Ambiente integral
10/07/2007
- Opinión
EMBORA A cobertura da imprensa tenha sido tímida, a Câmara dos Deputados ensaiou nos últimos dias levar a votação projeto de lei que insere a matéria de meio ambiente no currículo das escolas de ensino médio e fundamental. A iniciativa merece aplausos e requer vontade política e energia para ser levada a cabo. De fato, a formação intelectual formal hoje requer o conhecimento das questões ambientais. Conter o estágio de degradação do meio ambiente a que chegamos e estabelecer um pacto social para resguardar os recursos naturais que são essenciais para a coletividade exigirá um nível razoável de compreensão do problema e uma predisposição para mudanças de hábitos cotidianos.
No ambiente da escola, sem dúvida alguma, é possível lançar as primeiras sementes de uma transformação cultural. Explicar desde cedo às crianças e aos jovens o impacto ambiental de cada iniciativa individual ou coletiva é um primeiro passo para reverter o caos em que estamos enveredados.
Basta percorrer as ruas de qualquer grande cidade brasileira para perceber que ainda não absorvemos princípios básicos de responsabilidade ambiental em nosso dia-a-dia. Dos bairros nobres aos menos favorecidos, é costumeiro ver lixo entupindo bueiros e infestando os canteiros de parques, córregos e rios, alimentando o ciclo da poluição urbana.
Não é preciso andar muito para observar que é absolutamente incompatível com os tempos atuais o volume de descarte irresponsável de materiais que potencialmente poderiam passar por processos de reciclagem. Também não é preciso muito esforço para constatar que gastamos água e energia de forma pouco responsável. Uma espiada em nosso cotidiano é suficiente para constatar o descaso com recursos estratégicos.
Reverter esse quadro exige compreensão dos fatos. Exige uma avaliação racional, um processo de esclarecimento contínuo, consistente, amparado no instrumental socioeducativo. Experimentando, ouvindo e tomando contato com a realidade por meio de um suporte pedagógico adequado, os cidadãos do futuro podem emergir mais conscientes de suas responsabilidades diante do meio em que vivem.
A transformação tem que ser contínua, e o esclarecimento escolar não deve ter como objetivo apenas mudar condutas mas também desenvolver o espírito crítico dos alunos para que, mais adiante, eles possam fazer escolhas e cobrar das empresas e governos as atitudes que lhes foram ensinadas em sala de aula.
O ensino das questões ambientais tem lugar próprio na nova escola que precisamos construir. É matéria tão fundamental quanto a ética, que deveríamos tornar obrigatória se quisermos mudar o quadro de baixo apego aos interesses coletivos que verificamos na atualidade. Não é preciso buscar socorro nos negros indicadores ambientais para justificar a pretensão de ver o estudo do meio ambiente convertido em programa específico nas escolas. Os dados já estão expostos de forma contundente o suficiente para sensibilizar qualquer um que tenha juízo e preocupação com o futuro.
Se cada um dos brasileiros sair da escola sabendo que se devem preservar matas ciliares para garantir a subsistência dos rios, se cada um dos nossos jovens ingressar na vida adulta consciente de que não deve jogar lixo nas ruas, que não deve desperdiçar água e que deve economizar energia, se cada um de nós perceber que pode adotar novas condutas e que essa mudança pode gerar resultados para todos, então teremos dado um salto fantástico para combater esse que se converteu num dos piores problemas da atualidade.
O Brasil é o gestor de uma das mais promissoras idéias no campo da energia limpa. O álcool brasileiro vive hoje seus dias de glória e já assume ares de promessa para substituir os combustíveis fósseis, que há anos consomem as camadas protetoras da atmosfera.
Poderíamos dar o exemplo também no campo da formação. Introduzir o ensino do meio ambiente na grade escolar pode resultar na formação de gerações inteiras preparadas para viver num mundo pautado pelo conceito da sustentabilidade. A idéia aventada na Câmara dos Deputados é salutar e pode fazer diferença. Chegou o momento de abraçarmos a idéia do "ambiente integral".
