Síntese dos eventos de Brasília - 16-18/9/02
Campanha Jubileu Sul-Brasil - Plebiscito Nacional contra a ALCA e Alcântara
23/09/2002
- Opinión
Terminamos o Plebiscito com grande êxito. Foram mais de 10 milhões de votantes, e os
resultados finais ainda estão para sair. Muitas urnas do interior continuaram a ser
apuradas mesmo depois do anúncio dos resultados parciais em Brasília. Foi lá que nos
reunimos, a Coordenação Nacional da Campanha Jubileu Sul-Brasil e do Plebiscito
Nacional sobre a ALCA e Alcântara, entre 16 e 18 de setembro passados, para avaliar
a campanha e o Plebiscito e planejar o seguimento das atividades visando a alcançar
os objetivos enunciados no Plebiscito: bloquear a ALCA, retirar o Brasil das
negociações e impedir que a Base de Alcântara seja entregue pelo governo brasileiro
para controle militar dos EUA. Afinal, entre 95 e 98% d@s votantes reafirmaram seu
empenho em cumprir estes objetivos e as classes no poder, autoritárias e arrogantes
como têm se mostrado, ainda são mais sensíveis à palavra dos banqueiros
internacionais e "dos mercados" externos do que à palavra do povo. Por isso, a luta
não termina com o Plebiscito, nem com o fim da perversa era FHC. Brasília foi a
conclusão do Plebiscito e o início da nova etapa de luta e de ação transfomadora.
Uma Outra Integração é possível! Uma Outra América é possível!
I - REUNIÃO DA COORDENAÇÃO DO PLEBISCITO
O Ibrades nos recebeu com cálida hospitalidade. Realizamos a reunião da Coordenação
no dia 16/9, com cerca de 25 participantes, incluindo representantes de partidos que
vieram como observadores. A pauta incluiu: (1) Avaliação do Plebiscito; (2)
Sugestões para a continuidade da Campanha; (3) Calendário de atividades; (4) Breve
relato sobre o Fórum Social Argentino; (5) Plano dos eventos públicos de 17-18/9
(abaixo relataremos brevemente os eventos).
1. Avaliação.
* A mobilização nos estados foi ampla e entusiasmada. Estimamos os voluntários em
mais de 150 mil, as urnas superaram 40 mil e os municípios envolvidos na campanha
foram cerca de 3500. O maior envolvimento e a maior votação resultam de um grande
trabalho educativo e de mobilização prévio ao Plebiscito, levado a todo o país
através de milhares de pessoas voluntárias que passaram por cursos de formação, e
também pelo material didático preparado e divulgado amplamente.
* O mérito da mobilização foi acrescido pelo financiamento descentralizado e
compartilhado. As entidades e pessoas envolvidas contribuíram com a reprodução de
urnas e de cédulas, assim como do material didático. O tempo de trabalho foi doado.
O Plebiscito foi um grande exercício de educação para a cidadania ativa, algo que as
pessoas que o criticam provavelmente desconhecem, pois só estão habituadas a
trabalhos feitos por necessidade ou interesse monetário. O trabalho voluntário e o
autofinanciamento da campanha são aspectos que devemos valorizar!
* Assim mesmo, os limites materiais foram grandes. Decerto com mais recursos
teríamos podido obter resultados ainda melhores. Houve problemas na recolha e
computação final dos votos - atraso na contagem, envio de dados para entidades
nacionais não envolvidas com a apuração. Os dados que divulgaríamos em 17/9/02 não
seriam finais, o que é compreensível dadas as dificuldades materiais que a
Secretaria teve que enfrentar. Nossa organização, embora exitosa, está muito aquém
da quantidade de gente do povo disposta a lutar; precisamos de mais militantes e
voluntários.
* O esforço educativo teve um componente psicológico importante: tratava-se de
superar os chavões ideológicos sobre a ALCA, como "é ruim mas não tem jeito", "não
vamos poder enfrentar a pressão", "o Brasil não pode ficar isolado", "não podemos
ficar de fora da modernidade". O panfleto explicando porque o NÃO às três perguntas
foi essencial.
