No RS, sem-terra prosseguem marcha por fazenda Coqueiros
16/10/2007
- Opinión
Porto Alegre (RS)
Apesar de interdito proibitório imposto pela Justiça de Carazinho, MST prossegue com mobilização.
Nem a forte chuva que tem assolado o Rio Grande do Sul conseguiu desanimar os 1,7 mil sem-terra que marcham há um mês no Estado. Muito menos a Justiça de Carazinho que impetrou uma ação de interdito proibitório na Comarca, que abrange o município de Coqueiros do Sul, impedindo que os sem-terra entrem na cidade onde fica a Fazenda Guerra – destino final das três marchas.
No dia 16, data de fechamento desta edição, uma coluna com 600 pessoas estava em Passo Fundo; uma outra com 500 estava em Ibirubá; e a última com 600 estava em Palmeira das Missões. A expectativa é que as três marchas se unam no final do mês. No próximo dia 25, os sem-terra participam de audiência com ministros em Passo Fundo para garantir que a chegada da marcha em Coqueiros do Sul ocorra sem violência.
Desde o dia 11 de setembro, trabalhadores e trabalhadoras rurais partiram de três regiões gaúchas diferentes em direção à Fazenda Coqueiros, no município de Coqueiros do Sul, na região Norte. Eles reivindicam a desapropriação da área de pouco mais de 9 mil hectares por interesse social. No local, em que hoje trabalham até 20 pessoas, poderiam ser assentadas cerca de 460 famílias sem-terra.
“Justiça”
Nas últimas duas semanas de marcha, nas grandes cidades pelas quais as colunas da marcha passam, geralmente alguma suposta denúncia contra o MST é julgada pela Justiça. A decisão que provocou mais polêmica foi a da juíza Marlene Marlei de Souza, da 2ª Vara Cível de Carazinho, que proibiu a entrada de sem-terra e ruralistas na Comarca, que abrange o município de Coqueiros do Sul, onde fica a Fazenda Guerra.
Apesar do argumento de que a decisão visa evitar um confronto entre as duas partes, lideranças sem-terra enxergam a medida tomada para impedir o MST de chegar à Fazenda Coqueiros.
"É claro que a medida tomada pela juíza é para impedir que os sem-terra cheguem a Coqueiros do Sul. Afinal, é difícil identificar os ruralistas, diferentemente dos sem-terra, que possuem bandeiras e atuam organizadamente. Além disso, quem terá coragem de não deixar algum ruralista entrar na cidade?", indaga Cedenir de Oliveira, da direção estadual do MST.
Crianças
As crianças também são alvo da tentativa de atrapalhar a marcha. A juíza Jocelaine Teixeira, da 1ª Vara Cível de Cruz Alta, emitiu uma decisão em que proibia as crianças sem-terra de estarem na marcha. Depois, em uma reunião de conciliação com o MST, foi decidido que as crianças poderiam seguir até a cidade vizinha, Ibirubá, mas não poderiam sair do município em ção à Coqueiros do Sul.
A juíza considera que sair de Ibirubá e se aproximar da Fazenda Coqueiros representa perigo para os pequenos, o que é duramente criticado pelos sem-terra. "Os pais rechaçaram a proposta porque eles o pátrio poder, o direito de levarem seus filhos junto de si para onde quiserem. Além disso, essas denúncias de que as crianças são maltratadas no MST são falsas. Elas têm comida e roupa; também estudam durante a marcha, já que as escolas itinerantes acompanham as três colunas. O sofrimento delas se deve ao fato de não terem onde morar, porque o governo não faz a reforma agrária. O perigo da violência é gerada pelos ruralistas pela Brigada Militar, que agem com repressão contra o movimento", critica Irma Ostroski, da direção estadual do MST.
Passo Fundo
Em Passo Fundo, na região do Planalto, uma entidade de classe entrou no Ministério Público com requerimento para que o MST deixasse a cidade, alegando possibilidade de conflito na região. Em resposta, cerca de 30 organizações, sindicatos, entidades, movimentos sociais e advogados estiveram com os Ministérios Públicos Estadual e Federal na semana passada, reivindicando a permanência dos sem-terra.
