Mídia é covarde o suficiente para não discutir a despenalização visando esvaziar presídios

06/01/2017
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Os dois recentes extermínios de presos — um no Amazonas e outro em Roraima — são apenas a ponta do iceberg dentro um sistema carcerário falido no país.

 

O Brasil é o quarto maior encarcerador no mundo com 622 mil detentos. O primeiro são os EUA (2,2 milhões), seguido da China (1,6 milhão) e da Rússia (644 mil).

 

Daqui a poucos anos estima-se que haverá mais brasileiros atrás das grades que no resto do mundo, a persistir esse ritmo de criminalizações.

 

O diabo é que a mídia não tem coragem para botar o dedo na ferida. Prefere o discurso fácil segundo qual “bandido bom é bandido morto” a enfrentar o problema de frente. Isto significa covardia e despreparo dos barões e de alguns profissionais de imprensa que preferem o sensacionalismo das tragédias do mundo cão.

 

Dito isto, vale ressaltar que cerca de 140 mil pessoas — ou quase um quarto — estão presas em virtude das drogas. Ora, por que não descriminalizar as drogas como fizeram muitos países para esvaziar os presídios?

 

O fetiche da punição ao usuário de drogas atende mais à lógica da reprovação moral, repetida pela mídia, do que a racionalidade econômica e social.

 

A questão das drogas é somente o ponto de partida para resolver a superlotação e debelar os continuados massacres nos presídios.

 

Resgato aqui a opinião do advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que em artigo especial esta semana denunciou o exagero na quantidade de presos provisórios no país. Segundo ele, a prisão antecipada explica a barbárie de Manaus (ele ainda não sabia que outro massacre ocorreria 72 horas depois em Boa Vista).

 

No Brasil, cerca de 40% dos presos totais (250 mil) são provisórios, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

 

De nada ainda construir penitenciárias se a mente da velha mídia é pelo encarceramento, ou seja, pela retroalimentação de um sistema falido de aprisionamentos como se fosse um moto-perpétuo.

 

A prisão não pode e não deve ser o único remédio para desvios de condutas com baixo potencial de ofensa ao bem jurídico tutelável. Não faz sentido punir quem quer que seja de maneira desproporcional com o objetivo de “vingança” do cidadão que não se enquadra ao status quo ou ao establishment.

 

Não há uma evidência sequer de que a prisão transforma o homem e a mulher em seres humanos melhores. Pelo contrário.

 

O fim da prisão provisória e a descriminalização das drogas são medidas urgentes que baixariam a população carcerária para 232 mil presos.

 

Por que, então, as autoridades e a mídia não defendem esses dois pontos para solucionar de vez a crise da superpopulação presidiária? Simples: 1- covardia; e 2- negócios (para alguns poucos).

 

- Esmael Morais, jornalista e blogueiro paranaense, é responsável pelo Blog do Esmael, um dos sites políticos mais acessados do seu estado

 

6 de Janeiro de 2017

http://www.brasil247.com/pt/colunistas/esmaelmorais/273944/M%C3%ADdia-%C3%A9-covarde-o-suficiente-para-n%C3%A3o-discutir-a-despenaliza%C3%A7%C3%A3o-visando-esvaziar-pres%C3%ADdios.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/182696
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