* Enfatizamos o acerto das perguntas e da decisão que tomamos em julho de não ficar
a reboque da conjuntura eleitoral. A ênfase do Plebiscito foi realmente a Soberania
Nacional e a pergunta sobre Alcântara contribuiu para a discussão sobre a ameaça da
ALCA à soberania no plano econômico e comercial. O foco das perguntas no ator
principal, o Governo brasileiro, ajudou a desmentir as mentiras oficiais e revelar
que o Governo FHC é o agente maior da ofensiva da globalização neoliberal no Brasil.
Com a Campanha e o Plebiscito contra a ALCA e Alcântara, deixamos o Governo e a
direita na defensiva.
* A grande mídia adotou uma postura contrária à ética jornalística, não dando
nenhuma publicidade à Campanha, lançando artigos que atacavam ferozmente o
Plebiscito e não dando espaço para as respostas. Foram particularmente
preconceituosos a Folha de São Paulo e O Globo, que publicaram a coluna de Elio
Gaspari em 30/8/02, carregada de inverdades e de brutal agressividade contra a
Campanha e a CNBB, e não nos deram direito de resposta, apesar de toda a pressão
feita pela Secretaria da Campanha sobre os responsáveis da redação para que
publicassem nossa carta ou nosso artigo.
* O Plebiscito não oficial desempenhou um papel importante na luta cultural pela
hegemonia. O coletivo representado pelas diversas organizações da sociedade que
participam da Campanha Jubileu Sul - Brasil é um referencial inovador no processo
político brasileiro. Ele congrega, de forma permanente, a maior diversidade de
entidades, movimentos e partidos que já se teve na história do Brasil! É uma
conquista inestimável na luta pela democracia participativa e pelos direitos de
cidadania ativa do nosso povo.
* A expectativa do seguimento da Campanha é muito grande, temos que ser muito mais
ativos e eficientes do que fomos depois do Plebiscito sobre as Dívidas e o FMI. A
Campanha reavivou os movimentos sociais no Brasil e criou a oportunidade para a
articulação de movimentos e redes em todo o Continente. A expectativa e a esperança
que pulsam no exterior em torno da nossa Campanha é muito positiva. O Brasil é o
único país do continente que pode liderar a resistência à ALCA.
* Apesar da complexidade do tema, o povo brasileiro mostrou que é capaz de
compreender as questões que dizem respeito à sua vida e interesses, e que está
disposto a participar ativamente da luta para defendê-los.
* Devemos resguardar-nos da tentação de dizer que "a ALCA não vai passar". A luta
precisa continuar até que o projeto ALCA seja desmontado. O mesmo em relação ao
acordo sobre a Base de Alcântara.
* A retirada do PT institucional da Campanha foi compensada pelo envolvimento ativo
de milhares de militantes do PT em todo o Brasil, tanto nas atividades educativas e
de mobilização preparatórias do Plebiscito, quanto na recolha e apuração dos votos.
A presença del@s nos eventos de Brasília foi um fator a mais do êxito dessas
manifestações. O PSTU e o PCdoB também participaram de todo o processo. A propaganda
eleitoral do PSTU na TV e rádio, divulgando o Plebiscito e incitando a população a
votar, foi de grande valia para divulgar a Campanha.
2. CONTINUIDADE
Fizemos propostas e as sintetizamos numa folha, que foi apresentada à Assembléia
Popular do Plebiscito em 18/9, para discussão e aprovação. Os grupos por região
acrescentaram diversas propostas que enriqueceram enormemente o plano de seguimento
da Campanha . Este plano será divulgado em breve pela Secretaria da Campanha. Uma
das principais metas polarizadoras do seguimento será o lançamento da campanha do
abaixo-assinado pela realização do Plebiscito Oficial. Isto inclui o trabalho de
pressão para cancelar o projeto de referendo liderado pela Senadora Emilia
Fernandes, com o apoio do Dep. Aloisio Mercadante, ambos do PT. Outra meta
polarizadora será a grande jornada continental de protesto contra a ALCA, 31 de
outubro, ao final da Reunião de Ministros da ALCA em Quito, Equador. O exemplo
brasileiro já está incentivando a que outros 10 países se preparem para realizar
plebiscitos ou consultas populares, inclusive os EUA.
