A quem interessa o fim do Mais Médicos?
- Opinión
A interrupção da cooperação técnica entre a organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o governo de Cuba, que possibilitava o trabalho de cerca de 8.500 médicos no Programa Mais Médicos, terá como consequência mais de 29 milhões de brasileiros desassistidos. Os cubanos representam, atualmente, mais da metade dos médicos do programa.
Dos 5.570 municípios do país, 3.228 (79,5%) só têm médico pelo programa. Sendo a maioria nas áreas mais vulneráveis: Norte do país, semiárido nordestino, cidades com baixo IDH, saúde indígena, periferias de grandes centros urbanos. 90% dos atendimentos da população indígena são feito por profissionais de Cuba. 1.575 municípios só possuem médicos cubanos do Programa, sendo que 80% desses municípios são pequenos (menos de 20 mil habitantes) e localizados em regiões vulneráveis.
Os locais onde os cubanos atuam foram oferecidos antes a médicos brasileiros, que não aceitaram trabalhar: em cinco anos de Programa, nenhum edital de contratação de médicos brasileiros conseguiu contratar essa quantidade de profissionais. O maior edital contratou 3 mil brasileiros.
Entre os brasileiros do Programa a rotatividade é alta devido às desistências. Os médicos cubanos garantem maior permanência nas equipes de saúde da família estão inseridos.
O “Mais Médicos” é amplamente aprovado pelos usuários, 85% afirma que a assistência em saúde melhorou com o programa. Prefeitas e prefeitos têm dificuldade de contratar e fixar profissionais no interior do país e na periferia das grandes cidades.
Os médicos cubanos atuam na atenção primária e na prevenção de doenças, têm um perfil de atendimento resolutivo e humanizado, lembrando que 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção primária. Portanto, a interrupção da cooperação com o governo de Cuba, vai aumentar as demandas por atendimentos nas redes de média e alta complexidade, além de agravar as desigualdades regionais.
No Rio Grande do Sul são 617 médicos cubanos atuando e a saída destes médicos, aliados ao caos na saúde criado pelo governo Sartori que tem uma dívida com municípios e hospitais, vai agravar mais ainda a situação, colocando em risco a vida da população.
Sobre as falsas polêmicas levantas para confundir o povo
Os médicos cubanos foram avaliados quando chegaram aqui, em 2013, por sua fluência no Português e em questões de Medicina. Foram avaliados por professores e preceptores de medicina, na maioria de universidades federais.
Os médicos cubanos que vieram para o Brasil são funcionários de carreira do Ministério de Saúde cubano; continuam recebendo seus salários e tem seus postos de trabalho garantidos, com todos os benefícios da carreira lá em Cuba. O dinheiro que recebiam aqui se tratava de uma ajuda de custo, por estarem cumprindo com o que em Cuba chamam de missão internacionalista; nunca foi salário.
Cuba faz cooperação com 66 países em todo o globo. Na maioria dos países que faz parceria, Cuba envia médicos e medicamentos DE GRAÇA. Isso aconteceu em Angola, no Nepal, Haiti, Congo, e tantos outros países pobres do Mundo. Quem arca com os custos? O próprio governo cubano.
O Ministério da Saúde brasileiro, ao invés de dialogar com governo Cubano para manutenção dos Mais Médicos, informou que está abrindo editais para selecionar médicos para colocar no lugar dos cubanos. Sabe-se que a maioria dos médicos brasileiros não aceitará trabalhar no Programa.
A saída dos médicos cubanos do Brasil vai gerar desassistência à população mais vulnerável. Ela serve aos interesses corporativos, é reserva de mercado, o que, por óbvio, vai onerar mais ainda os municípios, já sobre-carregados porque os recursos para saúde federais estão congelados por 20 anos e sofreram cortes. E m 2018, no RS, segundo a FAMURS, a dívida com os municípios para manutenção de serviços é de R$ 500 milhões.
Vidas correm risco!
Nossa tarefa e se somar com prefeitos, secretários de saúde, sociedade civil e comunidades afetas para reverter esta situação que é um atentado a vida do povo pobre.
- Nelci Dias Enfermeira, mestra em Saúde Coletiva.
novembro 16, 2018
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