O lugar que a extrema-direita quer para a mulher. Ou: fotografaram o patriarcado
- Opinión
A imagem que causou furor nas redes sociais no final de semana tinha como protagonistas o deputado estadual Amauri Ribeiro, do PRP, aliado do governo Jair Bolsonaro, e a esposa, Christiane, sentada em seu colo em plena Assembleia Legislativa de Goiás durante a posse dos novos parlamentares. Segundo Ribeiro disse depois, ele teria colocado a mulher sobre as pernas para ceder espaço a uma senhora. Que seja. O simbolismo da cena com a visão que a extrema-direita tem da mulher é inegável.
Até bem pouco tempo atrás tínhamos uma mulher sentada na cadeira da presidência da República. Hoje temos uma mulher sentada no colo do marido deputado. Fato. Em menos de três anos, decaímos de existir no Brasil uma mulher protagonista mundial, entre as mais poderosas do planeta, para a posição subalterna de primeira-dama nos anos Temer e Bolsonaro. Lugar de mulher é a reboque (no colo?) do homem, é essa a mensagem que a foto traz. Fotografaram o patriarcado.
Detalhe: o político que colocou a mulher no colo foi acusado pela própria filha, em 2015, de espancá-la, quando era prefeito de Piracanjuba (GO). “Tenho três filhas e me acho um bom pai, não bato, no máximo dou um tapa na boca, não sou de espancar meus filhos nem muito menos minha esposa. As fotos são verdadeiras, minha filha tomou um corretivo, e não me arrependo”, disse Ribeiro na época. Ele também declarou que não se arrependia de ter colocado a mulher no colo.
Na extrema-direita, o tipo de mulher que se senta no colo é bem-vinda, assim como são bem-vindas as parlamentares mulheres que herdaram seus mandatos de maridos e pais; são bem-vindas as mulheres que atacam o feminismo; e são bem-vindas as mulheres que se tornam inimigas das outras para agradar os homens. Mulher que recusa se prestar a este papel é xingada, caluniada, agredida. Quem não lembra o que fizeram com Dilma por ousar ser uma mulher que não aceitava ser subjugada por ninguém?
Dilma foi xingada de tudo quanto é palavrão, sempre relacionados à sua condição de mulher: “vaca”, “puta”, “gorda”, “quenga” . Zombaram dela em incontáveis vídeos, como se fosse burra. Chegaram a confeccionar um adesivo em que a presidenta do Brasil aparecia de pernas abertas para colocar no tanque de gasolina do carro. Empossada para seu segundo mandato, Dilma foi comparada a um bujão de gás pela forma como estava vestida –inclusive por mulheres. O patriarcado não admite mulher que não senta em colo de homem.
Agora temos uma ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (sic) que defende que a mulher não trabalhe fora, que fique em casa para cuidar dos filhos e que tenha um marido que “lhe encha de joias”. De preferência sentando no colo do sinhô no final da tarde, quem sabe? Temos um presidente que se refere à própria filha, única mulher, como resultado de uma “fraquejada”. E que não se furtou em chamar para sua equipe de transição um homem com três denúncias na Maria da Penha nas costas.
A definição que Marcella Temer deu a si mesma é quase uma regra de como a extrema-direita quer a mulher: “bela, comportada e do lar”. A mulher que não se enquadrar neste perfil nos anos Bolsonaro será submetida a todo tipo de violência verbal, virtual e real. O exemplo vem de cima. E o exemplo que estão dando é que mulher só serve se sentar, quietinha, no colo do marido, concordando com tudo o que ele diz. Senão…
04 de fevereiro de 2019
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