Lucro e reputação nos resultados das gigantes tecnológicas
- Opinión
Nesta era em que quase toda atividade comercial tem uma importante dimensão tecnológica, é possível, ainda, referir-se a empresas “tecnológicas”? O conjunto dos resultados financeiros divulgados nos últimos dias é um caso apropriado.
Os mercados vão ouvir falar no Spotify, que vende publicidade e música, no Twitter, Google e Facebook, que empregam uma ampla série de técnicas para vender publicidade ou, em alguns casos, dados pessoais, e na Amazon, que vende, bem... de tudo.
É cada vez mais difícil colocar sob o mesmo manto um grupo de companhias tão diferentes. Elas têm coisas em comum, porém. Todas cresceram rapidamente e se tornaram nomes conhecidos. Todas aproveitaram a tecnologia para perturbar indústrias tradicionais ou criar novas.
Todas agradeceriam a oportunidade de falar sobre fortes resultados financeiros ao longo da próxima semana, em vez de questões éticas ou regulatórias. O Facebook, provavelmente, tem mais motivos para querer mudar o rumo da cobertura jornalística e da pauta dos políticos.
Sua atitude em relação aos dados de usuários continua firmemente sob os holofotes depois do escândalo da Cambridge Analytica, enquanto seu executivo-chefe, Mark Zuckerberg, passou a maior parte do tempo a explicar por que a rede social não proíbe a negação do Holocausto. Será muito mais fácil, certamente, receber aplausos dos investidores depois de apresentar os números do segundo trimestre na quarta-feira 25.
O Facebook domina cada vez mais o mercado de publicidade online, algo que, segundo analistas da Jefferies, não dá sinais de arrefecer. Suas ações se recuperaram das perdas causadas pelas preocupações sobre a privacidade dos usuários, e a Jefferies reconhece que o aumento das vendas e o maior potencial para publicidade em vídeo do que o Instagram continuará a mover a rede para a frente.
Os números do segundo trimestre da Amazon saem na quinta-feira 26, com a gigante do varejo a seguir firme. O banco JP Morgan faz da empresa uma de suas ações preferidas, prevendo receitas maiores que as expectativas em quase 54 bilhões de dólares. Esse será mais um dia de destaque para o fundador, Jeff Bezos, chamado recentemente de o homem mais rico do mundo na história moderna, com um patrimônio líquido estimado em 150 bilhões de dólares.
Os funcionários da Amazon, alguns dos quais disseram que dormem em barracas para economizar dinheiro ou pulam as idas ao banheiro para evitar atos disciplinares, podem estar ligeiramente menos encantados.
O Twitter relatará na sexta-feira 27 e deverá acumular seu terceiro lucro seguido. Em algum ponto deste ano, é provável que anuncie uma queda acentuada no número de usuários, depois de um expurgo de contas falsas, parte de uma iniciativa para lidar com o que alguns jovens modernos chamam de fake news.
O elevado número de usuários tende a sustentar altas receitas de publicidade, por isso a perspectiva de queda causou tremores nas ações recentemente, mas o efeito do expurgo só vai aparecer no próximo trimestre, disse o diretor financeiro do Twitter no início do mês.
Nenhuma companhia tecnológica recebeu um golpe maior recentemente do que a Google, por causa de uma multa recorde de 4,3 bilhões de dólares imposta pela União Europeia por usar seu sistema operacional de telefone Android para cimentar seu predomínio nas buscas de internet. Embora enorme, a multa é coisa pouca para a matriz da Google, Alphabet, que tem mais de 100 bilhões de dólares de reservas em caixa.
Enquanto o litígio continua preocupante, a Alphabet mostrou que seus horizontes vão além do Google, ao se espalhar para áreas lucrativas como os planos de saúde. Os investidores certamente observarão de perto seus números de investimento, mas ela foi um ator financeiro consistente e não se esperam grandes surpresas nos números do semestre na segunda-feira 30.
Se o Google é o velho carvalho sólido das ações tecnológicas, a Spotify é um pinheirinho depois de sua oferta inicial inconvencional, mas bem-sucedida, no início deste ano. Apesar de nunca ter dado lucro, suas ações subiram desde então, com investidores atentos ao enorme potencial de crescimento do streaming de música, onde a Spotify domina.
Analistas preveem um constante crescimento de receitas nos resultados de meio do ano na quinta-feira 26, acreditando que possa imitar a ascensão da Netflix no mundo paralelo de filmes e tevê, desde que não seja vítima de uma reação dos grandes selos.
- Rob Davies, The Observer
01/08/2018