Com governo de esquerda, economia deve acelerar em 2019

24/08/2018
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Não há muito mais a dizer sobre o fracasso da experiência neoliberal que marcou a política econômica brasileira desde a posse de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda em 2015, atravessou toda a gestão de Henrique Meirelles e se arrasta até agora. Os números são eloquentes e em qualquer direção que se mire são trágicas as marcas da desconstrução.

 

Mas o ano de 2019 tem tudo para inaugurar um novo ciclo de crescimento e, com ele, criar as condições para que um governo de esquerda – oxalá agora depurado das ilusões mercadistas da experiência anterior – engate uma etapa de reencontro do país com o desenvolvimento social e econômico. Depois de tanto breu, as reviravoltas da política e da economia começam a pavimentar um caminho que, se percorrido com ousadia e lucidez, tem tudo para ser exitoso. Senão, vejamos:

 

1) A desvalorização cambial dos últimos meses, fruto da combinação entre o cenário externo, os equívocos do manejo da taxa de juros pelo BC e o medo de uma vitória de Lula, abre um espaço importantíssimo para as nossas exportações de melhor qualidade. Nos setores produtores de bens de capital e da indústria de base, a melhora da demanda externa já tem produzido impactos muito positivos. As exportações de bens de capital cresceram 17% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2017 e, por consequência, o consumo de aço neste segmento da indústria já avançou 6,1% na mesma comparação interanual;

 

2) Há ainda uma grande capacidade ociosa no setor industrial, o que significa que ante uma retomada abrupta da demanda (interna e externa) há condições de atendê-la de imediato, criando novos empregos sem produzir uma elevação dos custos de produção. Isto é, há espaço para um rápido aquecimento da atividade sem qualquer ameaça sobre a estabilidade dos preços;

 

3) A taxa Selic está em um patamar relativamente baixo e, diferente do que foi feito por Palocci em 2003, não parece razoável imaginar que desta feita, depois de quatro anos de depressão econômica e com a inflação estacionada abaixo do centro da meta, o novo governo viesse jogar água na fervura elevando novamente os juros;

 

4) A queda da participação do crédito total no PIB (de 56% em 2014 para 46% em 2018) abre espaço para ampliação do endividamento de empresas e famílias, impulsionando os investimentos e o consumo;

 

5) A respeito dos investimentos, cuja taxa se encontra no mais baixo patamar da história, há boas razões para imaginar uma rápida elevação, associada aos seguintes fatores: a) uma adequada reorientação das modalidades de crédito dos bancos públicos, com taxas mais baixas e prazos mais longos; b) uma provável perspectiva otimista do setor empresarial quanto ao comportamento da demanda no horizonte de médio prazo; c) a depreciação de capital represada pelos anos de crise; d) o retorno dos gastos públicos em um amplo pacote de infraestrutura (são quase 8 mil obras públicas paralisadas pelo governo Temer);

 

6) Já no que tange ao consumo, seja porque se anuncia – pelos planos de governo à esquerda! - um grande programa de refinanciamento (via bancos públicos) das dívidas das famílias inadimplentes, seja porque há um consumo reprimido associado à crise e ao desemprego, é de se esperar que possa constituir um importante fator de propulsão da economia em um primeiro momento, assim como se verificou durante os primeiros anos da presidência de Lula;

 

7) Outro fator que poderá servir de estímulo à expansão da demanda doméstica é a necessária reforma de nosso sistema tributário, adotando medidas que levem a uma maior progressividade do sistema. A proposta (já quase consensual em boa parte da sociedade brasileira) de reduzir a carga de tributos que recaem sobre os mais pobres e compensá-la cobrando impostos sobre os dividendos e sobre as rendas mais altas tende a ampliar a renda disponível daqueles que possuem uma maior propensão ao consumo, conferindo dinamismo ao segmento produtivo dos chamados bens-salários;

 

8) Por último, uma vez desmontada a armadilha recessiva a que nos levou o receituário dos economistas ortodoxos, as contas públicas deverão se recuperar rapidamente (já que a elasticidade das receitas fiscais é maior, abrindo espaço para a expansão dos gastos sociais e assim retroalimentando o ciclo econômico via consumo e emprego). Além disso, a se manter uma trajetória de redução da taxa básica de juros, o peso dos serviços da dívida deverá diminuir gradualmente nos próximos anos, liberando receitas para fins mais nobres, como por exemplo a expansão dos investimentos públicos.

 

Noves fora, a questão chave é, portanto, política. O que vai ser da economia brasileira no ano de 2019 depende fundamentalmente da escolha de um presidente comprometido ou não com uma agenda de desenvolvimento e de resgate da cidadania. Apesar das turbulências internacionais, dos estragos provocados pelo governo golpista de Temer e da tibieza de nosso atual parque produtivo, temos claras condições de superar a atual crise e seguir por uma trajetória econômica mais virtuosa, socialmente mais justa e democrática.

 

24/08/2018

https://fpabramo.org.br/2018/08/24/com-governo-de-esquerda-economia-devera-acelerar-em-2019/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/194933?language=en
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