Denúncia contra o PT é tentativa da PGR de retomar credibilidade no dia seguinte

06/09/2017
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Claramente uma tentativa de desviar o foco pós acidente dos áudios de Joesley Batista arrolando procuradores da República e Rodrigo Janot em quase um esquema para o acerto dos acordos da JBS, Janot viu o fim do mandato se acercando, e se o resultado de uma nova denúncia contra Temer vem sendo o de fracasso, decidiu despachar de última hora a denúncia contra Dilma Rousseff, Lula e petista por "organização criminosa".

 

"A denúncia apresentada nesta terça-feira (5/9) pela Procuradoria Geral da República parece uma tentativa do atual procurador-geral de desviar o foco de outras investigações, que também envolvem um membro do Ministério Público Federal, no momento em que ele se prepara para deixar o cargo", pontuou em nota o Partido dos Trabalhadores.

 

São acusados junto com os ex-presidentes da República, os ex-ministros Antonio Palocci, Paulo Bernardo e Guido Mantega; os ex-tesoureiros do PT, Edinho Silva e João Vaccari Neto, e a senadora Gleisi Hoffmann.

 

A peça de 230 páginas tenta convencer que os 14 anos de mandatos de Lula e Dilma foram estabelecidos com base em uma grande organização criminosa, tendo como uma das repercussões o esquema de corrupção deflagrado na Petrobras. Lula, Dilma e os ex-ministros não detêm de foro privilegiado. Mas em um aceno de suposta isonomia, Janot pede que eles sejam investigados na Corte Suprema, tendo consciência de que seus casos podem e devem retomar à primeira instância.

 

Qual Justiça Federal iria julgá-los? Uma vez acertado a tentativa de impessoalidade contra Dilma e Lula, Janot pede que outros investigados nos fatos fossem remetidos à 13ª Vara Federal de Curitiba, ainda que cada caso tenha supostamente ocorrido em uma jurisdição diferente, que tais apontados sejam todos julgados por Sérgio Moro, com a justificativa de "que sejam evitadas decisões contraditórias".

 

Seriam remetidos à Moro os investigados: Ricardo Berzoini, Jacques Wagner, Delcídio do Amaral, Giles de Azevedo, Erenice Guerra, José Carlos Bumlai, Paulo Okamotto e José Gabrielli. Rodrigo Janot propositalmente sabe que, uma vez aceito os pedidos para que Sérgio Moro julgasse os referidos, Lula, Dilma e os ex-ministros também seriam remetidos à Justiça de Curitiba.

 

"Não há fundamento algum nas acusações contra o Partido dos Trabalhadores. Desde o início das investigações da Lava Jato, o PT vem denunciando a perseguição e a seletividade de agentes públicos que tentam incriminar a legenda para enfraquecê-la politicamente. Esperamos que essas mentiras sejam tratadas com serenidade pela justiça brasileira, e terminem arquivadas como já ocorreu com outras denúncias sem provas apresentadas contra o partido", seguiu a nota do PT.

 

Também em resposta, Dilma alertou que "em apresentar provas ou indícios da materialidade de crime, o chefe do Ministério Público Federal oferece denúncia ao Supremo Tribunal Federal sem qualquer fundamento. Caberá ao STF garantir o amplo direito de defesa e reparar a verdade, rejeitando-a", completando: "A Justiça será feita e não prevalecerá o Estado de Exceção. Não há mais espaço para a Justiça do Inimigo."

 

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, também enfatizou que se trata de um "ataque ao Estado de Direito e a democracia". "Essa denúncia, cujo teor ainda não conhecemos, é mais um exemplo de mau uso das leis para perseguir o ex-Presidente Lula, que não praticou qualquer crime e muito menos participou de uma organização criminosa".

 

Todos conscientes de que o gesto de Janot no dia seguinte às notícias dos áudios de Joesley arrolando o Ministério Público como instituição, ferindo sua credibilidade, a defesa de Lula também ressaltou: "O protocolo dessa denúncia na data de hoje sugere ainda uma tentativa do MPF de mudar o foco da discussão em torno da ilegalidade e ilegitimidade das delações premidas no país."

 

O próprio ex-presidente emitiu comunicado: "É o auge da campanha de perseguição contra o ex-presidente Lula movida por setores partidarizados do sistema judicial. Foi anunciada hoje para tentar criar um fato negativo no dia em que Lula conclui sua vitoriosa jornada pelo Nordeste". 

 

O ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, disse que "continua confiando na Justiça brasileira e tem convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser rejeitadas". A denúncia, acrescentou o advogado Luiz Flávo Borges D'Urso, "é totalmente improcedente, pois o sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel, de solicitar doações legais destinadas ao partido".

 

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, lembrou o mesmo teor: "é uma denúncia sem qualquer fundamento, que busca criminalizar a política e o Partido dos Trabalhadores no mesmo momento em que malas de dinheiro são descobertas e membro do Ministério Público é envolvido em denúncias". 

 

"É no mínimo contraditório que num dia histórico, quando o Brasil se depara com a desfaçatez dos delatores, e sua disposição ao teatro e à dissimulação, a PGR resolva oferecer denúncia usando como prova basicamente palavra de delatores, antes de empreender uma apuração mínima para saber se as acusações possuem algo elo com a realidade", disse o advogado do ex-ministro Guido Mantega, Fábio Tofic Simantob.

 

Também ex-ministro e ex-coordenador financeiro da campanha de Dilma em 2014, Edinho Silva defendeu que "sempre agiu de forma ética e legal e que não tem dúvidas que todos os fatos serão esclarecidos e que a justiça vai prevalecer".

 

Mas mesmo após todas as defesas e personagens citados na denúncia manifestarem suas posições, de que a peça é uma tentativa de recuo, "retificação" ou desvio de foco por parte de Rodrigo Janot, o noticiário amanhaceu "alertando" que o PT iria assim se defender. "PT dirá que denúncia de Janot é gesto político para rebater versão de que ele persegue Temer", divulgou, de forma previsiva, o Painel da Folha de hoje. 

 

06/09/2017

http://jornalggn.com.br/noticia/denuncia-contra-o-pt-e-tentativa-da-pgr-de-retomar-credibilidade-no-dia-seguinte

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/187894?language=en
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