Bolsonaro em Nuremberg ou Jerusalém?

O projeto de extermínio da população através de uma Pandemia não é uma exclusividade sua.

23/03/2021
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Primeiramente, será em Haia. Se o Tribunal de Crimes contra a Humanidade faz jus ao seu nome, esse indivíduo deverá ser julgado como um criminoso de guerra e genocida. Mas não nos enganemos: seu pacto se dá com diferentes linhas extremistas de direita ao redor do mundo. Embora a Extrema Direita esteja isolada mundialmente através de figuras como Le Pen (França), Viktor Orbán (Hungria) ou Petri (Alemanha), na América do Sul, estas correspondências ideológicas nazifascistas tem o Brasil como maior referência neste momento.

 

A Extrema Direita avança, mas na contramão, os Movimentos Populares crescem: Chile luta por sua nova Constituição e Bolívia reverteu o golpe de 2019 em uma virada surpreendente através de Luís Arce. No Equador e Argentina, movimentos de trabalhadoras(es) e indígenas direcionam pautas a seus parlamentos, assim como processos eleitorais em curso. Internamente, o Brasil segue cada vez mais isolado no campo das Relações Internacionais.

 

Hannah Arendt, filósofa e escritora, nos deixou um legado importante para refletir sobre este conturbado início de século (que aliás, está fazendo uma repetição histórica agonizante) sobre o advento do Totalitarismo não apenas como um fenômeno homônimo ao conservadorismo, mas uma característica peculiar das ditas democracias liberais. Ou seja, o grande capital – e sobretudo a indústria farmacêutica neste momento – criaram uma verdadeira “guerra mundial das vacinas”. Enquanto milhares de pessoas morrem ao redor do mundo e o Brasil se torna o epicentro global da Pandemia, a disputa dos laboratórios continua aquecida. Quem terá hegemonia sobre o controle do vírus? Este era o componente social e econômico que faltava ao genocida: Bolsonaro sempre foi um defensor do “controle de natalidade” e “redução populacional” e chegou a falar publicamente que a “ditadura militar matou pouca gente e deveria ter matado mais”.

 

O projeto de extermínio da população através de uma Pandemia não é uma exclusividade sua. Nas guerras coloniais do século XX, qual o objetivo das ‘metrópoles’ europeias sobre Ásia e África? Culturas foram dizimadas para que outras formas de “organização social” fossem “criadas” para servir aos interesses do espólio de riquezas das regiões ocupadas. Portanto, o genocida pode ser útil – através das forças fascistas instaladas no governo – para segmentos do capital estrangeiro interessados em intervir através de empresas que estejam interessadas em “reconstruir” o país. Estou tratando de um cenário caótico à curto e médio prazo. Por exemplo, qual era o interesse de Washington na instabilidade do governo da Líbia com a deposição de Kadafi? O que aconteceu com a soberania de países como Iraque e Afeganistão após sucessivas incursões militares em seus territórios promovidas por EUA e Europa?

 

Em 2018, Bolsonaro conseguiu apoio de uma parte da comunidade judaica do estado do Rio de Janeiro, embora não haja um apoio generalizado ao mesmo, justamente por suas inclinações racistas/xenofóbicas e, consequentemente, sua defesa na mudança da embaixada brasileira em Israel. Claro, esse jogo político não é gratuito: o atual premiê israelense é simpatizante de Bolsonaro e sabemos o que Jerusalém pensa dos acampamentos palestinos (com idosos, mulheres e crianças) ainda fora das estatísticas de vacinação. As estratégicas de morticínio de parcelas da população são similares.

 

Tal qual o general hitlerista Eichmann que foi condenado no Tribunal de Nuremberg após a queda do III Reich, o mesmo destino será dado a família Bolsonaro por ter contribuído com o mergulho do estado brasileiro no espectro autoritário, fascista, negando liberdade de expressão e perseguindo seus “inimigos imaginários” sob alegação de Lei de Segurança Nacional.

 

Mas não devemos esquecer que o fascismo também é, historicamente, autofágico. O Brasil está sendo destruído institucionalmente e não sabemos o que virá. É chegada a hora de colocarmos nossas máscaras (pela vida!) e irmos às ruas em uma frente popular, única e ampla. E eu vejo uma América Latina que se levanta cada vez mais!

 

- Paulo Milhomens é historiador e sociólogo, Universidade Federal do Amapá

https://orcid.org/0000-0003-2171-4494

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/211494
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