Delegado combatente da corrupção usava informação privilegiada da PF para extorquir
- Opinión
Ele não era de escrever muito nas redes sociais. Mas, em setembro de 2016, deixou claro suas escolhas políticas: ao lado de uma charge em que apareciam Dilma, Aécio Neves e outros, sentados numa mesa, com o povo disputando as migalhas de um banquete, o delegado escreveu: “Assim é o Brasil, onde o povo é o palhaço por sua própria escolha”.
E, no entanto, o delegado da Polícia Federal Mário Menin fez campanha nas redes sociais pelo candidato a vereador Chiquinho Scarpa, o “conde”, que teve pouco mais de 5 mil votos e não se elegeu em 2016.
Menin já chefiou a Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, tornou-se assessor direto do superintendente da PF em São Paulo e já havia ocupado o cargo na corregedoria, ou seja, foi encarregado de investigar colegas.
Agora, responde pela formação de organização criminosa, extorsão, usurpação de função e concussão –receber vantagens indevidas.
A juíza do caso decretou a prisão preventiva do delegado e de três comparsas alegando que eles podem interferir nas investigações.
Segundo o G1, “o grupo tinha informações privilegiadas de operações da Polícia Federal e se aproveitava da Lava Jato para ameaçar prefeitos e secretários. A alegação era de que essas vítimas poderiam ser alvo de futuras operações”.
Segundo a Folha, os valores extorquidos estariam em torno dos R$ 5 milhões.
Dentre as vítimas está o prefeito de Paulínia, Dixon Carvalho, do PP.
O jornal descreveu o delegado como “extremamente católico”.
Nas redes sociais, ele celebrou o 31 de março de 1964 como “o dia em que o Brasil disse não ao comunismo”.
Sua postagem mais recente, de um blog conservador, denunciava a TV Globo por supostamente abrir campanha “contra conservadores e religiosos”.
“Tem que ser extraditado mesmo”, escreveu ao compartilhar a notícia da prisão do italiano Cesare Battisti.
Postagens contra Che Guevara, o MST e Lula aparecem em sua página no Facebook.
O delegado reproduziu posts do MBL contra o evento do Museu de Arte Moderna de São Paulo em que um artista se apresentou nu.
Apesar da contradição, Mário Menin parecia defender ao mesmo tempo uma intervenção militar e o voto em Jair Bolsonaro.
“O STJ é a vergonha do Brasil”, diz um post que ele compartilhou sobre a condenação do deputado federal carioca, candidato ao Planalto, no caso envolvendo a deputada petista Maria do Rosário.
O trecho de um discurso do general Antonio Mourão, que falou na possibilidade de intervenção do Exército, mereceu atenção do delegado: no vídeo, Mourão diz que a economia brasileira entrará em colapso em 2022 por causa muitos direitos “concedidos” pela Constituição de 1988.
O delegado viajou um bocado. Esteve na Riviera, foi estudar em Taiwan e publicou fotos em vários lugares dos Estados Unidos. Foi condecorado pela Marinha em São Paulo. E se disse saudoso de um curso que teria feito na base do FBI em Quantico, na Virgínia.
Uma foto sugere que o delegado esteve em uma manifestação pelo impeachment de Dilma Rousseff na avenida Paulista.
Ele reproduziu um post do MBL comparando o “antes e o depois” de Dilma favoravelmente a Michel Temer.
“Combatente da corrupção”, ele agora responderá por tentar explorá-la para enriquecer.
12 de outubro de 2017