Justiça argentina e imprensa brasileira
23/10/2004
- Opinión
É muito interessante constatar a que interesses serve a imprensa
comercial brasileira. A saída de quatro juízes corruptos da
Suprema Corte do país vizinho, Argentina, teve cobertura zero na
televisão e jornais do Brasil.
Trata-se de fato de importância transcendental, nunca antes
registrado em qualquer país do mundo. A "caixa preta" da
justiça, que alguns dizem querer abrir, na terra de Prata não
somente foi aberta, mas seu lixo removido.
Não se viu uma linha, uma reportagem sequer, na mídia que
supostamente informa a população brasileira. Informa? Deforma.
Quando a movimentação popular –o panelaço—depôs o presidente De
la Rua em 2001, o que aqui mostraram foram os saques a
supermercados, que foram ocasionais, e de qualquer forma
irrelevantes diante do fato de que pela primeira vez na história
do país amigo, a máxima autoridade do poder político era posta
na rua pela força do povo.
Naquela oportunidade, foi conseguido espaço para mostrar essa
distorção informativa, em órgãos como o Observatório da
Imprensa, a Revista de Cultura Vozes, a revista Conceitos, da
Associação dos Docentes da Universidade Federal da
Paraíba/ADUFPB-JP, a Agência de Informações Frei Tito para
América Latina/ADITAL e o jornal iberoamericano La insígnia.
Quando começou no país vizinho o processo de escrache aos
políticos corruptos –quase uma redundância—apenas umas linhas
apareceram na seção de leitores da revista Caros Amigos. Esse
processo, que inclui genocidas liberados pela Corte Suprema de
Justiça de qualquer culpabilidade pelos delitos de lesa
humanidade cometidos durante a ditadura, conseguiu na prática o
que a justiça corrupta negava: castigo aos culpados.
Não podem morar em qualquer lugar, pois que localizados pelos
sobreviventes, são denunciados pelo que fizeram, e postas no
domínio do público as barbaridades que cometeram contra seu
próprio povo, contra a humanidade. Nenhum vizinho quer morar ao
lado de gente assim. São obrigados a se demitirem dos seus
empregos, quando as pessoas dos movimentos de direitos humanos
dão a conhecer o curriculum dos açogueiros.
E a imprensa brasileira cala. Distorce, deforma. Já enche a boca
quando quer mostrar que "A Argentina está falida", que
"Argentina dá calote no FMI". Um país deve pagar o que deve, não
o que querem lhe fazer pagar. A dívida externa Argentina inclui
débitos privados assumidos como públicos pelos governantes
depostos pela população em 2001. O narcopresidente Menem e seu
cupincha Cavalo voltam a ser chamados a depor.
A nova Corte Suprema de Justiça os convoca para prestarem
contas, dentre outras coisas, por contrabando de armas. É uma
perseguição, alega o ex-mandatário. Não há dúvidas. Persegue-se
a moralidade que a ditadura e a corrupção gravemente
violentaram. Não haverá "grande imprensa" de lá ou de cá que
possa reverter essa marcha.
E um sinal extremamente favorável desse caminho argentino à
justiça é o alarme de um dos maiores apoiadores do genocídio:
Mariano Grondona. Editorialista de um dos maiores jornais de
Buenos Aires, La Nación, lança no último domingo suspeitas de
"inidoneidade" sobre alguns dos novos integrantes da nova Corte
de Justiça na Argentina. No seu pânico, o apaniguado dos
traidores fardados que apontaram as armas contra a população que
deviam defender, evidencia o rumo certo. Não importa o silêncio
da imprensa venal.
https://www.alainet.org/de/node/110778
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