A América Latina e o Brasil
06/08/2013
- Opinión
O Foro de São Paulo, recém-concluído em São Paulo reflete o estado atual da esquerda no continente e no próprio Brasil. O marco latino-americano é indispensável para entender o estado atual da luta por superar o neoliberalismo, assim como a inserção de cada país no marco internacional.
Quando foi fundado o Foro de São Paulo, em 1990, seu objetivo maior era o de unir forças para resistir à forte ofensiva neoliberal, que já havia conquistado praticamente todos os governos da região. Era um marco defensivo para a esquerda. Salvo Cuba, a esquerda dos outros países estava acuada, dividida, sob os efeitos da ofensiva não apenas política e econômica, mas sobretudo ideológica, sob o efeito do fim da guerra fria com a vitória do campo imperialista e o desaparecimento do campo soviético.
Não por acaso que foi nesse mesmo ano que surgiu o Consenso de Washington, buscando codificar o que seria um receituário supostamente obrigatório para todos os governos, formalizando as propostas do FMI. A ofensiva atingiu os próprios setores progressistas, alguns desarvorados pelo fim da URSS – que era sua referência histórica fundamental –, outros resignados a conviver com o capitalismo.
A virada acabou vindo do próprio continente que havia sido a maior vítima do neoliberalismo, porque aqui ele havia concentrado a maior quantidade de governos neoliberais e em suas modalidades mais radicais. Foi o fracasso das promessas neoliberais e a saturação de suas politicas que levou à eleição de governos progressistas, a partir do de Hugo Chávez, no final da ultima década do século passado, entrando pela primeira do século XXI.
Essa virada tem significados fundamentais, sem os quais a esquerda não compreende a natureza do período histórico atual. Esses novos governos não podem retomar o desenvolvimento econômico de antes da crise da dívida – fim dos anos 1970 e começo dos 1980 –, porque as décadas anteriores haviam introduzido uma enorme quantidade de processos regressivos nas nossas sociedades, nos Estados e nos consensos ideológicos também.
Mas são governos que souberam construir as plataformas e as alianças que conquistaram amplos apoios populares, que lhes permitem colocar em prática politicas que transformaram de forma significativa nossas sociedades, especialmente na desigualdade social, dado que a América Latina é o continente mais desigual do mundo.
O continente se transformou em referencia mundial para os que lutam contra o neoliberalismo, predominante em escala mundial, mas fortemente questionado na América Latina. Não por acaso os mais importantes líderes populares no mundo contemporâneo – Hugo Chávez, Lula, Mujica, Rafael Correa, Evo Morales, entre outros – são latino-americanos.
O Foro de São Paulo reúne hoje partidos que dirigem nove países do continente, sob lideranças com grande apoio popular, que deram estabilidade a seus países, no marco da diminuição da desigualdade, de politicas externas soberanas e de Estados indutores do crescimento econômico. Sob o impacto das fortes ofensivas das direitas em cada país, apoiadas sempre pelos EUA.
Sem a compreensão desse marco, a esquerda não consegue captar o sentido de cada um desses governos, das polarizações políticas que marcam cada país e da natureza do período histórico atual.
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