Movimentos Sociais na mira do exército brasileiro
06/09/2001
- Opinión
A imprensa tem divulgado nos últimos dias a ação de espionagem do
Exército. Apresentando, inclusive, documentos que mostram que esta se
destinava a investigar as ações dos movimentos sociais, de modo
particular o MST e outros movimentos de luta pela terra, e atingia
também a própria Comissão Pastoral da Terra - CPT. Os movimentos
sociais têm sido qualificados como "forças adversas" que devem ser
vigiadas, combatidas e eliminadas.
Isto que agora acontece não é nenhuma novidade em nossa nação.
Sempre que os camponeses e os pobres tentaram se organizar e lutar
pelos seus direitos foram vigiados e duramente combatidos. É só
lembrar de Canudos e o Contestado e, mais recentemente, da ditadura
militar que exerceu severa vigilância e repressão sobre os movimentos
do campo e acabou com as Ligas Camponesas. Para quem achava que hoje
vivemos um espaço democrático onde a livre expressão e organização são
garantidas, esta ação vem mostrar a verdadeira cara de nosso regime.
Hoje o alvo é o MST, junto com outros movimentos que reúnem e
organizam os trabalhadores para a conquista do direito de acesso à
terra que sempre lhes foi negado pelas elites dominantes em nosso
país. O MST é o mais atingido pela sua força de organização, pela
firmeza de suas posições e pelas propostas que defende.
A ação do exército não é algo isolado. Faz parte de uma ação
articulada nos últimos anos pelo governo federal para desarticular os
movimentos sociais do campo e de modo particular o MST. Neste sentido,
tem baixado medidas provisórias criminalizando as ações dos movimentos
sociais e negando o direito à terra aos que participarem de ações de
ocupações. Tem desencadeado uma minuciosa fiscalização sobre
associações e cooperativas de pequenos agricultores, sob a alegação de
desvio de recursos destinados à Reforma Agrária. Para tentar podar a
força dos movimentos sociais do campo criou a "reforma agrária pelo
correio."
Não bastasse isto, a nova estratégia do governo é tentar desqualificar
os conflitos agrários. As mortes decorrentes destes conflitos, 13 até
agosto deste ano registradas pela CPT, se devem a brigas de interesse
entre companheiros e vizinhos, segundo o Ministro do Desenvolvimento
Agrário, Raul Jungmann.
Tudo isto é a prova de que a compreensão das lutas sociais no
Brasil encontra um núcleo duro de resistência na elite brasileira. Em
última análise, o que está em jogo é não querer partilhar o país e
suas riquezas com a massa dos excluídos. Por isso, teme-se a reforma
agrária e, principalmente, aqueles que a fazem de fato. Mas há também
uma novidade própria aos desafios contemporâneos. Devido às riquezas
da biodiversidade, o grande capital tem interesse em controlar
verdadeiros territórios dentro do território brasileiro. A resistência
dos povos da terra torna-se novamente um ponto de estrangulamento
destes interesses que esmagam as verdadeiras necessidades do povo
brasileiro que ainda está na terra.
O lamentável não é só a espionagem, mas a compreensão que o
Estado tem daqueles que lutam por justiça no campo, de serem "inimigos
da pátria".
A Comissão Pastoral da Terra e o Setor Pastoral Social da CNBB refazem
seu compromisso com os filhos e filhas da terra e das águas e com eles
se solidarizam. Com os pés no chão, sonhamos com o dia da paz, fruto
da justiça.
Comissão Pastoral da Terra
Setor Pastoral Social da CNBB
Setor Pastoral Social da CNBB
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