Plano econômico de Trump busca revigorar indústria e ampliar investimento militar

Algo diferente do que foi realizado desde a ascensão do neoliberalismo pelo governo de Ronald Reagan (1981–1989) parece estar em movimiento.

17/02/2017
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Foto: Gage Skidmore/Flickr CC
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Pela administração do Partido Democrata nos Estados Unidos, conduzida pelo presidente Barack Obama entre janeiro de 2009 e janeiro de 2017, a globalização neoliberal seguiu sem entraves, ancorada na submissão nacional aos acordos de livre comércio entre distintos países. A estratégia era a de fazer frente ao avanço econômico chinês no mundo.

 

Naquele contexto em que no Brasil as viúvas do neoliberalismo bateram panelas contra a política externa altiva e ativa dos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores (2003 – 2016), de reorientação da inserção nacional e do comércio internacional para as regiões mais dinâmicas, não as decadentes como Estados Unidos e Europa. Os representantes do pensamento tupiniquim prisioneiro aos interesses das velhas potências mundiais defendiam internamente a adoção generalizada dos acordos de livre comércio, buscando prolongar o natimorto projeto Alca – Área de Livre Comércio das Américas, desde o governo Bill Clinton (1993-2001) até o de Bush filho (2001-2009).

 

A troca de comando dos Estados Unidos, do partido Democrata pelo Republicano, sob a direção do presidente Donald Trump, passou a apontar para outra estratégia econômica. A vitória eleitoral do diagnóstico do então candidato Trump de que a estratégia econômica adotada pelos governos anteriores de defesa da globalização neoliberal se mostrava negativa aos interesses majoritários dos Estados Unidos era, de certa forma, comparável aos argumentos expressos pelo candidato derrotado nas prévias realizadas no interior do Partido Democrata, senador Bernie Sanders. 

 

Neste início tumultuado do mandato Trump, o seu plano econômico começa a ganhar corpo. Dois são os seus componentes fundamentais dentro do objetivo maior de soerguer a economia estadunidense em novas bases.

 

Inicialmente, a inflexão na exposição competitiva do sistema produtivo ao exterior. Os indicativos da nova política comercial protecionista prevalecem pela orientação do abandono dos grandes acordos de livre comércio estabelecidos pela administração Obama.

 

Na sequência, a imposição de novos direitos sobre a aduana, com a taxação de produtos chineses (em até 45%) e mexicanos (em até 35%). Também a limitação à imigração se expressa por diferentes formas, inclusive com a construção de muro na fronteira com o México e na legislação de perseguição aos imigrantes ilegais.

 

Nesse sentido, a busca pelo revigoramento da produção nacional, ancorada na reindustrialização dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a geração de mais e melhores empregos aos trabalhadores do país.

 

O segundo componente do plano econômico de Trump assenta-se na nova política orçamentária. De um lado, o desencadeamento do programa de investimento em infraestrutura objetivando modernizar a base do sistema produtivo em conjunto com o fortalecimento das empresas e empregos nas construtoras do país. 

 

Para tanto, a recuperação na participação do setor público no total dos investimentos. Em 2015, por exemplo, o Estado respondia no investimento por somente 1,7% do PIB, enquanto no início dos anos de 1990 alcançava quase 2,8% do Produto Interno Bruto estadunidense.

 

De outro lado, a administração Trump aponta para a recomposição do conjunto da despesa pública, com aumento do gasto militar, dos atuais 3% para 6,5% do PIB e a diminuição dos serviços públicos civis, como na saúde, por meio de restrições ao programa Obamacare.

 

O ativismo fiscal de Trump parece ser ainda mais ampliado também pelo corte do lado da receita pública, com a redução em torno de 6% da arrecadação tributária federal anual. A contenção de impostos visa a substituir a despesa com educação pública pela maior disponibilidade de renda dos indivíduos para o autofinanciamento da educação privada. 

 

Obviamente que o programa econômico de Trump tem desafios consideráveis pela frente, que podem dificultar ou até mesmo inviabilizá-lo. De todo modo, algo diferente do que foi realizado desde a ascensão do neoliberalismo pelo governo de Ronald Reagan (1981- 1989) parece estar em movimento neste início de 2017.

 

- Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

 

17/02/2017

http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2017/02/o-plano-economico-de-trump

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/183608?language=es
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