COP26

Como pintar de verde os interesses do capital financeiro

A electricidade é geralmente produzida com petróleo e exige baterias que, de momento, não são recicláveis. Em resumo, com a transição energética, o planeta ficará mais poluído do que antes.

26/11/2021
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A infantilização atingiu um novo nível: a ONU transformou-se numa Disneylandia.


A COP26 foi um espectáculo divertido, imaginado para desviar a atenção do público do que aí se trama. O GIEC, comité de peritos climáticos do COP, não prevê o apocalipse para governos surdos, antes lhes fornece uma narrativa que permite justificar as suas ambições políticas. Os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, que são resolutamente hostis aos projectos financeiros dos COP, recusaram-se aparecer lá no preciso momento em que os grandes banqueiros ali falavam na soma de 100 mil milhões de dólares de investimentos.

 

As “Conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas” são acompanhadas sempre por discursos apocalípticos. No entanto, nunca desembocam em compromissos mensuráveis e verificáveis. Apenas dão origem a promessas assinadas com grande pompa, mas sempre formuladas no condicional.

 

A conferência que se desenrolou em Glasgow (Reino Unido), de 31/Outubro a 12/Novembro/2021, não escapou à regra. Ela começou com um vídeo espectacular de um dinossauro anunciando na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas a possível extinção da espécie humana e prosseguiu com um discurso de abertura do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sobre o que faria James Bond face ao desafio climático. Esta encenação continuou na rua com uma manifestação dirigida por Greta Thunberg para declarar ilegítimos todos os governos do mundo e denunciar o “falhanço” da Conferência que mal havia começado.

 

Os líderes políticos que apelaram para a salvação da humanidade de um fim iminente são os mesmos que investem milhares de milhões de dólares em armas nucleares capazes de erradicar a vida humana do planeta .

 

O mínimo que se pode dizer é que esta Conferência é um entretenimento de qualidade oferecido aos espectadores do mundo inteiro, não uma reunião diplomática visando diminuir a produção de gases com efeito de estufa. Mas então: Que realidade visa este circo mascarar? E por que todos os Estados membros da ONU participam nele?

 

O aquecimento global

 

Para responder a esta questão, devemos primeiro afastar-nos de algumas certezas erradas sobre o “aquecimento global”.

Erradamente “acreditamos” que o “aquecimento global” ameaça a sobrevivência da nossa espécie. O clima sempre teve mudanças, não de maneira linear mas por ciclos. A Terra já foi mais quente há sete séculos do que hoje. Aqui, em França, os glaciares dos Alpes eram muito mais pequenos do que hoje e havia camelos selvagens na Provença. Algumas das nossas costas estendiam-se mais pelo mar adentro do que hoje, mas outras, pelo contrário, eram mais recuadas, etc.

 

Temos assumido que o aquecimento do clima na Europa corresponde à revolução industrial. É por isso que “acreditamos” que as mudanças climáticas, às quais assistimos, foram aceleradas pela produção industrial de gases com efeito de estufa, nos dois últimos séculos. É possível, mas concomitância não é causalidade. Existem outras hipóteses, entre as quais a do geofísico sérvio Milutin Milanković a partir das variações da órbita terrestre (excentricidade, obliquidade e precessão dos equinócios).

 

A criação do GIEC por Margaret Thatcher

 

Voltemos às conferências das Nações Unidas. Em 1988, os primeiros-ministros canadiano e britânico, Brian Mulroney e Margaret Thatcher, convenceram os seus parceiros (Estados Unidos, França, Alemanha e Itália) a financiar um Grupo Intergovernamental de Estudo sobre a Evolução do Clima (GIEC), sob os auspícios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUE) e da Organização Meteorológica Mundial. Logo depois, a sra. Thatcher afirmou que os gases com efeito de estufa, o buraco na camada do ozono e as chuvas ácidas exigiam respostas intergovernamentais. Este belíssimo discurso mascarava objectivos políticos. Tratava-se para ela, tal como o confirmam os seus conselheiros, de acabar com os sindicatos dos mineiros de carvão e promover uma nova revolução industrial, baseada no petróleo do Mar do Norte e no nuclear.

 

O GIEC não é de forma alguma uma academia erudita de climatologistas, mas tal como o seu nome indica um “grupo intergovernamental”. Nele não se discute climatologia, mas política climática. A grande maioria dos seus membros não são cientistas, mas diplomatas. Quanto aos peritos em climatologia que nele tomam parte, não estão lá como cientistas, mas como especialistas no seio de sua delegação governamental, quer dizer como funcionários. Todas as suas intervenções públicas são controladas pelo respectivo governo. É pois grotesco falar de consenso “científico” para designar o consenso político que reina nesta assembleia. É nada compreender sobre o funcionamento das instituições intergovernamentais.

 

Contrariamente ao que pensa Greta Thunberg, o GIEC não prediz o apocalipse a governos surdos. Ele obedece-lhes fielmente e elabora com climatologistas uma retórica para justificar mudanças políticas que as pessoas normais recusariam sem essa.

 

Os trabalhos do GIEC servem de base anualmente a uma “Conferência das Partes” (COP) signatárias da “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas” (CCNUCC). Assim decorre em Glasgow a 26ª edição (COP26). No seu primeiro relatório, em 1990, o GIEC considerava como “pouco provável” um aumento inequívoco do efeito de estufa “nas próximas décadas ou mais”. Mas aquilo que era a verdade em 1990 tornou-se a heresia em 2021.

