A difícil colcha de retalho européia
19/08/2012
- Opinión
A segunda guerra mundial, pelo estrago proporcionado, foi uma oportunidade para todos os países europeus, fazerem um balanço da história, se vale apena manter-se em estado de guerra permanente.
Quem lê a história da humanidade mais particularmente da Europa, deve se assustar com tamanho número de conflitos naquela região. A tentativa de Roma subjugar ou em outros termos, civilizar toda a Europa, deixou um rastro de guerras, sem um século sequer de paz. Parece-nos que o único tema relevante e dominante para a história, pelos seus resultados, sempre foi a guerra. Infelizmente, as realizações boas que houve em todos os campos neste período invariavelmente ficaram em segundo plano nos registros da história. Pela vaidade dos vencedores, sempre foi colocado em evidência suas vitórias como o melhor valor de suas políticas. Nos dá pena, ver livros didáticos levados aos nossos jovens, enaltecidos de conquistas dos vencedores. Parece que existe um espírito maquiavélico de manter a sociedade em permanente estado de tensão. E assim é até hoje. Os acontecimentos atuais confirmam.
No final da segunda guerra (sempre guerra!), iniciou-se uma costura de unificação dos países europeus, não tanto pelo altruísmo, mas pelo medo econômico da América (EUA) e o gigante da Ásia que começava mostrar suas unhas, a China. Até então, a formação da civilização européia se assentava em três pilares: a herança helenista (ou Helenismo), a estrutura política ditada por Roma (ou Romanismo) e o Cristianismo como força de coesão moral e espiritual.
Sem perda de generalidades, o Helenismo trouxe o gênero literário, a arte centrada no homem, a filosofia como reflexão da problemática do ser; o Romanismo, pelo seu gênio organizador, espírito guerreiro (ideal militar) e os fundamentos do direito na cidadania; o Cristianismo legou a divisão hierárquica do território, uma nova visão transcendental de um Deus único, por onde pregava uma ligação entre os homens através do Amor altruístico. Este último aspecto permitiu a unificação dos povos romanos mediterrâneos com os nórdicos, celtas, germanos, normandos e sobretudo com os elementos fronteiriços (árabes e muçulmanos), através de uma liturgia da linguagem latina no entendimento da fé.
Com a decadência moral romana, e por efeito esfacelamento político, a igreja como instituição que ganhou o reconhecimento de todos os povos europeus, transformou a estrutura territorial herdada dos romanos das províncias, municípios, vilas, em dioceses, paróquias, capelas, sob a égide de Roma (hoje Vaticano) em termos da administração temporal da instituição, para chegar as verdades do Evangelho a toda população. Nestas condições as culturas locais, línguas e até etnia, pode-se manter intactas, pelo padrão espiritual instituído.
A partir do século treze, fim do império político romano, começa ressurgir o espírito nacionalista das antigas colônias e povos da Europa. Alguns pensadores, que o próprio regime cristão permitiu, começaram oferecer outras visões sobre o mundo, agora mais centrada no próprio homem, o antropocentrismo. O laicismo começa assumir seu vigor, principalmente após a descoberta da América, e pelo iluminismo do século dezoito.
Segundo a opinião de vários sociólogos e filósofos, a União Europeia, como foi concebida, está condenada ao fracasso. As primeiras rachaduras começaram a aparecer, com as dificuldades econômicas da Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda. Os três primeiros assentados numa ideologia francamente estato/socialista dificilmente conciliável com a economia de mercado.
A multiplicidade de línguas, - mesmo com todo o esforço romano em uni-las nas épocas das conquistas - de nacionalidades surgidas no século vinte, de culturas diferenciadas que ficaram intactas, com ideologias políticas e econômicas diferentes; novas convicções religiosas e mesmo decadência da antiga fé cristã, estão a desmoronar a unidade supranacional pretendida. Talvez somente uma crise monumental, onde a sabedoria impõe uma reflexão profunda de acordos, com concessões mútuas, possa salvar. Mas, pela guerra nunca mais.
Por outro lado se compararmos, os momentos atuais com os da história da decadência de Roma, veremos muitas coincidências: acomodação na “dolce vita”, envelhecimento populacional, abandono dos valores familiares, cívicos e humanos; luxo desmesurável, costumes decadentes quando a prostituição feminina e o deboche sexual, efeitos da civilização atual, levam a decadência da vitalidade demográfica.
O laicismo da constituição Europeia, pelo banimento do cristianismo que a manteve unida; o abandono do patrimônio cultural helênico em todos os seus aspectos; fica a Europa reduzida a uma colcha de retalhos, de nacionalidades, uma babel de línguas, um pardieiro de costumes, dos mais diferentes aos mais estranhos.
Pela primeira vez os migrantes esfomeados da África e outras regiões pobres, procuram na Europa as migalhas de seu luxo e ostentação, estes roubados de suas próprias terras. Paradoxalmente os costumes, religiões, culturas estão sendo assimilados pelos anfitriões e não ao contrário, aumentando assim o caldeirão explosivo Europeu.
- Sergio Sebold – Economista e Professor
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