As ações contra o Facebook e as lições do caso Microsoft
Até que fosse contida, a Microsoft liquidou um enorme universo de empresas criativas.
- Opinión
A ação aberta pelos órgãos de controle americanos contra o Facebook marca uma nova etapa no padrão de capitalismo das últimas décadas.
Desde os anos 70, tornou-se vitoriosa a ideologia da escola de Chicago, de que monopólios e oligopólios não seriam necessariamente nocivos ao mercado. Primeiro, por possibilidades maiores ganhos de escala. Depois, pelo fato de que as novas características do mercado – disponibilidade de capitais, novas tecnologias, novos modelos de negócios – manterem os oligopólios sempre sob controle. Ou seja, o medo de que surgisse um novo concorrente do nada os faria lutar para preservar clientes, mais do que preservar mercados.
Esse modelo produziu as bigtechs, as novas empresas gigantes da economia, com um poder só igualado, anteriormente, pela Standard Oil. Mesmo ela, após uma boa temporada de atuação sem limites, acabou enquadrada devido ao balanço dos prejuízos trazidos à economia, com a eliminação da concorrência.
Quase um século depois, repetiu-se a saga com a Microsoft, apanhada em pleno vôo por um processo na União Européia, por práticas anti-concorrenciais.
Até que fosse contida, a Microsoft liquidou um enorme universo de empresas criativas, atraídas pelas possibilidades abertas pela microeletrônica.
No início da revolução da microinformática, o mercado de redes era dominado pela Novel. No campo dos aplicativos de escritórios, havia a Lotus, com seus aplicativos de editor de textos, planilha e apresentação, Os aplicativos de escritório tinham, ainda, produtos extremamente funcionais da Boreland.
Mas a Microsoft tinha a força, o controle do sistema operacional que alimentava a maior parte das máquinas do planeta. Primeiro, o DOS. Depois, quando desenvolveu o Windows, baseado em pesquisas da Xerox, montou uma política que esmagou um a um os concorrentes, devido às dificuldades de adaptar seus aplicativos para a nova linguagem.
O monopólio tornou a Microsoft preguiçosa. Reduziu o nível de inovação de seus produtos. A atualização do Windows e dos demais programas era uma encrenca periódica e não havia um canal que permitisse ouvir os usuários e providenciar programas mais funcionais.
A preguiça custou caro. Graças ao Windows, nos primórdios da Internet conseguiu desbancar o Netscape como navegador. Praticamente foi sua ultima vitória.
O acomodamento fez com que perdesse o bonde das comunicadores, apesar do seu Messenger que dominava amplamente o mercado ao lado do ICQ. Perdeu o mercado dos e-mails, apesar do pioneiro Hotmail. Conseguiu matar um concorrente muito superior ao seu Outlook, o Lotus Notes. E viu novos concorrentes montando aplicativos online a partir dos navegadores, sem necessariamente utilizar o sistema operacional da Microsoft – uma previsão feita pelos criadores do Netscape, mas que não tiveram fôlego para levar adiante.
O acomodamento fez com que perdesse o mercado dos navegadores para o Google Chrome; que não conseguisse segurar o crescimento explosivo da Apple e de seu próprio sistema operacional. Perdeu o bonde das redes sociais, apesar dos ensaios em torno do Hotmail. E, finalmente, perder o bonde dos aplicativos doe celulares para o Google Chrome. Entrou atrasada no mercado de aplicativos de web, no de músicas.
Poderia ter tido o mesmo destino da HP, um furacão de criatividade que se perdeu no tempo. Conseguiu se reinventar, mas perdendo o domínio anterior. Consultado sobre a ação contra o Facebook, Bill Gates foi sincero: atribuiu ao processo da União Europeia o fato da Microsoft ter perdido o bonde dos sistemas para celulares.
Agora, com a ação em cima do Facebook, obrigando-o a vender o Instagram e o WhatsApp, haverá uma pesada guerra judicial. Mas abre-se o espaço para que surjam novos campeões, tendo na criatividade e na inovação o ponto central.
11/12/2020
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