Eleições primárias do PSUV reafirma um partido popular de bases
Na Venezuela praticamente todos os anos tem eleições, nos últimos 20 anos ocorreram 25 processos eleitorais no país, a eleição de 21 de novembro será a de número 26.
- Opinión
Foi no entardecer de 1 de junho nas montanhas do Parque Nacional Waraira Repano, dentro das instalações do Hotel Humboldt em Caracas, que o presidente Nicolás Maduro Moros junto a Direção Nacional do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) e da Juventude do Partido Socialista Unido de Venezuela (JPSUV) anunciou que o partido iria decidir nas bases em eleições primárias os candidatos e candidatas da Revolução Bolivariana para as “megaeleições” de 21 de novembro. Megaeleições porque nesse processo eleitoral serão eleitos governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Antes essas eleições aconteciam separadamente. A data escolhida para as festejadas eleições primárias do PSUV foi 8 de agosto.
O presidente Nicolás Maduro indicou uma comissão eleitoral liderada pelo vice-presidente do PSUV, atual deputado da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello Rondón. Essa comissão tinha a tarefa de elaborar a metodologia que seria utilizada para que as bases pudessem indicar quais seriam os candidatos e as candidatas que disputariam as primárias do partido. E a metodologia escolhida foi que as Unidades de Batalha Bolívar Chávez (UBCh) seriam o epicentro, de onde sairiam os candidatos e candidatas.
Mas o que é uma UBCh? As UBCh’s são uma unidade, chamada Unidade de Batalha Bolívar Chávez (UBCh), são os núcleos de base do PSUV nos centros eleitorais, em cada centro eleitoral do país existe uma UBCh. Cada UBCh tem um coordenador ou coordenadora e responsáveis por setores de trabalho. As UBChs agrupam os líderes locais, de base, das comunidades. Essas UBCh’s não realizam o trabalho de base apenas nos processos eleitorais, o trabalho de base é permanente. As mesmas pessoas que estão nas UBCh’s são responsáveis pela distribuição das cestas básicas de alimentação dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs), são quem organizam a distribuição do gás subsidiado nas comunidades, são quem organizam casas de alimentação, são lideranças das Comunas e movimentos sociais, são quem organizam ações de solidariedade nas comunidades de forma permanente, são quem engrossam as fileiras da Milícia Nacional Bolivariana, ou seja, não aparecem somente em processos eleitorais, estão em contato permanente com as bases, porque são as bases do PSUV, são as bases do chavismo que defendem a Revolução Bolivariana.
Além de contar com 14 mil 381 UBCh’s distribuídas em todo território nacional. O PSUV também conta com 7 milhões 790 mil 878 filiados e 294 mil 809 líderes de rua, um líder de rua é responsável por organizar a sua rua, essa pessoa deve saber por quem cada morador (a) de sua rua vota, se vota pelo PSUV, se vota pela oposição ou se está indecisa. Uma vez identificados os que votam pelo PSUV, ele é responsável por organizá-los e anima-los e também identificados os indecisos, deve tratar de convencê-los para que votem e militem pelo PSUV ou defendam a Revolução Bolivariana. É importante destacar que quem põem toda essa grandiosa estrutura para funcionar são em sua grande maioria mulheres e um pré-requisito para os processos de indicações era que seria obrigatório indicar o nome de um homem e de uma mulher.
Escolhida a metodologia, foi definido o dia 27 de junho para que as UBCh’s, em Assembleias de Base, indicassem os candidatos e candidatas que iriam para as primárias do partido. Instalada a Assembleia de Base, o responsável por coordenar a Assembleia de Base era o coordenador (a) da UBCh e outro pré-requisito básico era que os indicados e indicadas fossem filiados ao PSUV. Na assembleia é colocada duas caixas, uma que tem escrito homens e outra que tem escrito mulheres. Quem desejasse indicar o nome de um homem e de uma mulher bastava levantar a mão, lhe é dado o direito de postular quem deseje que seja seu candidato e candidata. Após esse processo de indicação, são colocados os nomes dos postulados retirados das duas caixas em ordem alfabética e numerados num quadro branco a vista de todos (as) presentes na assembleia.