 

As primeiras conferências foram consagradas ao trabalho de informação e sensibilização do público quanto à evolução do clima. Estava claro para todos que certas regiões se tornariam inabitáveis e que certas populações teriam que se mudar. Só com o passar do tempo é que se começou a dizer que as alterações seriam de uma tal amplitude que poderiam ameaçar a sobrevivência de toda a espécie humana. Esta mudança de discurso não se explica por uma súbita descoberta científica, que teria posto em causa uma verdade de um dia, mas pela evolução das necessidades dos governos.

 

A sociedade de consumo está à beira do abismo:   não se pode vender às pessoas o que elas já têm. Se as indústrias colapsam, os empregos desaparecem e os governos são derrubados. Há apenas uma solução para evitar isso: por exemplo, no final dos anos 90, a maior parte das sociedades ocidentais estava informatizada. Tornava-se impossível vender computadores. Propagou-se, assim, a farsa do século: o “bug do ano 2000”. Toda a informática iria “bugar” em 1 de Janeiro de 2000, à 00h00. Todos compraram então computadores e software. É claro que nenhum avião caiu, nenhum elevador parou, nenhum computador avariou. Mas Silicon Valley estava salva e agora ia-se investir em computadores para o grande público. Hoje a solução é a “transição energética”. Por exemplo: não se pode vender várias viaturas ao mesmo consumidor, mas pode-se trocar o seu carro a gasolina por um a electricidade. É claro, a electricidade é geralmente produzida com petróleo e exige baterias que, de momento, não são recicláveis. Em resumo, com a transição energética o planeta ficará mais poluído do que antes. Mas, não se deve pensar muito nisso.

 

A bolsa climática, único avanço da COP

Al Gore, o pastor vigarista.
Durante o mandato do presidente Bill Clinton, os Estados Unidos tomaram o controle do GIEC de modo a que ele impulsionasse o Protocolo de Quioto (COP3) sem nunca o subscrever. O vice-presidente, Al Gore, estava encarregado da política energética dos EUA. Assim, ele aprovou a guerra do Kosovo a fim de poder construir um oleoduto trans-balcânico. Enquanto o Protocolo visava originalmente limitar as emissões de cinco gases com efeito de estufa e três substitutos dos clorofluorocarbonos, ele pressionou para a criação de direitos de emissão de CO2 para as indústrias e esqueceu os outros gases. Depois de ter deixado a Casa Branca, ele fundou, com banqueiros da Goldman Sachs e um financiamento da BlackRock, a Bolsa do Clima de Chicago. Não tendo os Estados Unidos assinado nunca o Protocolo de Quioto, isto não funcionou bem. No entanto, abriu filiais nos quatro outros continentes que se desenvolveram rapidamente. Hoje em dia, ele recebe uma remuneração por cada troca de direito de emissão de CO2. Para desenvolver o seu negócio, ele transformou-se num militante da causa climática e produziu o filme Uma verdade inconveniente (An Inconvenient Truth). Recebeu então o Prémio Nobel da Paz, embora esta obra tenha mais de publicidade para a sua Bolsa do que de Ciência.

 

Colorindo a história, os estatutos da Bolsa do Clima haviam sido escritos por um jovem advogado desconhecido, Barack Obama. Ele entrará pouco depois na política em Chicago e subitamente tornou-se presidente dos Estados Unidos quatro anos depois. Uma vez na Casa Branca, Barack Obama planeará usar a histeria climática para reformar o sistema financeiro global. Este é o projecto que virá a ser adoptado pela COP21 em Paris e que deverá ser aplicado pela COP26 de Glasgow.

 

A proxima meta da COP: tornar a finança verde

 

Esta é organizada pelo Reino Unido com a ajuda da Itália. Quatro britânicos tem o encargo: dois antigos ministros, Alok Sharma (Economia, Indústria e Estratégia Industrial) e Anne-Marie Trevelyan (Desenvolvimento Internacional), o antigo Governador dos Bancos do Reino Unido e Canadá, Mark Carney, e um lobista, Nigel Topping. Nenhuma destas personalidades sabe seja o que for de climatologia. Todos eles, pelo contrário, são promotores de um projecto de reforma das instituições de Bretton Woods (o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial).

 

É por se oporem a este projecto financeiro, e não de forma alguma à luta contra a poluição atmosférica, que os presidentes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, não participam nesta conferência.

 

O sítio Internet da COP26 indica:  trata-se de “Mobilizar financiamentos. Para atingir os nossos objectivos, os países desenvolvidos devem manter a sua promessa de mobilizar pelo menos US$100 mil milhões de dólares em financiamento climático. As instituições financeiras internacionais devem desempenhar o seu papel e devemos trabalhar para libertar os milhares de milhões de dólares de financiamento dos sectores privado e público necessários para garantir o zero líquido mundial”.

 

O que deverá ser assinado no final da Conferência é a criação de uma instância reunindo:

o Banco Asiático de Desenvolvimento,
 o Banco Africano de Desenvolvimento
 o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas
 o Banco Caribenho de Desenvolvimento
 o Banco Europeu de Investimento
 o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento
 o Banco Interamericano de Desenvolvimento e Investimento
 o Banco Islâmico de Desenvolvimento
 o Banco Mundial – e 450 grandes empresas, a fim de mobilizar esse dinheiro
É preciso compreender bem: já não é possível endividar mais os países pobres (e, portanto, mantê-los sob controle), uma vez que o Banco Mundial e sobretudo o FMI já não têm credibilidade. Hoje em dia, todos os governos sabem que as doações e os empréstimos de instituições internacionais são acompanhadas de condições drásticas que tornam os seus países vulneráveis; que quando chegar o momento de pagar, eles já não serão donos de nada.

 

Com a COP26, os banqueiros poderão emprestar dinheiro para salvar a humanidade e, de passagem, tornarem-se proprietários dos países cujos dirigentes neles confiaram .

https://www.alainet.org/pt/articulo/214455?language=es
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