Indústria farmacêutica financia campanha contra legalização da maconha temendo prejuízos

14/09/2016
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RECENTEMENTE, EXECUTIVOS DE EMPRESAS farmacêuticas americanas fizeram uma grande doação para uma campanha contra a legalização da maconha e a justificaram como sendo uma preocupação com a segurança das crianças. Mas o dossiê de investidores da empresa mostra que a maconha representa uma ameaça direta aos planos de lucrar com um produto de maconha sintética desenvolvido pela empresa.

 

Em 31 de agosto, a empresa Insys Therapeutics Inc. doou 500 mil dólares para a organização “Povo do Arizona por Políticas Responsáveis de Drogas” (Arizonans for Responsible Drug Policy), se tornando o maior doador do grupo que lidera a campanha contra a aprovação do referendo para legalizar a maconha no Arizona.

 

A empresa farmacêutica, que atualmente fabrica uma versão de efeito acelerado do analgésico fentanil, garantiu a um repórter local que tinha feito a considerável doação pensando no bem comum. Um porta-voz contou ao Arizona Republic que a Insys se opõe à medida de legalização, Prop. 205, “porque ela não protege os cidadãos do Arizona, em especial, as crianças”.

 

Na sexta-feira (9), uma reportagem do Washington Post mencionou o potencial autointeresse por trás da doação da Insys.

 

O dossiê de investimento examinado pelo The Intercept confirma o óbvio.

 

No momento, a Insys está desenvolvendo um produto chamado Dronabinol Oral Solution (solução oral), um remédio que utiliza uma versão sintética do tetraidrocanabinol (THC) para aliviar náusea e vômito causados por quimioterapia. Em um dossiê relacionado ao dronabinol, onde são analisadas preocupações de mercado e concorrência, a Insys registrou umadeclaração informativa com a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, da sigla em inglês) deixando claro que a legalização da maconha é uma ameaça direta à sua linha de produtos:

 

“A legalização da maconha ou de outros canabinoides naturais nos EUA pode limitar significativamente o sucesso comercial de possíveis produtos de dronabinol. Se a maconha ou outros canabinoides naturais forem legalizados nos EUA, o mercado de produtos compostos por dronabinol seria consideravelmente reduzido, nossa capacidade de gerar receita e o futuro de nossos negócios seriam concretamente afetados de forma negativa”.

 

A Insys explica no dossiê que o dronabinol é “um dos poucos canabinoides sintéticos aprovados pela FDA [Food and Drug Administration – responsável pelo controle de alimentos e medicamentos] nos EUA e, “portanto, nos EUA, produtos de dronabinol não precisam concorrer com a cannabis natural ou canabinoides naturais”.

 

A empresa admite que a literatura científica defende que os benefícios da maconha são maiores do que os benefícios do dronabinol sintético, e que o apoio à legalização da maconha vem crescendo. No último formulário 10-K de desempenho financeiro arquivado com a SEC, em uma seção que aborda as ameaças da concorrência, a Insys alertou que diversos estados “já haviam aprovado leis que legalizavam a maconha para uso medicinal e recreativo”.

 

O Subsys, spray de fentanil fabricado pela Insys, é usado como um analgésico de efeito rápido. Ele é um opiáceo que foi manchete nos últimos anos, à medida que aumentou o número de americanos com overdose da substância. O fentanil é 50 vezes mais forte do que a heroína e foi associado à morte do cantor Prince no começo do ano. No mês passado, dois executivos da Insys sedeclararam culpados por um esquema em que usavam os honorários pagos a palestrantes para que médicos prescrevessem o Subsys a seus pacientes.

 

Os defensores da causa defendem que a maconha legalizada tem diversas finalidades médicas, incluindo o uso analgésico.

 

Não é a primeira vez que empresas farmacêuticas ajudam a financiar a oposição à reforma nas leis que regulam a droga. A Coalizão Comunitária Contra as Drogas da América (Community Anti-Drug Coalition of America), órgão sem fins lucrativos que organiza o ativismo em todo o país, recebepatrocínio corporativo da Purdue Pharma, fabricantes da Oxicodona, e daJanssen Pharmaceuticals, outro fabricante de opiáceos, há muito tempo.

 

J.P. Holyoak, presidente da Campanha para Regulamentar a Maconha como o Álcool (Campaign to Regulate Marijuana Like Alcohol), um grupo que apoia ao referendo de legalização, publicou uma nota condenando a doação da Insys. “Nossos adversários tomaram uma decisão consciente de se associarem com essa empresa”, contou Holyoak. “Estão financiando a campanha com os lucros da venda de opiáceos — e, talvez, até com a venda irregular de opiáceos”.

 

Tradução de Inacio Vieira

 

lee.fang@theintercept.com

@lhfang

 

Sep. 13 2016

https://theintercept.com/2016/09/13/industria-farmaceutica-financia-campanha-contra-legalizacao-da-maconha-temendo-prejuizos/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/180241?language=en
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