Cada processo de indicação dos candidatos e candidatas seria realizado de cada vez, de forma muito simples, por exemplo, primeiro aconteceria o processo de indicação para governador e governadora, depois que todos os nomes fossem indicados pelas bases na assembleia, esses nomes passariam a uma votação na Assembleia de Base, essa votação definiria o candidato e a candidata para governador e governadora da UBCh para as primárias – o mesmo processo se repetiria para a indicação do candidato a prefeito e a candidata a prefeita do respectivo município –, os 10 homens e as 10 mulheres mais votadas em todas as UBCh’s do estado seriam os candidatos a governador e candidatas a govenadora que disputariam as eleições primárias no dia 8 de agosto.
Desde que foram anunciadas as primárias não se falava em outra coisa nas bases chavistas e também da oposição, podemos dividir o ano em duas partes, o ano antes das primárias e o ano com as primárias, literalmente pautou a agenda nacional. É algo apaixonante, que de verdade mobiliza as massas dentro e fora do chavismo. A mobilização das bases do partido é inegável. Os venezuelanos aprenderam a gostar de eleições com Chávez e são profissionais na arte da disputa eleitoral.
Na Venezuela, desde quando a Revolução Bolivariana chegou ao poder, praticamente todos os anos tem eleições, nos últimos 20 anos ocorreram 25 processos eleitorais no país, a eleição de 21 de novembro será a de número 26. A Revolução Bolivariana ganhou 23 destes processos eleitorais e a oposição apenas 2. Agora a disputa ocorrerá nos 23 estados mais o Distrito Capital (Caracas) e nos 335 municípios.
Iniciamos o ano sabendo que seria mais um ano que teríamos eleição, já no ano passado aconteceram eleições para eleger os deputados e deputadas da Assembleia Nacional (parlamento), com uma contundente vitória do chavismo. A novidade foi o anuncio das primárias internas do PSUV. O objetivo de partido é reanimar uma base que vem resistindo durante últimos anos, uma base que vem sendo duramente golpeada pela situação econômica do país, terrivelmente assediado por um duríssimo bloqueio econômico, desde a partida física do comandante Chávez; renovar os dirigentes do partido com o apoio das bases e se preparar para umas megaeleições que prometem serem uma das mais disputadas dos últimos anos.
Tivemos a oportunidade de vivenciar o processo de eleições primárias do PSUV em dois momentos distintos em duas regiões do país, numa no momento antes das postulações das bases dos candidatos e candidatas e em outra no momento das eleições primárias decisivas para os candidatos e candidatas indicados pelas bases. Uma na região Oriente do país, no município Montes em Cumanacoa no Estado Sucre e a outra na região Centro Ocidente, no município Simón Planas no Estado Lara.
Nesse primeiro momento, vimos como as bases se voltaram para as primárias do partido. Observamos como o povo debatia nos povoados e vilas quem mereciam e quem não mereciam ser os candidatos e candidatas do partido, também expressavam suas críticas ou elogios aos governantes atuais, expressavam sua alegria em poder indicar seu candidato e candidata de base, que estão todos os dias trabalhando duro para a comunidade.
No segundo momento, o das eleições primárias, vimos como as bases põe em prática todo o aprendizado de 20 anos vitoriosos em eleições para fazer com que o seu candidato ou candidata seja escolhido como o representante do PSUV nas megaeleições de 21 de novembro.
Existe um método para a vitória, as bases do partido aprenderam esse método com Chávez. Primeiro, as visitas casa por casa, muitos candidatos e candidatas realizavam visitas em bairros indo em casa por casa, dialogar e convencer as pessoas para saírem a votar por ele ou ela nas primárias do partido, aqui é importante ressaltar que trata-se de um convencimento porque na Venezuela o voto não é obrigatório. Além do casa por casa, tem as marchas e atos, onde são cantadas músicas das campanhas de Chávez, Nicolás Maduro e muita música popular venezuelana, é uma verdadeira festa, onde o candidato ou candidata expressa seu plano de governo para o estado ou munícipio.