3. CALENDÁRIO
* 16/10/02, 4a. feira, São Paulo - Próxima reunião da Coordenação, para detalhar o
plano de seguimento da Campanha e articular os diversos eventos que desembocarão em
Quito e Cuba.
* 21 E 22 NOVEMBRO São Paulo - X Plenária NACIONAL DA CAMPANHA NACIONAL CONTRA ALCA.
* 27-31/10/02, Quito - Eventos populares contra a ALCA e reunião da Assembléia
Social Continental. Definimos os membros da Coordenação que irão participar deles.
* 31/10/02 - Jornada Continental contra a ALCA, a ser realizada de forma
descentralizada em todo o Brasil e em todo o Continente, simultaneamente ao grande
dia continental contra a ALCA em Quito.
* 26 A 28 Novembro de 2002, Cuba - Seminário Internacional contra a ALCA.
* Abril de 2003, Buenos Aires - Cúpula dos Povos, incluindo um grande evento contra
a ALCA, com ou sem Reunião de Ministros da ALCA.
* Até o fim de março de 2003 serão realizados plebiscitos ou consultas populares em
MAIS DEZ países DA AMERICA LATINA, inclusive os EUA. O governo da Venezuela
expressou sua intenção de convocar um Plebiscito Oficial sobre a ALCA.
II - CONFERÊNCIA DE IMPRENSA NO AUDITÓRIO NEREU RAMOS, DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Participaram da mesa Dom Franco Masserdotti, pela CNBB, o pastor Ervino Schmidt,
pelo CONIC, e representantes da CUT (Gilson), UNE (Felipe Maia), Sindicato dos
Advogados de São Paulo (Ricardo Gebrim), Movimentos Populares (João Pedro Stédile) e
a Secretaria Nacional do Plebiscito (Rosilene). A moderadora foi a economista Sandra
Quintela, do PACS e Rede Brasil. Dom Franco fez a palestra de abertura, enfatizando
as duas dimensões da Campanha. Uma, a dimensão ética. A campanha sobre a ALCA faz
parte de uma campanha maior, a de promoção da Cidadania, que significa, por parte
dos que ocupam o poder, ouvir e deixar-se julgar pelo povo. A campanha é também um
exercício de amor ao Brasil, ao defender a soberania, a autonomia contra todos os
colonialismos e imperialismos. Nesta campanha, disse Dom Franco, se coloca a
política no lugar certo: como exercício do povo para o bem do povo, não de um tipo
qualquer de economia que exclui e oprime. Alcântara é também importante como defesa
da soberania, e também da preservação das terras dos quilombolas, que aí vivem há
cerca de três séculos. A outra, a dimensão da esperança, abre a perspectiva de o
Brasil tornar-se um dos promotores da globalização da solidariedade, da união dos
povos.
Rosilene leu os resultados por estado e apresentou o total nacional de votantes, sob
grandes aplausos. O pastor Ernani e Rosilene leram alternadamente o Manifesto da
Campanha Jubileu Sul-Brasil, que apresentou os resultados desagregados por pergunta
e explicou o sentido político do Plebiscito e da luta contra os projetos da ALCA e
da Base de Alcântara. Em seguida falaram os diversos representantes de movimentos
que estavam à mesa. A palavra foi dada, então, aos jornalistas e outros
participantes, que fizeram perguntas e comentários. Um ponto alto do debate foi a
resposta de Dom Franco à jornalista de O Estado de São Paulo, sobre se um plebiscito
com 10 milhões de votos tem peso frente a um universo de 115 milhões de eleitores:
"as pesquisas de opinião sobre os candidatos à Presidência, que chegam a alterar as
bolsas e o humor dos mercados, cobrem apenas 2500 pessoas. O Plebiscito é a voz de
mais de 10 milhões de cidadãs e cidadãos! Tem um peso incomparavelmente maior!"
Fazemos aqui um elogio especial ao Deputado do PT Luis Eduardo Greenhaugh, o único
parlamentar das duas casas do Congresso que participou desta sessão histórica no
Auditório Nereu Ramos.
