O “sorinho” que salvou milhões de crianças

01/04/2013
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A montanha de dados apurados pelo censo demográfico brasileiro de 2010, ainda continua sendo deglutido. Os números levantados sempre dão a dimensão e tendencias do comportamento cultural de uma sociedade. Assim, buscando compreender e interpretar estes números, nos deparamos com alguns que chamou a atenção da nossa sensibilidade acadêmica.

 
A estrutura de nossa pirâmide etária, nos últimos 50 anos sofreu uma drástica alteração em decorrência da evolução cultural, conseqüência principal do fantástico desenvolvimento científico, neste período. Observa-se que da pirâmide quase geométrica do passado (censo de 1960) passou-se para uma forma de “garrafão demográfico” (denominação nossa). Tudo isto como conseqüência da redução da fecundidade feminina de 6,3 (1960) para 1,9 filhos por mulher em 2010 e do aumento da longevidade da população. Neste caso fomos premiados com mais 25 anos de vida no mesmo período de 48 para 73 anos. 
 
Numa primeira abordagem a faixa etária inicial começa pequena, que vai aumentado gradativamente até chegar sua maior expansão na faixa de 10 a 14 anos. A partir deste momento elas começam decair lentamente, até as faixas de alta idade acima de 100 anos. Como não se pode, por conveniência previdenciária, distribuir todas as faixas observadas em campo, a população acima de 65 anos é acumulada numa única faixa. Temos aí um único substrato de todas as faixas seguintes que neste caso completará com uma estrutura de garrafão, ou “vaso” como alguns preferem. A cada ano que passa, as camadas vão passando para outras, num processo dinâmico da população quando se analisa pela chamada pirâmide etária.
 
A queda da fecundidade só não afetou dramaticamente o crescimento da população graças à redução significativa da mortalidade infantil que passou de 131 (1960) para 15,6 (2010) óbitos no primeiro ano de vida, por cada 1000 nascidos vivos; como também o prêmio dos avanços na medicina, por esticar mais ainda a vida como acima abordado.
 
Por outro lado, chama atenção a relação entre o nascimento de meninos e meninas. Empiricamente, está havendo redução da diferença com nascimento maior de meninas. Classicamente de cada cem nascimentos vivos 51,2% são de meninos. Isto é nascem 5% mais meninos do que meninas. Sem compromisso científico neste momento, tem-se observado que esta diferença está diminuindo, isto é, está havendo nascimento maior de meninas, reduzindo aquela proporção. No longo prazo, este fenômeno deverá afetar a taxa de crescimento populacional.
 
Pela redução estatística da mortalidade infantil, faz-se uma homenagem a pediatra Dra. Zilda Arns, (in memoriam) com seu programa da “Pastoral da Criança”, órgão da CNBB, onde milhões foram salvas, através de um simples soro fisiológico de caráter doméstico. Um singelo procedimento de saúde. Faleceu tragicamente no terremoto do Haiti (2010) em plena palestra sobre seu programa, reconhecido internacionalmente. Embora fosse indicada durante vários anos, infelizmente, não foi agraciada com o prêmio Nobel da Paz; conjeturamos por ter nascida na periferia dos países desenvolvidos e porque afrontou os interesses da poderosa indústria farmacêutica, com seu bizarro “sorinho” para crianças com desidratação.
 
Para nós cristãos o maior prêmio não é deste mundo. Milhões de crianças salvas perpetuarão a sua memória através das gerações futuras por um simples gesto de solidariedade humana. Graças ao “sorinho” da Dra. Zilda, estas crianças fazem parte da grande mesa da vida com suas alegrias.
 
Sergio Sebold – Economista e Professor Independente.
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