Que ética vai prevalecer?
19/10/2006
- Opinión
Na campanha elitoral para presidência, a ética constitui um dos tópicos principais. Neste campo não cabe farisaismo no sentido de um lado se sentir o portador da ética e o outro, seu violador. Ambos os candidatos precisam fazer seu mea culpa e reconhecer graves desvios éticos em seus respectivos partidos. Há o risco de que se privatize a ética, vale dizer, que se discuta somente a ética na política e não a ética da política. Em outras palavras, não basta que haja políticos éticos, com virtudes pessoais reconhecidas (ética na política). O importante é que prevaleça a discussão sobre a ética da política. Esta trata da moldura institucional que obriga os cidadãos a viverem certos valores fundamentais para a sociedade. Principalmente importa discutir o caráter ético do projeto político do candidato. Em que medida ele rompe com a tradição de privilégios que tem caracterizado a política brasileira e que mediações usará para gestar mais a justiça e inclusão dos milhões destituidos. Este é o nó da questão. Os cidadãos têm direito de conhecer os projetos políticos de cada candidato e as formas de sua implementação. Ai ele poderá ver seu caráter ético ou não.
No sentido de animar este debate gostaria de referir uma discussão recente entre dois paradigmas de ética: entre o núcleo da moralidade clássica, a ética da justiça e o núcleo da nova moralidade, a ética do cuidado. Tenho participado dessa reflexão, suscitada primeiramente por filósofas e educadoras feministas norte-americanas, especialmente Carol Gilligan e Nel Noddings. Elas nos conscientizaram do fato de que a reflexão ética do Ocidente herdada dos gregos, passando por Tomás de Aquino, Kant e culminando em Habermas é marcadamente masculina. Ela se centra na autonomia do indivíduo, portador de direitos e deveres, tendo como eixo estruturador, a imparcialidade da justiça.
Esta ética viu dimensões irrenunciáveis, seja no aspecto interpessoal seja no social. Mas nela há um empobrecimento da experiência humana, pois não inclui a contribuição das mulheres. Elas estão mais próximas ao mistério da vida, são naturalmente mais cooperativas, tecem mais adequadamente as redes de relações afetivas, familiares e comunitárias, alimentam preocupação pelos outros e tomam em consideração as debilidades humanas e os processos de desenvolvimento, pouco contempladas pela ética da justiça. Para que a vida humana funcione não basta a igualdade de direitos e deveres e o respeito a eles. Precisa-se do cuidado, pois todo ser vivo deseja e precisa ser cuidado e nós sentimos naturalmente o impulso de cuidar. Dai nasce a solidariedade, a corresponsabilidade e a compaixão, como irradiações do cuidado.
A base antropológica desta ética do feminino é outra. Para ela não existe o indivíduo isolado que precisa de um contrato social para viver junto. Ele é sempre conectado com o outro e com a natureza. A motivação para viver valores e assim uma vida ética não vem da razão e dos princípios, mas da emoção do afeto e do auto-envolvimento. O desejo natural de sermos cuidados, aceitos e amados, coisa que foi ignorada pela ética vigente, é o que move profundamente nossas vidas.
Fazer política é cuidar do povo e atender suas necessidades, repetiu-o muitas vezes o Presidente Lula. Realizar isso é realizar a justiça. Este é o critério para julgar eticamente os projetos dos dois candidatos.
No sentido de animar este debate gostaria de referir uma discussão recente entre dois paradigmas de ética: entre o núcleo da moralidade clássica, a ética da justiça e o núcleo da nova moralidade, a ética do cuidado. Tenho participado dessa reflexão, suscitada primeiramente por filósofas e educadoras feministas norte-americanas, especialmente Carol Gilligan e Nel Noddings. Elas nos conscientizaram do fato de que a reflexão ética do Ocidente herdada dos gregos, passando por Tomás de Aquino, Kant e culminando em Habermas é marcadamente masculina. Ela se centra na autonomia do indivíduo, portador de direitos e deveres, tendo como eixo estruturador, a imparcialidade da justiça.
Esta ética viu dimensões irrenunciáveis, seja no aspecto interpessoal seja no social. Mas nela há um empobrecimento da experiência humana, pois não inclui a contribuição das mulheres. Elas estão mais próximas ao mistério da vida, são naturalmente mais cooperativas, tecem mais adequadamente as redes de relações afetivas, familiares e comunitárias, alimentam preocupação pelos outros e tomam em consideração as debilidades humanas e os processos de desenvolvimento, pouco contempladas pela ética da justiça. Para que a vida humana funcione não basta a igualdade de direitos e deveres e o respeito a eles. Precisa-se do cuidado, pois todo ser vivo deseja e precisa ser cuidado e nós sentimos naturalmente o impulso de cuidar. Dai nasce a solidariedade, a corresponsabilidade e a compaixão, como irradiações do cuidado.
A base antropológica desta ética do feminino é outra. Para ela não existe o indivíduo isolado que precisa de um contrato social para viver junto. Ele é sempre conectado com o outro e com a natureza. A motivação para viver valores e assim uma vida ética não vem da razão e dos princípios, mas da emoção do afeto e do auto-envolvimento. O desejo natural de sermos cuidados, aceitos e amados, coisa que foi ignorada pela ética vigente, é o que move profundamente nossas vidas.
Fazer política é cuidar do povo e atender suas necessidades, repetiu-o muitas vezes o Presidente Lula. Realizar isso é realizar a justiça. Este é o critério para julgar eticamente os projetos dos dois candidatos.
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