III - AUDIÊNCIA COM A CÂMARA E SENADO
Na Câmara Federal, nossa delegação foi recebida pelo dep. Severino Cavalcanti, na
ausência do Presidente Aécio Neves. O deputado começou afirmando que todos os países
do Continente deveriam participar da ALCA e que o Brasil deve recusar-se a
participar se Cuba não for também admitida. Apresentamos o Manifesto com os
resultados do Plebiscito e com as reivindicações dirigidas ao Congresso Nacional.
Lembramos que a Câmara já passou legislação que impõe a interrupção das negociações.
Solicitamos que a Câmara obtenha o documento que esclarece as posições que o governo
brasileiro está levando às negociações, e também que a Câmara obtenha o documento
dos EUA de propostas para a ALCA. Explicamos a importância de a Câmara tomar a
iniciativa de convocar o Plebiscito Oficial sobre a ALCA.
O deputado respondeu que se compromete a falar em favor do Plebiscito Oficial.
Acrescentamos a solicitação de a Câmara empenhar-se em impedir a ida dos Ministros
Pedro Malan e Celso Lafer à Reunião de Ministros em Quito, que se realizará depois
das eleições brasileiras, pois eles não teriam nenhuma legitimidade para prosseguir
nas negociações. Também solicitamos que a Câmara rejeite o pedido dos EUA de
impunidade para soldados estadunidenses no território brasileiro. Comentamos que o
dep. Zenaldo Coutinho se comprometeu a defender o relatório do dep. Waldir Pires
sobre o Acordo de Alcântara, mas depois disso já modificou três vezes o relatório.
Chamamos a atenção do deputado para a inconstitucionalidade do Acordo e a urgência
de ele ser vetado.
O deputado comentou que a entrada ou não em votação do projeto do Acordo depende
exclusivamente do dep. Aécio Neves e que, se fosse colocado em votação hoje, seria
aprovado. Sugeriu que procuremos o dep. Aécio Neves, candidato ao governo de Minas
Gerais, e também os líderes dos partidos. Finalizou dizendo que é do bloco
governista, mas que votará contra o Acordo, assim como votou contra a reeleição de
FHC. Disse que vai "defender intransigentemente as posições do Plebiscito".
No Senado, a CNBB havia registrado o pedido de audiência com o presidente, senador
Ramez Tabet, há mais de um mês. Na ausência dele, nos receberia o senador Lauro
Campos, mas também não compareceu. Protocolamos o envelope contendo o Manifesto e
partimos.
IV - AUDIÊNCIA COM A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
A audiência havia sido solicitada pela CNBB mais de um mês antes da data. O
Presidente da República havia delegado o Ministro-Chefe da Secretaria Geral da
Presidência da República, Euclides Scalco para receber nossa delegação, mas ele
também estava ausente, e passou a tarefa ao Subsecretário, José Rinaldo. "O
Ministro-Chefe foi chamado a uma reunião interministerial convocada pelo Presidente
da República." Perguntamos onde era a reunião e se ele retornaria logo. A resposta
foi: "Não sei dizer, mas se quiserem, podem esperar." Depois de meia hora, nos
despedimos do Subsecretário, que insistiu em que deixássemos com ele o manifesto.
Preferimos protocolar o envelope e partimos. Esta é a importância que o Governo FHC
dá a uma delegação que trazia a palavra de mais de 10 milhões de brasileiras e
brasileiros. Um de nós comentou: "Se fosse algum banqueiro ou representante de
quinto escalão do FMI, seriam recebidos na hora! "
V - AUDIÊNCIA COM O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Fomos recebidos com muita solicitude pelo Presidente do STF, Marco Aurélio de Mello,
que ouviu com atenção a apresentação dos resultados do Plebiscito e nossas
solicitações. Explicamos que esta foi a mais expressiva consulta popular já havida
no País, um processo exemplar de expressão cidadã de opinião em defesa da soberania
e da dignidade do Brasil. Entre as reivindicações que apresentamos estava a da
convocação de um Plebiscito Oficial. Citamos o exemplo da União Européia, que se
construiu ao longo de mais de quatro décadas e procurou antes superar a assimetria e
as desigualdades socioeconômicas entre os países que integrariam a União. A decisão
de integrar a União por cada país, no entanto, foi tomada através de plebiscitos
nacionais. Alguns povos negaram-se a integrar a União, entre eles a Dinamarca, a
Noruega e a Suíça. Aos povos da América Latina e Caribe deve ser dada a mesma
oportunidade de pronunciar-se. Também reivindicamos que o governo brasileiro se
retire das negociações da ALCA. Expressamos também nossa oposição a que a delegação
brasileira participe da reunião de Ministros em Quito, em outubro próximo. O
Ministro respondeu que a situação é de fato preocupante. Defendeu o uso de
plebiscitos como instrumento de manifestação da vontade popular. "O plebiscito
situa-se no campo do exercício da cidadania e estampa a conseqüência do que foi
proclamado na Carta da República, segundo a qual todo poder emana do povo" (Ver
"Marco Aurélio defende uso de plebiscitos", www.stf.gov.br, notícias, 17/9/02).
