A crise capitalista e os trabalhadores [1]

02/12/2013
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O Brasil não é uma ilha. Com as suas particularidades, ele reflete o que se passa num mundo injustamente “globalizado”. Pelo maior peso geopolítico alcançado nos últimos 10 anos, ele também interfere com mais força nos rumos do planeta. Neste sentido, analisar o contexto mundial ajuda a entender o que ocorre no país e a definir os próximos passos das lutas dos trabalhadores por seus objetivos imediatos e futuros. O atual cenário internacional é bastante contraditório, com enormes perigos e muitas possibilidades.

Entre outras características, ele é marcado pelo agravamento da crise capitalista, que afeta principalmente os chamados países desenvolvidos; pela ascensão de novos centros de poder, com destaque para os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); pelo aumento da agressividade das potências imperialistas, que investem cada vez mais na solução militar para a sua crise; pelo maior protagonismo político exercido pelas nações soberanas da América Latina; por uma nova onda destrutiva e regressiva do capital contra os direitos dos trabalhadores; e pela eclosão de intensas lutas dos povos, principalmente da juventude, por justiça, democracia real e dignidade. É neste turbilhão que o Brasil está inserido, o que coloca grandes desafios para o sindicalismo e para as forças progressistas da sociedade.

A mais recente crise do capitalismo, deflagrada em 2007 com a implosão do setor imobiliário nos EUA, confirma que este sistema não serve à humanidade. Similar à “grande depressão” de 1929, a atual crise é sistêmica, crônica e prolongada. Ela teve início nos chamados países desenvolvidos e logo contaminou o restante do mundo. A partir da bancarrota do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, o ritmo da quebradeira se acelerou. Até o início deste ano, 468 instituições financeiras entraram em colapso nos EUA – com a falência de quatro dos cinco maiores bancos do império.

Com a acelerada desregulamentação e financeirização do capitalismo, a crise rapidamente atingiu o setor produtivo, com o fechamento de milhares de fábricas, a explosão do desemprego e a retração do consumo. Os EUA deixaram de ser a locomotiva da expansão produtiva no mundo e passaram a acumular dívidas colossais, reforçando o seu caráter parasitário. A dívida pública saltou de 43% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2007, para 100% em 2013. Prova da hipocrisia do discurso neoliberal do “estado mínimo”, o banco central ianque (FED) sacou US$ 29 trilhões dos cofres públicos para salvar os banqueiros.

As operações de socorro, porém, não solucionaram a grave crise capitalista. Ela rapidamente migrou dos EUA para a Europa, o velho continente hoje totalmente falido. Os países mais vulneráveis da região – Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha – perderam totalmente a sua soberania macroeconômica e atualmente são reféns da chamada troika, um comitê financeiro composto pelo Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e União Europeia. Eles vegetam na recessão há quase cinco anos. Todo o sistema de bem-estar social, erguido depois da II Guerra Mundial em decorrência da luta dos trabalhadores e do “medo do socialismo”, está sendo desmantelado.

Mesmo países que aparentavam mais força, como a Alemanha e o Reino Unido, registram índices medíocres de crescimento econômico. O Japão, outra potência capitalista, também empacou na crise. Enquanto as populações vivenciam um trágico “estado de mal-estar social”, os governos locais se transformaram em biombos dos banqueiros e sugam bilhões de euros para socorrer as instituições financeiras e as poderosas multinacionais. Os ricos ficam cada vez mais ricos; e os pobres vegetam na miséria e na incerteza. Segundo estudos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as 34 nações mais ricas do planeta, a renda média dos 10% de ricaços é hoje nove vezes maior do que a dos 10% mais pobres. Em 1980, esta diferença era de cinco vezes. O fosso da desigualdade aumenta nos chamados países desenvolvidos.  

Diante desta brutal crise, o capital intensifica a ofensiva contra os trabalhadores, que pagam o ônus da decadência capitalista. Os índices de desemprego batem recordes nos EUA, no Japão e na Europa. Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que em 2013 mais de 5,1 milhão de trabalhadores serão demitidos, engrossando a cifra dos 202 milhões de desempregados no planeta. Segundo o órgão, esta chaga vitima principalmente a juventude. A OIT calcula que 74 milhões de jovens padeçam sem emprego e perspectiva. Já o Escritório de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) estima que 50% das pessoas com menos 25 anos estão desempregadas no velho continente.

De forma oportunista e criminosa, o capital aproveita o cenário devastador do desemprego, que coloca na defensiva o sindicalismo, para retirar históricos direitos trabalhistas e previdenciários. Vários países promovem cortes lineares de salários, impõem contratos precários, aumentam as jornadas de trabalho e elevam o tempo de aposentadoria. Os governos a serviço do capital reduzem investimentos nas áreas sociais e demitem milhões de servidores públicos com o objetivo de reservar dinheiro para os banqueiros. Esta carnificina explica porque cresce assustadoramente o número de suicídios na Europa, de despejados e sem-teto nos EUA e de violência no decrépito capitalismo. 

* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
 
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/81392?language=en

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