Em nota, as entidades avaliam que "é direito do MST, como de qualquer organização social ou cidadão, poder ir, vir, permanecer ou sair de qualquer local, de se manifestar na sociedade e reivindicar por seus direitos".
Para Milton Viário, presidente da Federação dos Metalúrgicos do RS, a marcha do MST cumpre com o seu papel de movimento social. "A marcha do MST mostra à sociedade gaúcha que há pessoas que ainda acreditam em mudanças e em um desenvolvimento econômico e social sem ser baseado nas transnacionais ou no sistema do agronegócio", diz.
Retaliações
Por todo o caminho percorrido, os sem-terra receberam críticas e apoios. As críticas são geradas principalmente por ruralistas e os setores conservadores do interior, que encontram respaldo, muitas vezes, em prefeituras de direita e nas ações truculentas da Brigada Militar. A violência psicológica e a coação também são utilizadas para amedrontar os sem-terra e as comunidades interioranas.
"Um dia antes de chegarmos em São Sepé, perto de Santa Maria, fomos conversar com as direções das escolas públicas para confirmarmos as palestras que iríamos realizar com os jovens. A maioria dos diretores voltou atrás e negou o espaço que tinham confirmado anteriormente com o MST. E isso aconteceu em outros lugares. Mesmo que não exista uma decisão pública da Secretaria Estadual da Educação em não ceder espaço ao MST, é certo que coordenadores regionais ou políticos locais pressionaram os professores", relata Irma Ostroski.
No entanto, a população em geral, comunidades religiosas e sindicatos e entidades têm se mostrado apoiadoras da luta pela desapropriação da Fazenda Coqueiros. Em alguns casos, como o ocorrido em Júlio de Castilhos, na região central do Estado, a população discorda até mesmo do prefeito.
"Na semana passada chegamos em Júlio de Castilhos e o prefeito não quis ceder espaço para que as famílias montassem um acampamento na cidade. Fomos para as rádios do município denunciar a situação e uma comunidade da cidade nos cedeu o campo de futebol para que pudéssemos acampar", conta Márcio da Silva, integrante da marcha que saiu da região Sul. Doações de roupas e alimentos, assim como convites para palestras, também são comuns nas cidades em que as três colunas passam.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
Apesar de interdito proibitório imposto pela Justiça de Carazinho, MST prossegue com mobilização.
Nem a forte chuva que tem assolado o Rio Grande do Sul conseguiu desanimar os 1,7 mil sem-terra que marcham há um mês no Estado. Muito menos a Justiça de Carazinho que impetrou uma ação de interdito proibitório na Comarca, que abrange o município de Coqueiros do Sul, impedindo que os sem-terra entrem na cidade onde fica a Fazenda Guerra – destino final das três marchas.
No dia 16, data de fechamento desta edição, uma coluna com 600 pessoas estava em Passo Fundo; uma outra com 500 estava em Ibirubá; e a última com 600 estava em Palmeira das Missões. A expectativa é que as três marchas se unam no final do mês. No próximo dia 25, os sem-terra participam de audiência com ministros em Passo Fundo para garantir que a chegada da marcha em Coqueiros do Sul ocorra sem violência.
Desde o dia 11 de setembro, trabalhadores e trabalhadoras rurais partiram de três regiões gaúchas diferentes em direção à Fazenda Coqueiros, no município de Coqueiros do Sul, na região Norte. Eles reivindicam a desapropriação da área de pouco mais de 9 mil hectares por interesse social. No local, em que hoje trabalham até 20 pessoas, poderiam ser assentadas cerca de 460 famílias sem-terra.
“Justiça”
Nas últimas duas semanas de marcha, nas grandes cidades pelas quais as colunas da marcha passam, geralmente alguma suposta denúncia contra o MST é julgada pela Justiça. A decisão que provocou mais polêmica foi a da juíza Marlene Marlei de Souza, da 2ª Vara Cível de Carazinho, que proibiu a entrada de sem-terra e ruralistas na Comarca, que abrange o município de Coqueiros do Sul, onde fica a Fazenda Guerra.
Apesar do argumento de que a decisão visa evitar um confronto entre as duas partes, lideranças sem-terra enxergam a medida tomada para impedir o MST de chegar à Fazenda Coqueiros.