Também sugerimos que o STF promova, juntamente com a OAB e as instituições
representativas de advogados e juristas, um Fórum continental para discutir a
questão constitucional dos projetos ALCA e de militarização do continente. Sua
resposta foi que a idéia é interessante e deve ser trabalhada.
VI - AUDIÊNCIA COM A EMBAIXADORA DOS EUA
A Embaixadora dos EUA, Donna Hrinak, recebeu atenciosamente nossa delegação e
conversou conosco durante cerca de uma hora. O encontro foi cordial e a conversa,
franca. A sra. Hrinak havia sido a principal negociadora dos EUA para a implantação
do Acordo da ALCAN (Área de Livre Comércio da América do Norte). Ficou evidente que
sua função no Brasil era garantir a extensão da ALCAN a todo o Continente através do
projeto da ALCA. Ela reconheceu que o problema mais sério da América Latina hoje é a
pobreza e que existem 80 milhões de pessoas que ganham menos que um dólar por dia.
Expressou sua convicção de que a saída para isto é o livre comércio. Nós, pelo
contrário, argumentamos que foram as políticas neoliberais que agravaram enormemente
a situação de pobreza do Continente, e só um comércio justo e solidário e uma
integração baseada no respeito mútuo e na reciprocidade é que resultariam em
superação das causas da pobreza. O mais chocante foi ouvir da Embaixadora "vocês
estão discutindo sobre Santa Claus (Papai Noel), pois a ALCA é algo que ainda não
existe". Se fosse "Papai Noel", os Presidentes e os Ministros de 34 países do
Continente americano não teriam excluído Cuba, nem estariam se reunindo duas vezes
por ano, nem haveria nove grupos de negociação. "Nós entendemos que a democracia é a
construção coletiva daquilo que é a voz do povo", disse dom Franco valorizando o
Plebiscito e a resposta negativa dada pela quase totalidade dos votantes às três
perguntas.
VII - VISITAS ÀS EMBAIXADAS DA VENEZUELA E ISRAEL
Estas visitas tiveram objetivos bem diferentes. Na primeira, nossa delegação foi
cumprimentar o governo venezuelano pela declaração de intenção relativa à iniciativa
de um Plebiscito Oficial sobre a ALCA na Venezuela. A segunda foi para solicitar que
o governo israelense suspenda a proibição a um bispo ortodoxo de deixar Israel para
vir participar de evento no Brasil. Esperamos que companheiros da Coordenação que
participaram destas visitas circulem um breve relato delas.
VIII - ASSEMBLÉIA POPULAR DO PLEBISCITO
A ExpoBrasília é um espaço imenso, coberto, arejado. A Assembléia Popular, com suas
duas mil cadeiras, palco e sistema de som, foi realizada num "pequeno" recanto
daquele espaço. Ali estavam as delegações de praticamente todos os estados do
Brasil, jornalistas e membros da Coordenação Nacional do Plebiscito. A mística
inicial incluiu uma canção e a leitura de mensagem do Pe. Marcelo Barros sobre o
sentido profundo da luta contra a ALCA e Alcântara. O Pe. Alfredo, das Pastorais
Sociais da CNBB, iniciou a leitura do Manifesto do Plebiscito (enviado a vocês
noutra mensagem) incitando a tod@s que leiam em conjunto. Para cada um, ler em alta
voz significa interiorizar a mensagem e comprometer-se com o que ela proclama.
Isabel, da Pastoral da Terra, moderadora da manhã, fez uma narração do dia anterior,
informando sobre as audiências com as autoridades.