- MILÚ VILLELA , presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, é embaixadora da Boa Vontade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e coordenadora do Comitê de Articulação do Compromisso Todos pela Educação, além de presidente do MAM (Museu de Arte Moderna) e do Instituto Itaú Cultural
No ambiente da escola, sem dúvida alguma, é possível lançar as primeiras sementes de uma transformação cultural. Explicar desde cedo às crianças e aos jovens o impacto ambiental de cada iniciativa individual ou coletiva é um primeiro passo para reverter o caos em que estamos enveredados.
Basta percorrer as ruas de qualquer grande cidade brasileira para perceber que ainda não absorvemos princípios básicos de responsabilidade ambiental em nosso dia-a-dia. Dos bairros nobres aos menos favorecidos, é costumeiro ver lixo entupindo bueiros e infestando os canteiros de parques, córregos e rios, alimentando o ciclo da poluição urbana.
Não é preciso andar muito para observar que é absolutamente incompatível com os tempos atuais o volume de descarte irresponsável de materiais que potencialmente poderiam passar por processos de reciclagem. Também não é preciso muito esforço para constatar que gastamos água e energia de forma pouco responsável. Uma espiada em nosso cotidiano é suficiente para constatar o descaso com recursos estratégicos.
Reverter esse quadro exige compreensão dos fatos. Exige uma avaliação racional, um processo de esclarecimento contínuo, consistente, amparado no instrumental socioeducativo. Experimentando, ouvindo e tomando contato com a realidade por meio de um suporte pedagógico adequado, os cidadãos do futuro podem emergir mais conscientes de suas responsabilidades diante do meio em que vivem.
A transformação tem que ser contínua, e o esclarecimento escolar não deve ter como objetivo apenas mudar condutas mas também desenvolver o espírito crítico dos alunos para que, mais adiante, eles possam fazer escolhas e cobrar das empresas e governos as atitudes que lhes foram ensinadas em sala de aula.
O ensino das questões ambientais tem lugar próprio na nova escola que precisamos construir. É matéria tão fundamental quanto a ética, que deveríamos tornar obrigatória se quisermos mudar o quadro de baixo apego aos interesses coletivos que verificamos na atualidade. Não é preciso buscar socorro nos negros indicadores ambientais para justificar a pretensão de ver o estudo do meio ambiente convertido em programa específico nas escolas. Os dados já estão expostos de forma contundente o suficiente para sensibilizar qualquer um que tenha juízo e preocupação com o futuro.
Se cada um dos brasileiros sair da escola sabendo que se devem preservar matas ciliares para garantir a subsistência dos rios, se cada um dos nossos jovens ingressar na vida adulta consciente de que não deve jogar lixo nas ruas, que não deve desperdiçar água e que deve economizar energia, se cada um de nós perceber que pode adotar novas condutas e que essa mudança pode gerar resultados para todos, então teremos dado um salto fantástico para combater esse que se converteu num dos piores problemas da atualidade.
O Brasil é o gestor de uma das mais promissoras idéias no campo da energia limpa. O álcool brasileiro vive hoje seus dias de glória e já assume ares de promessa para substituir os combustíveis fósseis, que há anos consomem as camadas protetoras da atmosfera.
Poderíamos dar o exemplo também no campo da formação. Introduzir o ensino do meio ambiente na grade escolar pode resultar na formação de gerações inteiras preparadas para viver num mundo pautado pelo conceito da sustentabilidade. A idéia aventada na Câmara dos Deputados é salutar e pode fazer diferença. Chegou o momento de abraçarmos a idéia do "ambiente integral".
- MILÚ VILLELA , presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, é embaixadora da Boa Vontade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e coordenadora do Comitê de Articulação do Compromisso Todos pela Educação, além de presidente do MAM (Museu de Arte Moderna) e do Instituto Itaú Cultural
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