A democracia agonizante
- Opinión
O Brasil caminha a passos largos para uma tragédia histórica. Estamos diante, indiscutivelmente, de mais um golpe de estado, lastreado pela falsa legitimidade conferida pelos meios de comunicação oligopolista, pelo Congresso mais reacionário do período posterior à abertura política, e por um judiciário omisso, quando não complacente, com a conduta criminosa dos golpistas.
Quando o Senado Federal, com a sua maioria inquestionavelmente conservadora, e sem nenhum compromisso social, votar pela cassação da Presidenta democraticamente eleita por milhões de brasileiros e brasileiras, não será apenas Dilma Rousseff que será afastada. Com ela vai a esperança da construção de um país mais justo e o sangue derramado daqueles que lutaram pelo direito de podermos decidir o nosso futuro por meios democráticos.
Com Dilma, a direita reacionária também buscará derrubar direitos fundamentais consagrados na Constituição Federal, o acesso público ao ensino superior, políticas de inclusão social, e uma economia voltada à criação de postos de trabalho e distribuição de renda. Também estamos diante de crimes ambientais sem precedentes, expressa nos projetos legislativos defendidos pelos cavaleiros do apocalipse político, e da condenação do nosso país a quintal da política imperial das grandes potências econômicas.
O sonho de um país soberano, com equidade, com liberdade de expressão e de opinião, onde as pessoas não sejam julgadas pela sua conta bancária, também será desabrigado do Palácio do Planalto.
Sobrará apenas a doutrina ortodoxa defendida por Temer e Henrique Meirelles, fieis à Escola de Chicago e à lunáticos como Friedrich Von Hayek, Eric Von Misses, dentre outros, expressa no arrocho salarial, na venda do patrimônio público com preço de “xepa de feira”, e na destruição de direitos e garantias consagrados nos últimos 38 anos de democracia. O Brasil, novamente, assim como aconteceu na década de noventa, andará para trás, desta vez com o requinte cruel da destruição dos anseios transformadores daqueles que sonharam com a consolidação democrática.
Particularmente, não acredito em virada parlamentar. Já assisti demais a sanha golpista e a omissão de muitas lideranças democráticas para com os absurdos observados no Congresso Nacional. Gritar Fora Temer não é uma brincadeira pueril, mas um protesto consciente contra o vilipêndio aos mais comezinhos princípios democráticos.
Também não é apenas um Fora Temer, mas uma Fora a Aécios, Fora Bolsonaros, Fora ao Machismo, à Homofobia, à Escola sem Partido, à Mídia Oligopolista, e a todo uma escumalha golpista que está levando o nosso país para o obscurantismo medieval de uma ditadura teocrática-togado-parlamentar.
O que virá depois da clava golpista? Erradicação total da liberdade? Exclusão dos instrumentos de luta da classe trabalhadora? Instituição de um novo reinado de ódio? Imposição da bandeira do silêncio contra todas as formas de indignação?
Aliás, silenciar, neste momento, não é um caminho sábio. Ao contrário, o silêncio nunca foi um inimigo tão grande da democracia. É preferível o barulho ensurdecedor das ruas, do que o cheiro putrefato da morte em vida! É isto, “da morte em vida”! Pois a omissão política, o desdém contra o barulho das ruas, o esquecimento dos valores que nos conduziram à democracia, é uma forma de morte, de suicídio, de perda de alma!
Aqueles que ainda sonham, que acreditam num mundo melhor, devem sair do conforto midiático e firmar fileiras nas ruas! Nunca antes na história desse país foi tão importante demonstrarmos que não aceitaremos passivamente a destruição de tudo aquilo que levamos mais de quinhentos anos para conquistar. Caso não tomemos cada esquina deste país para defender a democracia poderemos nos conformar a encontrar sinônimos apenas nos versos de Brecht, pois quando formos levados pelas forças da opressão, não haverá mais vozes para lutar…
Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais
https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2016/08/26/a-democracia-agonizante/
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