A companheira argentina, Rina, de Diálogo 2000 e do Movimento pela Paz, iniciou sua
palestra agradecendo efusivamente ao povo brasileiro por estar defendendo o direito
à sua soberania e à dos povos da América Latina e Caribe. Disse que a Cúpula dos
Povos será realizada mesmo em abril de 2003 em Buenos Aires, mesmo que a reunião de
Ministros da ALCA seja transferida de local ou adiada. Com os olhos marejados,
informou que a Argentina hoje foi reduzida a um país de 25 milhões de pobres para
uma população de 37 milhões de habitantes, obra de uma história recente de ajustes
neoliberais comandados pelo governo corrupto de Carlos Menem e supervisionados pelo
FMI. Comunicou que o atual Chanceler Carlos Ruckauff, desavergonhadamente e sem
consulta nenhuma à população, ofereceu apoio do governo Duhalde à uma possível
agressão estadunidense ao Iraque. O mesmo Ruckauff anunciou que a Argentina,
respondendo ao pedido do governo Bush, também sem consulta alguma à população
concedeu imunidade aos soldados dos EUA estacionados em território argentino, com o
status de "técnicos" da Embaixada Estadunidense. Assim, qualquer crime ou violação
dos direitos humanos que cometam não poderá ser objeto de processo ou julgamento
pela recém criada Corte Penal Internacional! Rina focalizou os riscos da presença
militar estadunidense e o início de operações conjuntas com o exército argentino em
Misiones, na fronteira com o Paraguai e o Brasil. Reforçou a importância da luta no
Brasil contra a entrega da Base de Alcântara para controle militar dos EUA.
Marcos Arruda foi escolhido para substituir os outros convidados (Embaixador Samuel
P. Guimarães e Fabio Konder Comparato) que estariam falando à Assembléia e foi
concluída com propostas concretas para uma outra integração, começando com o Cone
Sul e a América Latina e Caribe. Sua apresentação será circulada em breve em arquivo
eletrônico, e poderá ser obtida impressa no PACS (documentos@pacs.org.br) ou na
Secretaria da Campanha Jubileu Sul-Brasil (Rosi,
jubileubrasil@caritasbrasileira.org).
Em seguida, a palavra foi aberta para os participantes, e cerca de 20 pessoas
falaram brevemente à Assembléia, inclusive um representante indígena Xukuru-Kariri,
de Palmeira dos Índios, Alagoas. A tarde foi toda dedicada a trabalhos em grupo
sobre a proposta de atividades de seguimento da Campanha, por estado. A plenária
recolheu dos relatores as propostas geradas pelo trabalho dos grupos e aprovou um
programa de atividades, que será circulado em breve pela Secretaria. Nele aparece em
destaque a proposta de iniciarmos logo depois das eleições a Campanha do Abaixo
Assinado por um Plebiscito Oficial sobre a ALCA e Alcântara, a pressão em favor do
projeto Roberto Saturnino de Plebiscito Oficial, sem a emenda da Senadora Emilia
Fernandes que converte o plebiscito em referendo, a pressão contra a ida dos
Ministros Malan e Lafer a Quito, a ativação dos Comitês do Plebiscito para a ampla
divulgação do Manifesto com os resultados e a continuação da educação sobre os dois
assuntos, a preparação da Jornada Continental contra a ALCA em 31 de outubro de
2002.
CONCLUSÃO
O Plebiscito foi uma grande vitória da cidadania e da democracia. É um avanço na
construção de uma democracia participativa. Mas a grande mídia vai fazer o que
sempre faz com a voz do povo: quando não consegue evitar, divulga e depois cala.
Cabe à sociedade continuar lutando, pressionando, denunciando, anunciando. A
Campanha Jubileu Sul - Brasil é um avanço importante na organização da sociedade em
defesa de um Brasil justo, soberano e solidário, pois nela estão representadas
praticamente todas as forças vivas da sociedade Junte-se a nós você também!.
SOBERANIA SIM, ALCA NÃO! SÍ A LA VIDA, NO AL ALCA!
* Marcos Arruda, PACS e Rede Brasil
https://www.alainet.org/es/node/106418
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