Ato inaugura campanha contra "perseguições ao ex-presidente Lula"
- Opinión
Nesta quinta-feira (10), foi realizado o Ato Público em Defesa da Democracia, do Estado de Direito e do Ex-presidente Lula, que reuniu políticos, lideranças de movimentos populares, sindicalistas, artistas e intelectuais para o lançamento da campanha "Por um Brasil Justo para Todos e para Lula" na Casa de Portugal, no centro de São Paulo (SP).
Segundo os organizadores do evento, a iniciativa pretende dar início a "um grande movimento em defesa da democracia brasileira e contra as perseguições ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva".
O evento contou com a presença do ex-presidente Lula; do prefeito Fernando Haddad, da Deputada Dederal Jandira Feghali (PCB-RJ); do presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão; do presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas; da presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral; do presidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Gilmar Mauro; e do representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos; entre outras personalidades.
Segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho, que apresentou a organização da ação durante o ato, o método da campanha é a criação de comitês nas cidades e estados, dentro e fora do país, para “promover ações de informações, debates, com foco na união dos trabalhadores”. "A campanha produzirá materiais que alimentarão as redes sociais e os comitês. Ela não tem centralidade e não pretende ter controle", explicou.
“O Lula do caso não é apenas o Luiz Inácio, somos todos nós: cada brasileiro que ousou sonhar, romper correntes e construir a mudança. O golpe, na sua essência, libera o ataque contra os pobres, contra os jovens negros na periferia, e faz a guerra jurídica contra todos os líderes sociais. Na mesma lógica, libera o ódio contra aqueles que lutam contra a mudança. Desconstruir Lula é afirmar que os oprimidos não podem ousar sonhar", argumenta Carvalho.
Ele classifica a ação como "suprapartidária", que tem como objetivo convocar "todos aqueles que, de alguma forma, querem continuar sonhando com a democracia e com a justiça”.
Manifesto
Duranto o ato, foi lido o manifesto da campanha, que vem circulando pelas redes sociais para a coleta de assinaturas. O texto afirma repudiar a "caçada judicial e midiática que vitima Lula" e denuncia a criminalização de movimentos populares e os retrocessos nos programas sociais propostos pelo governo Temer.
O documento já foi assinado por nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil, a diretora Anna Muylaert, o teólogo Leonardo Boff, o fotógrafo Sebastião Salgado, o poeta Sérgio Vaz, a cartunista Laerte Coutinho e a própria presidenta afastada Dilma Rousseff.
"Esse conjunto de ameaças e retrocessos exige uma resposta firme por parte de todos os democratas, acima de posições partidárias. Quando um cidadão é injustiçado – seja ele um ex-presidente ou um trabalhador braçal – cada um de nós é vítima da injustiça, pois somos todos iguais perante a lei. Hoje no Brasil, defender o direito de Lula à presunção da inocência, à ampla defesa e a um juízo imparcial é defender a democracia e o Estado de Direito", destaca o manifesto.
Ato
O evento teve início com uma intervenção artística do Coletivo de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que cantou um trecho da música Roda Viva, de Chico Buarque, e interpretou um poema cantado sobre os ataques sofridos pelo movimento na última semana pela Operação “Castra” da Polícia Federal.
Estudantes secundaristas da União da Juventude Socialista (UJS) e do Levante Popular da Juventude, também realizaram um sarau poético e jogral durante o evento.
Um dos advogados de Lula que participa do processo da Lava Jato, Cristiano Zanin, destacou a importância da divulgação dos argumentos da defesa.
“A verdade não importa para eles, o que importa é manter uma acusação frívola. Há uma série de mentiras que são contadas para tentar complicar o andamento jurídico do processo. Além das defesas jurídicas sólidas que eu, junto com os meus colegas advogados, temos apresentado no processo, é fundamental divulgar a verdade, para que façamos com que o Estado Democrático de Direito venha a prevalecer no país”, afirmou.
Discurso
Em sua fala, que finalizou o ato, Lula afirmou desejar um movimento menos personalista em sua imagem, e mais focado na democracia, na justiça e no direito de movimentos como o dos estudantes secundaristas que ocupam suas escolas.
“Hoje era um dia para eu ouvir as pessoas falarem menos do Lula e mais do Estado de direito, da democracia e da justiça. Eu não me sinto confortável participando de um ato em minha defesa, mas eu me sentiria confortável participando de um ato de acusação ao grupo responsável pela Operação Lava Jato, que não causa mal apenas ao Lula e as outros denunciados, estão causando mal ao Ministério Público e à Policia Federal, que foi criada para defender o Estado brasileiro e não para permitir que delegados comprometidos com partidos [políticos] venham fazer falsas acusações”, declarou.
Lula criticou ainda o comportamento dos grandes meios de comunicação. “Eu gostaria de não estar aqui me defendendo, mas acusando o comportamento perverso de meios de comunicação do país que mentem descaradamente. Eu não tenho nenhuma preocupação em prestar contas à justiça brasileira, não tenho nenhum problema em prestar quantos depoimentos forem necessários. Minha preocupação é quando eu vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo, que não tem a menor preocupação com a verdade. A pergunta que eu faço é a seguinte: quantos políticos aguentam 13 horas no Jornal Nacional falando mal dele em apenas cinco meses? Eu aguento porque eu não tenho que provar minha inocência. Eles que têm que provar a inocência deles”, disse Lula.
“Eu me disponho a fazer papel de cobaia dessa operação, mesmo tendo 71 anos de idade. A única coisa que eu quero é que eles apresentem ao povo brasileiro uma prova concreta, não vale dizer que tem 'convicção'", afirmou, em tom provocativo.
O ex-presidente terminou sua fala com a leitura de um discurso sobre o as consequências do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “A democracia é um processo vivo, é a sociedade em movimento na luta pelos seus direitos (…). Queria terminar dizendo que eu já tinha mais de 20 anos quando me politizei, e descobri que existe uma diferença entre a democracia que o povo quer e a democracia que a elite permite. Somente a democracia é que permitiu que uma ex-guerrilheira assumisse a presidência desse país", finalizou.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
- Júlia Dolce, do Brasil de Fato
11 de novembro de 2016
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