De dom João VI a Trump, o nosso eterno beija-mão

21/03/2019
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A foto feita pelo cronista social Ibrahim Sued, em 1946, do beija-mão realizado pelo ex-ministro das Relações Exteriores Otávio Mangabeira quando da visita do general Eisenhower ao Brasil é o melhor retrato da subserviência da elite brasileira aos Estados Unidos.

 

Pouco antes de tomar posse, o próprio ex-capitão Bolsonaro, num ato vergonhoso, prestou continência ao assessor de Donald Trump, John Bolton. Agora, nesta rápida viagem a Washington, Bolsonaro levou o país de volta ao passado de bajulações ao império norte-americano. Entregou de mão beijada a base de Alcântara, no Maranhão, e, pasmem, a biodiversidade da região amazônica. Ali se encontra uma quantidade incalculável de plantas medicinais que vão ser exploradas pelas multinacionais farmacêuticas americanas. As novas descobertas irão virar remédios vendidos para nós, brasileiros, com a cobrança de royalties decorrentes do processamento de nossas próprias plantas.

 

Aliás, royalties é um termo que vem bem a calhar. Ele é derivado da palavra inglesa "royal" que quer dizer "aquilo que pertence ao rei". E é bem isso o que está acontecendo com o nosso país, estamos entregando nossas riquezas e a nossa soberania ao colonizador num novo modelo de Brasil colônia.

 

As visitas realizadas por Bolsonaro e por sua equipe à CIA é algo pra lá de preocupante. A Central de Inteligência norte-americana é historicamente conhecida pelas ações de ingerência nos países considerados de interesse econômico e estratégico. É só rever alguns livros de história para ver como a CIA influiu nos golpes de Estado em todo o mundo. Como colocaram e tiraram do poder ditadores como Saddam Hussein, Anastasio Somoza, Ferdinando Marcos e Augusto Pinochet.

 

Recentemente a CIA foi responsável pela espionagem de presidentes e chefes de Estado em várias partes do planeta. Em 2013 Dilma Rousseff chegou até a cancelar uma visita ao então presidente Barack Obama por falta de uma explicação da CIA às atividades de interceptação de mensagens e conversas telefônicas da ex-presidente com seus ministros de Estado e de executivos da Petrobras. Hoje está mais do que claro que ainda no governo dos democratas a CIA agia com interesse no pré-sal e na queda de Dilma Rousseff.

 

O presidente Bolsonaro deve uma explicação aos brasileiros dessa sua visita ao maior centro de espionagem do mundo. Foi como apenas um admirador da CIA, que Hollywood nos vende em suas séries e filmes na Netflix, ou tem questões mais sérias e de interesses que passam longe dos nossos? Seria, por acaso, algo ligado a um plano de intervenção em países da América Latina e não só na Venezuela?

 

Grave também foi a maneira como Trump praticamente insuflou o nome do deputado Eduardo Bolsonaro, tratando-o como se fosse, na prática, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil, fato que levou o atual chanceler, Ernesto Araújo, a ter um chilique por não ter sido incluído na reunião privada no Salão Oval da Casa Branca.

 

Ao que parece, Trump tem projetos maiores para o clã, talvez fazer dos filhos do ex-capitão uma dinastia que dure algumas décadas no poder com total subordinação aos americanos do norte. Talvez o ideólogo do clã, o astrólogo Olavo Carvalho deu a deixa quando abriu suas baterias contra o general Hamilton Mourão. O vice-presidente leva jeito de ser bem mais difícil de ser manipulado pelos agentes da CIA. Melhor para eles é ficar tudo como está na terra Brasilis, com milicianos e com tudo.

 

- Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia

 

20 de Março de 2019
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/387489/De-dom-Jo%C3%A3o-VI-a-Trump-o-nosso-eterno-beija-m%C3%A3o.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/198852
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