Calendário do poder

21/06/2007
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Está nas livrarias meu novo livro, com o título acima. Editado pela Rocco, complementa “A mosca azul”, lançado pela mesmo editora ano passado. Muitos leitores esperavam encontrar no livro de 2006 revelações sobre os bastidores do poder. Agora, sim, haverão de saber como foi o meu dia-a-dia no coração do poder: o Palácio do Planalto.

“Reflexões sobre o poder” é o subtítulo do primeiro livro. Em “Calendário”, predomina a descrição de dois anos de trabalho no governo Lula. O dever de prestar contas ao presidente de minhas atividades fez com que, na primeira semana de cada mês, eu enviasse a ele um relatório minucioso do que fiz no mês anterior. Esta a matéria-prima do novo livro.

Ofereço ao leitor, que através de seus impostos pagou-me o salário em 2003 e 2004, os avanços e recuos do Fome Zero; por que o Bolsa Família escanteou
a participação da sociedade civil; as tensões no governo quanto aos rumos da política econômica, na contramão das políticas sociais; as falhas da comunicação oficial; as críticas e sugestões que fiz ao presidente através de conversas e cartas (reproduzidas no livro); a árdua conquista da demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol; as reuniões ministeriais; e outros episódios vividos e presenciados por mim.

Numa República (res publica, coisa pública) tudo deveria ser de pleno conhecimento da população, exceto o que envolve a segurança do Estado. Por isso, me senti no dever de trazer à luz essa participação nos dois primeiros anos do governo Lula.

Não quis esperar a poeira baixar para publicar o livro. Avaliação do primeiro mandato, é também minha sugestão ao segundo. Ainda há tempo de a esperança vencer o medo. Mas, para isso, é preciso que todos estejamos convictos de que o verdadeiro poder reside em nossas mãos. Os políticos são nossos empregados. Nós os sustentamos e, portanto, temos o dever e o direito de cobrar, exigir, propor, reduzindo a abissal distância que, hoje, separa os eleitores dos seus representantes encastelados em salários astronômicos e mordomias obscenas.

“Calendário do poder” é o meu diário de bordo, no qual convido o leitor a conhecer melhor as entranhas do poder, como ele funciona protagonizado por homens e mulheres que são feitos da mesma matéria que todos nós – barro e sopro – mas nem sempre cultivam a sensibilidade à vontade popular, deixam-se despersonalizar pela função que ocupam e, assim, invertem a ótica democrática: passam a encarar o povo de cima para baixo.

Fui feliz nos dois anos de governo Lula. Senti-me honrado pelo convite presidencial de trabalhar na mobilização social do Fome Zero, a única política social de um governo que alcançou o prestígio de uma grife. Infelizmente o Planalto não soube absorver o potencial de mobilização de milhares de pessoas e instituições que, Brasil afora, se interessaram pelo programa. Hoje, reduzido ao Bolsa Família, ele ainda não encontrou a sua porta de saída.

- Frei Betto é escritor
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