"É claro que a medida tomada pela juíza é para impedir que os sem-terra cheguem a Coqueiros do Sul. Afinal, é difícil identificar os ruralistas, diferentemente dos sem-terra, que possuem bandeiras e atuam organizadamente. Além disso, quem terá coragem de não deixar algum ruralista entrar na cidade?", indaga Cedenir de Oliveira, da direção estadual do MST.
Crianças
As crianças também são alvo da tentativa de atrapalhar a marcha. A juíza Jocelaine Teixeira, da 1ª Vara Cível de Cruz Alta, emitiu uma decisão em que proibia as crianças sem-terra de estarem na marcha. Depois, em uma reunião de conciliação com o MST, foi decidido que as crianças poderiam seguir até a cidade vizinha, Ibirubá, mas não poderiam sair do município em ção à Coqueiros do Sul.
A juíza considera que sair de Ibirubá e se aproximar da Fazenda Coqueiros representa perigo para os pequenos, o que é duramente criticado pelos sem-terra. "Os pais rechaçaram a proposta porque eles o pátrio poder, o direito de levarem seus filhos junto de si para onde quiserem. Além disso, essas denúncias de que as crianças são maltratadas no MST são falsas. Elas têm comida e roupa; também estudam durante a marcha, já que as escolas itinerantes acompanham as três colunas. O sofrimento delas se deve ao fato de não terem onde morar, porque o governo não faz a reforma agrária. O perigo da violência é gerada pelos ruralistas pela Brigada Militar, que agem com repressão contra o movimento", critica Irma Ostroski, da direção estadual do MST.
Passo Fundo
Em Passo Fundo, na região do Planalto, uma entidade de classe entrou no Ministério Público com requerimento para que o MST deixasse a cidade, alegando possibilidade de conflito na região. Em resposta, cerca de 30 organizações, sindicatos, entidades, movimentos sociais e advogados estiveram com os Ministérios Públicos Estadual e Federal na semana passada, reivindicando a permanência dos sem-terra.
Em nota, as entidades avaliam que "é direito do MST, como de qualquer organização social ou cidadão, poder ir, vir, permanecer ou sair de qualquer local, de se manifestar na sociedade e reivindicar por seus direitos".
Para Milton Viário, presidente da Federação dos Metalúrgicos do RS, a marcha do MST cumpre com o seu papel de movimento social. "A marcha do MST mostra à sociedade gaúcha que há pessoas que ainda acreditam em mudanças e em um desenvolvimento econômico e social sem ser baseado nas transnacionais ou no sistema do agronegócio", diz.
Retaliações
Por todo o caminho percorrido, os sem-terra receberam críticas e apoios. As críticas são geradas principalmente por ruralistas e os setores conservadores do interior, que encontram respaldo, muitas vezes, em prefeituras de direita e nas ações truculentas da Brigada Militar. A violência psicológica e a coação também são utilizadas para amedrontar os sem-terra e as comunidades interioranas.
"Um dia antes de chegarmos em São Sepé, perto de Santa Maria, fomos conversar com as direções das escolas públicas para confirmarmos as palestras que iríamos realizar com os jovens. A maioria dos diretores voltou atrás e negou o espaço que tinham confirmado anteriormente com o MST. E isso aconteceu em outros lugares. Mesmo que não exista uma decisão pública da Secretaria Estadual da Educação em não ceder espaço ao MST, é certo que coordenadores regionais ou políticos locais pressionaram os professores", relata Irma Ostroski.
No entanto, a população em geral, comunidades religiosas e sindicatos e entidades têm se mostrado apoiadoras da luta pela desapropriação da Fazenda Coqueiros. Em alguns casos, como o ocorrido em Júlio de Castilhos, na região central do Estado, a população discorda até mesmo do prefeito.
"Na semana passada chegamos em Júlio de Castilhos e o prefeito não quis ceder espaço para que as famílias montassem um acampamento na cidade. Fomos para as rádios do município denunciar a situação e uma comunidade da cidade nos cedeu o campo de futebol para que pudéssemos acampar", conta Márcio da Silva, integrante da marcha que saiu da região Sul. Doações de roupas e alimentos, assim como convites para palestras, também são comuns nas cidades em que as três colunas passam.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/es/node/123802?language=es
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