China apresenta relatório sobre violações aos direitos humanos… nos Estados Unidos
- Opinión
Soa hilário, mas todos os anos o Departamento de Estado do país que mais ataca outras nações no mundo divulga um relatório sobre direitos humanos no planeta. Sim, como se fosse o arauto da defesa dos direitos humanos, os Estados Unidos apontam o dedo sobre as violações dos demais países. Este ano, os maiores alvos foram a China e a Rússia, que segundo Donald Trump estão “desestabilizando” o mundo.
Este ano as críticas sobre o relatório vieram de todos os lados. A Anistia Internacional acusou o governo norte-americano de modificar suas palavras ao esconder que a entidade se referia à Arábia Saudita, parceira dos EUA, quando falou em ataques aéreos (o informe trocou Arábia Saudita por “algumas coalizões”). Aliás, o relatório limpa a barra dos sauditas também nos bombardeios ao Iêmen, cujas vítimas fatais foram, em sua esmagadora maioria (61%) civis, segundo a ONU.
A organização Human Rights Watch publicou uma sequência de tweets exibindo as omissões do relatório: a exclusão da expressão “direito reprodutivo”, utilizada desde 2012; a ausência dos feminicídios e os absurdos números da violência doméstica no Brasil; a proibição na Polônia de usar contraceptivos pós-coito até em casos de estupro; e a proteção do relatório às “nações amigas” como o Japão, onde foi denunciada a existência de trabalho escravo, homofobia e racismo.
The @StateDept's annual Human Rights Report published today contains massive omissions. https://www.state.gov/j/drl/rls/hrrpt/humanrightsreport/index.htm#wrapper …@hrw fills in some of the most critical gaps here:
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Enquanto passa a mão na cabeça dos parceiros, o governo Trump acusa uma série de países de violar os direitos humanos. China, Rússia, Irã e Coreia do Norte são acusados de serem “forças de instabilidade”. O dedo de tio Sam também aponta para a Síria, Venezuela, Turquia e Mianmar. “Países que restringem liberdades de expressão e de manifestação pacífica; que permitem e cometem violência contra membros de religiões, etnias e outras minorias; ou que atentam contra a dignidade das pessoas são moralmente repreensíveis”, escreveu o secretário John Sullivan no prefácio.
Acusada pelo secretário de disseminar as piores práticas autoritárias, “incluindo restrições a ativistas, à sociedade civil, à liberdade de expressão”, a China respondeu à altura, divulgando poucos dias depois seu próprio relatório sobre violações de direitos humanos… nos Estados Unidos. O informe, intitulado Relatório de Direitos Humanos nos EUA em 2017, foi publicado pelo Conselho de Estado chinês, e rechaça que o governo norte-americano se apresente como “guardião” e “juiz” dos direitos humanos quando falta muito a resolver neste âmbito em seu próprio quintal.
Um dos principais pontos do relatório são os conflitos interraciais, o racismo institucionalizado e a violência policial contra negros nos EUA. A China aponta, por exemplo, que os réus afrodescendentes recebem sentenças 19,1% maiores que os brancos em situações similares. Casos como o de Eric Garner, “acusado” de vender cigarros contrabandeados e morto após levar uma gravata dos policiais brancos de Nova York que o cercavam, se tornaram frequentes contra negros. O crime de Eric? Negar que vendia os tais cigarros.
O governo chinês também critica as deficiências do sistema “democrático” dos EUA, citando pesquisas acadêmicas cujos entrevistados afirmam que a democracia no país está “se afogando em dinheiro”. A desigualdade crescente no país mais rico no mundo não foi esquecida no relatório da China. Mais de 40 milhões de estadunidensesvivem hoje na pobreza, e metade deles na pobreza extrema, de acordo com os números oficiais. Os Estados Unidos também são campeões em pobreza infantil.
E o que dizer das violações aos direitos humanos praticadas pelos EUA nos países dos outros? Segundo a revista Mother Jones, o governo Trump bombardeou na Síria pelo menos 12 escolas, 15 mesquitas, 15 pontes, áreas residenciais, hospitais, locais históricos e acampamentos de refugiados. Sobre Guantánamo, o relatório chinês ecoa a ONU e outras organizações de direitos humanos que questionam o “buraco negro legal” que virou esse território cubano, transformado em cárcere política dos EUA desde o atentado de 11 de setembro.
Com informações da Xinhua e da Telesur
30 de abril de 2018
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