98 anos de Paulo Freire: uma educação problematizadora na pedagogia popular
- Opinión
Foi iniciado no segundo semestre de 2019 o projeto “Sim, eu posso”, uma ação educativa para alfabetização de 375 jovens e adultos organizados em 15 turmas escolares das comunidades periféricas de Natal (RN) e região metropolitana. O objetivo é concluir a primeira etapa do processo de alfabetização este ano para, em 2020, expandir as ações para outras localidades do território potiguar, cujo índice de analfabetismo é de 14%.
O “Sim, eu posso” é uma prática já consolidada no Setor de Educação do Movimento Sem Terra e, neste período, conta com a parceria do Levante Popular da Juventude e do coletivo Amélias: mulheres do Projeto Popular.
Para a execução do projeto, esses três agentes têm como proposta educativa o sistema Paulo Freire e o método cubano de educação, utilizados com êxito na erradicação do analfabetismo em diversas cidades brasileiras. A junção dessas duas filosofias tem possibilitado a criação de novas estratégias de ensino e aprendizagem, proporcionando aos educandos e educadores melhor aproveitamento dos seus conhecimentos e, consequentemente, resgatando as expectativas sobre a construção de processos humanizadores e de superação da precarização da vida, realidade latente das comunidades periféricas.
O surgimento dos movimentos populares com atuação nos processos educacionais das camadas mais pobres é resultado de um histórico de negação dos direitos sociais básicos, como educação, saúde, moradia e segurança. Entre as ações desses movimentos em meados do século XX, teve destaque Paulo Freire, cuja proposta educativa era construir uma estratégia de ação alfabetizadora que ampliasse a participação política dos educandos a partir da discussão crítica dos problemas sociais locais.
Para isso, é necessária a adequação da linguagem dos educadores para uma melhor comunicação com as classes populares e maior integração entre os sujeitos envolvidos nas ações educativas. No livro Educação e Atualidade Brasileira, Freire apresenta a importância de a educação estar vinculada à politização dos setores mais pobres. Isso constrói uma ação problematizadora, conscientizadora e libertadora, atribuindo um caráter contestador aos movimentos populares mediante a superação das contradições sociais.
Uma educação voltada para a problematização da realidade pode forjar uma força social de modificação das situações de desigualdades, pois revela a realidade opressora e estimula à reflexão sobre a necessidade de participação e do pensamento crítico. Baseados nos pressupostos da ação dialogal, trabalha-se no “Sim, eu posso” a partir da relação entre teoria e prática.
- Ramiro Teixeira é professor de Sociologia e integrante do setor de formação do MST/RN.
Edição: Isadora Morena