Fatos escondidos no baú da história não devem ser esquecidos
- Opinión
Num momento em que alguns setores imbecilizados pregam o retorno da ditadura empresarial militar que levou o Brasil a uma noite escura de 21 anos, é importante lembrar que há fatos ocorridos naquele período e que ainda não foram devidamente divulgados.
O governo ditatorial do, segundo documentos da CIA, responsável por assassinatos, general Emílio Garrastazu Médici, apoiou integralmente, inclusive através do então embaixador brasileiro em Santiago, Antonio Cândido Câmara Canto, a derrubada do presidente constitucional Salvador Allende no Chile, que levou o General Augusto Pinochet a assumir o governo e ter provocado um banho de sangue naquele país andino.
Ou seja, não se pode ignorar o apoio dos golpistas de 1964 ao trauma ocorrido no Chile.
Mas é preciso divulgar também um fato praticamente ignorado em todos estes anos. A ascensão de Pinochet provocou, segundo o site chileno Gamba (www.gamba.cl), o incremento do narcotráfico no referido país. E não é só isso, o próprio ditador chileno, apoiado também pelo governo dos Estados Unidos, através do então todo poderoso Secretário de Defesa, Henry Kissinger, enriqueceu com o tráfico de drogas.
Na longa e convincente matéria do site chileno, Pinochet é mencionado como a figura que fez fortuna com essa atividade ilegal e teatralmente combatida pelos militares. Na verdade, o combate era sempre pró-forma, pois o próprio Pinochet aproveitava a situação para acumular fortuna.
Manuel Contreras, diretor da DINA, o serviço secreto chileno que tinha vínculos profundos com o similar brasileiro Serviço Nacional de Informações (SNI), também não escapou da denúncia. Ele dava proteção a narcotraficantes, por ordem de Pinochet, e recebia dividendos por essa tarefa, que eram destinadas não só para ele, como também à própria DINA e ao lóbi cubano anticastrista, atuante no Chile e protegido pelo esquema pinochetista.
Estão implicados agentes do DINA, como Gerardo Huber e Eugenio Berrios, sendo que esse trabalhou com Michel Townley na fabricação de armas químicas no Complexo Químico do Exército, em Talagarte, onde, por sinal, a Direção Logística do Exército era encarregada da venda de armas ao exterior.
Depois da descoberta do tráfico ilegal de armas, Gerardo Huber foi assassinado e mais tarde o bioquímico Eugenio Barrios teve o mesmo fim, em 1995, no Uruguai, em uma ação empreendida por agentes uruguaios e chilenos.
Vale assinalar ainda que o agente Barrios, bioquímico, implicado também no assassinato do ex-chanceler Orlando Letelier, produzia não só a cocaína como o gás sarin. Ele se tornou uma peça importante no esquema de produção do produto que dava grande lucro a Pinochet.
Pinochet permaneceu impune e, no tempo de sua ditadura, chegou a incursionar por aqui tendo sido recebido com honras pelo então ditador brasileiro, Ernesto Geisel, também acusado de assassinatos a opositores, segundo recém revelados documentos da CIA.
Não se pode esquecer que Geisel pediu ao STF a prisão e cassação do deputado Chico Pinto, do Grupo Autêntico do PMDB, por ter o parlamentar criticado o ditador chileno que veio participar da posse do então general de plantão. O deputado teve o mandato cassado e foi preso por seis meses, além de perder os direitos políticos.
Mais informações sobre a face narcotraficante de Pinochet podem ser encontradas também no livro intitulado “La Delgada Linea Blanca”, de autoria dos jornalistas Rodrigo de Castro e Juan Gasparini, publicação que deveria ser editada no Brasil.
Alguma dúvida sobre a necessidade de divulgar informações que ajudam a conhecer a história latino-americana dos últimos tempos?Tais fatos não podem continuar no baú da história e precisam ser divulgados, sobretudo no momento atual que atravessa o Brasil.
E o que é ainda pior, com a presença de um pré-candidato a presidente que se apresenta como defensor de torturadores e outras ações violentas da ditadura. Esse mesmo político, apoiador entusiasta da ditadura daqui e do Chile, também responde na justiça porque em uma palestra ofendeu negros e indígenas.
11 de Junho de 2018
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