Depois desses momentos, que são prévios ao dia da votação, vem o tão esperado dia. Nesse dia, entra em cena o método 1x10 que foi preparado anteriormente, esse método consiste em que 1 pessoa, que pode ser o líder de rua, deve garantir no mínimo 10 votos. Os candidatos e candidatas tem seu próprio comando de campanha, que é uma equipe responsável pela mobilização, comunicação, que pensa a estratégia da campanha e monitora como estão os 1x10. As pessoas responsáveis pelos 1x10 são o comando de campanha local, por exemplo, existe o comando da campanha geral, e existe os comandos de campanha locais, no comando de campanha geral se reúne uma representação de cada comando de campanha local. Esses comandos de campanha locais estão sempre mandando informação para o comando de campanha geral. Seguindo o exemplo de Chávez, todos os candidatos e candidatas pedem que seus votantes vão o mais cedo possível a votar, para garantir a vitória logo. E as bases madrugaram nas enormes filas nas entradas dos centros de votação em todo país.
Lá pro final da votação, vem o tão esperado “plano arremate”, muito tradicional na Venezuela. Literalmente, nesse momento, trata-se de convencer, no último momento, a quem ainda não está convencido, os comandos de campanha locais se espelham pelos bairros a convencer as pessoas que ainda não saíram votar que votem, que não perca essa oportunidade, em muitos munícipios o “plano arremate” foi decisivo para a vitória ou para a derrota de muitos candidatos e candidatas.
O horário destinado para as primárias era das 06 da manhã até as 06 da tarde. Na noite de sábado (07/08), o presidente Nicolás Maduro convocou as bases do PSUV a saírem a votar e fazer revolução dentro da revolução, através da democracia participativa direta de baixo para cima. Em todo o país as filas eram enormes, muitas pessoas gravavam vídeos manifestando o seu desejo de votar, mesmo que tivesse de esperar até altas horas da madrugada já da segunda dia 09. E foi o que aconteceu, as 05 da tarde do domingo, a comissão eleitoral anunciou através do vice-presidente do partido, Diosdado Cabello, que os centros de votação ficariam abertos até as 08 da noite, todo mundo que quisesse votar poderia entrar e votar, já entrando na madrugada de segunda dia 09 chegavam imagens de filas dentro dos centros de votação em todo o país de pessoas esperando a sua vez de votar, algo que nunca havia visto em nenhuma parte do mundo.
Já na madrugada de segunda-feira (09/08), a comissão eleitoral do PSUV anunciou os primeiros resultados das eleições internas do partido, foram lidos os resultados com tendência irreversível para os governos dos 23 estados e a prefeitura de Caracas. Na mesma segunda, novamente a comissão eleitoral leu os resultados para as prefeituras que obedeciam os critérios definidos pela comissão eleitoral, que dizia que os candidatos a governador deviam obter no mínimo 40% dos votos e 10% de vantagem do segundo colocado, já para prefeitos teriam que obter no mínimo 35% dos votos e também 10 % de vantagem para o segundo colocado, os casos que não alcançaram os parâmetros definidos passariam a revisão e avaliação da Direção Nacional do partido.
Segundo a comissão eleitoral do partido mais de 3 milhões e 500 mil venezuelanos e venezuelanas exerceram seu direito ao voto, também estimaram que mais de 5 milhões saíram a vota, mas ao verem as grandiosas filas voltaram para as suas casas. É inegável que o balanço final das eleições primárias do PSUV foi um sucesso, a grandiosa estrutura construída por Chávez para vencer eleições está preparada para as megaeleições de 21 de novembro.
Por fim, podemos afirmar que o partido criado por Chávez é um partido de bases e eleitoral, aqui é onde reside o ponto fundamental. Não trata-se apenas de um partido puramente eleitoreiro, é um partido com profundas raízes nas bases sociais. É verdade que foi treinado por Chávez para vencer eleições, mas Chávez também treinou seu partido para ir além das eleições. Construiu um partido de bases. A Revolução Bolivariana nunca deixa de surpreender, sem dúvidas tem muito que ensinar para o mundo e o mundo tem muito que aprender da criatividade e das lições de anos de vitórias populares construídas desde as bases.