Nova tentativa de paz na Colômbia
- Opinión
O governo do presidente Juan Manuel Santos e os representantes das Farc na Colômbia assinarão amanhã (24) nova versão do acordo de paz que abre a possibilidade de pôr fim a mais de 50 anos de guerra civil no país. A assinatura será realizada no Teatro Cristóbal Colón, em Bogotá, numa cerimônia menos pomposa do que a anterior, em Havana, que contou a presença de outros chefes de Estado e da Organização das Nações Unidas.
A primeira versão do acordo foi rejeitada por pequena diferença de votos no referendo convocado para apreciá-la, cujo comparecimento foi baixo. A derrota do acordo foi uma surpresa, já que as pesquisas de opinião davam como certa a sua vitória. Contou com a tenaz oposição do ex-presidente Álvaro Uribe e de seus partidários, que alegaram ser o acordo insuficiente em matéria de punição das “atrocidades cometidas pelas Farc”, segundo eles.
Uribe sempre se opôs a qualquer acordo com os guerrilheiros, sempre optando pela possibilidade – que se revelou irreal de derrota-los militarmente. Santos, egresso das fileiras de Uribe, fez ponto de honra de seu governo acordar a paz com as Farc, o que abriria a possibilidade de acordos semelhantes com outro grupo guerrilheiro menor, o Exército de Libertação Nacional. As negociações de paz, levadas a cabo em Havana, duraram quatro anos.
Desta vez, Santos pretende levar a nova versão do acordo ao Congresso para apreciação, onde seus partidários dispõem de uma maioria descrita como confortável. Uribe deseja a realização de um novo plebiscito, considerando que as mudanças ( cerca de 50) na nova versão são apenas “cosméticas”. Dispôs-se a realizar um encontro com lideranças das Farc, que rejeitaram a possibilidade, alegando que ele nunca desejou, de fato, a paz. Uribe vem se valendo da oposição ao acordo para “renascer” politicamente, agora como opositor de Santos. Este, por sua vez, recebeu o prêmio Nobel da Paz deste ano pelos esforços em prol da pacificação no pais, que poria fim ao mais antigo movimento guerrilheiro ainda em atividade na América Latina.
Santos e os representantes das Farc têm pressa em assinar e aprovar a nova versão do acordo. Apesar do cessar-fogo acordado, a situação é frágil. Recentemente, dois guerrilheiros foram mortos em circunstâncias ainda não esclarecidas, o que é um exemplo de como o acordo poderia ser rompido. Durante muitos anos grupos paramilitares de direita atuaram no país, atacando as Farc. A luta provocou também uma série de animosidades e desejos de vendetta difíceis de apagar a curto prazo.
O Teatro Cristóbal Colón foi inaugurado em 12 de outubro de 1892, no centro de Bogotá, perto da Praça de Bolívar, tendo capacidade para cerca de 900 espectadores. É considerado um dos monumentos nacionais do país. Foi palco do famoso “Bogotazo” de 1948, uma série de protestos que acabaram em violência depois do assassinato do jurista e político Jorge Eliecer Gaitán Ayala, e também do episódio da Tomada do Palácio da Justiça por um comando do grupo guerrilheiro M-19, hoje extinto. Na retomada do Palácio pelo Exército, numa operação qualificada como “Massacre” pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, que deixou um saldo de 33 (dos 40 envolvidos) guerrilheiros mortos, 11 soldados, 43 civis (entre eles 11 magistrados), além de 11 civis desaparecidos.
23/11/2016
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