Na volta ao Mercosul

Paraguai se isola ao não apoiar repúdio a ofensiva israelense

29/07/2014
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É a primeira vez que o presidente Horacio Cartes participa de uma reunião do bloco desde que o país foi suspenso após o golpe contra Lugo, em 2012
 
Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela condenaram o uso desproporcional da força pelo Exército de Israel contra a Faixa de Gaza e ressaltaram a importância das investigações para identificar responsáveis por violações do Direito Internacional Humanitário. A declaração especial, emitida após a 46ª Cúpula do Mercosul (Mercado Comum do Sul) desta terça (29/07), em Caracas, não conta, no entanto, com a assinatura do Paraguai, que participa pela primeira vez de uma cúpula do bloco após ter sido suspenso do grupo em junho de 2012.
 
Os quatro países “condenaram de maneira enérgica o uso desproporcional da força por parte do Exército israelense na Faixa de Gaza, que afeta majoritariamente civis, incluindo crianças e mulheres”, além de condenar “qualquer tipo de ações violentas contra populações civis em Israel”. O fim imediato do bloqueio contra a população de Gaza para o livre trânsito, ingresso de alimentos, medicamentos e ajuda humanitária também foi instada.
 
Os chefes de Estado fizeram um chamado ao diálogo como única saída do conflito e reiteraram seu apoio à “solução de dois Estados vivendo em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”. Na declaração, ainda pedem respeito ao direito internacional e aos direitos humanos, ressaltando a “importância e urgência da investigação de todas as violações do Direito Internacional Humanitário a fim de estabelecer os fatos e circunstâncias de tais violações e dos crimes cometidos e identificar os responsáveis”.
 
O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, no entanto, não mencionou o conflito em seu discurso, mas agradeceu efusivamente o apoio do Mercosul. Após a suspensão pelo impeachmet express contra o ex-presidente Fernando Lugo, o país voltou hoje a participar de uma cúpula presidencial do bloco.
 
A participação de Cartes [na foto, à direita] representou a reincorporação “plena” do Paraguai ao Mercosul. “O Paraguai volta a esta cúpula com o claro propósito de fortalecer o processo de integração regional”, disse, complementando que isso foi demonstrado com a aprovação por seu país da inclusão da Venezuela ao bloco. A presidência pro-tempore do Mercosul foi assumida, nesta terça, pela Argentina, após mais de um ano comandada pela Venezuela.
 
Diferentes "tonalidades" sobre o assunto
 
Tanto a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, como o venezuelano Nicolás Maduro e a presidente Dilma Rousseff manifestaram preocupação pela situação na Faixa de Gaza durante suas intervenções na plenária aberta da Cúpula. Maduro, anfitrião e primeiro a falar, deu a entender que o assunto era encarado de diferentes formas pelos chefes de Estado, ao dizer que seriam escutadas nas intervenções “as diferentes tonalidades que há sobre o tema”.
 
Segundo ele, no entanto, estas “estão cruzadas por um sentimento profundamente humano de solidariedade com o povo palestino, a exigência de cessar-fogo, que se retomem os caminhos das conversas de paz e respeito do direito palestino a viver, a existir”, expressou. “É um tema que mantém sensibilizada a opinião pública de todos os nossos países e trocamos critérios, opiniões, percepções, visões, como sempre na diversidade dos debates do Mercosul e dos nossos espaços do Sul”.
 
Cristina fez um dos discursos mais enfáticos contra o que qualificou como o “drama da Faixa de Gaza”. “Eu agradeço a solidariedade e vou falar em último termo da Argentina”, disse, sobre a crise de seu país com os “fundos abutres”, complementando que acharia egoísta não abordar antes o assunto palestino. “Está em jogo é a vida de todo um povo”, disse. Segundo ela, a primeira questão é solicitar um cessar-fogo imediato e que apesar dos “matizes” que os presidentes presentes poderiam ter, o reconhecimento do Estado da Palestina foi uma postura histórica de seu país.
 
"Cifras falam por si só"
 
A presidente argentina reforçou que Israel tem o direito de viver em paz, mas “dentro de suas fronteiras estabelecidas em 1967”. E disse que se o pedido é por um cessar-fogo, “todos estamos admitindo que estamos uma guerra”. “Mas isso não basta, porque ter uma postura como se estivéssemos balanceando ou analisando duas situações similares, não seria, pelo menos da parte de quem fala, nem sincero, nem honesto”, disse.
 
Cristina disse que perguntou a seu chanceler, Héctor Timmerman, qual é a quantidade de mortos de um lado e do outro. E que este afirmou que de 1.230, mais de mil mortos são palestinos, quando cerca de 30 soldados e três civis israelenses morreram. “As cifras falam por si só, e não significa fazer um inventário, mas significa medir exatamente o drama que se está vivendo em população civil”, disse.
 
Dilma, por sua vez, disse que “não podemos aceitar impassíveis a escalada de violência entre Israel e Palestina”. Com o país envolvido em uma polêmica com Israel, que chamou o Brasil de “anão diplomático” por ter condenado o uso desproporcional da força, a presidente afirmou que desde o princípio, o Brasil condenou o lançamento de foguetes e morteiros contra Israel e reconheceu seu direito de se defender.
 
“No entanto, é necessário ressaltar nossa mais veemente condenação ao uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.O governo brasileiro reitera seu chamado a um cessar-fogo imediato, abrangente e permanente entre as partes”, expressou.
 
- Luciana Taddeo | Caracas 
 
29/07/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/102040
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