antipopular, perde momentaneamente monopólio do diálogo com a sociedade .
A sorte do país e o destino do seu desenvolvimento ganham uma janela de debate ecumênico.
E será preciso aturar Lula a alertar o eleitor popular em relação ao projeto de Brasil inscrito nas lâminas dos grandes interesses que esfaquearam, esquartejaram, picaram e salgaram a sua reputação, a do seu governo, a de sua família e a do seu partido, em praça pública, durante dias, semanas, meses e anos seguidos.
A recente entrega do pré-sal, iniciativa de um presidenciável tucano fartamente festejada pelo conservadorismo, poderá figurar então como um tiro no pé: a prefiguração explícita daquilo que a restauração neoliberal pretendia, de fato, com o simulacro de sua cruzada anticorrupção e anti-Lula.
Os dados trazidos à mesa pelo Datafolha da última 2ª feira injetaram desassossego ao diretório conservador.
Podem exigir de Moro & Cia aquilo que a sofreguidão murmura por entre perdigotos incontroláveis: a prisão cinematográfica de Lula, a fornecer o fotograma com o qual –uiva-se do fundo da isenção jornalística dominante—será possível reduzir a ameaça em um zumbi de punham no peito, a se arrastar na lixeira da história.
Podem, ao contrário, impor cautela redobrada aos que –a exemplo do impoluto FHC—temem a reação popular.
Mas, sobretudo, deveria , antes que tarde demais, suscitar no PT e em todo o campo progressista uma agenda de mergulho sem volta às periferias e bases populares, de modo a nutrir a hesitação golpista de razões concretas para temer a rua.
O jogo, enfim, está semi-aberto.
Ainda.
03/03/2016
http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Eleicoes-2018-a-disjuntiva-de-um-jogo-semiaberto-ainda-/35612
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