A morte do livro

21/02/2014
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Recebi um anexo de e-mail, que mexeu com minha sensibilidade, onde profetisa o fim de diversos produtos ou serviços que hoje usufruímos e passará apenas para a história diante dos passos gigantes da tecnologia. Começa com a extinção física dos Correios, do Cheque, do Jornal, do Livro.... parei aqui. Agora agrediu minha sensibilidade. Tudo menos o livro! Este jamais poderá desaparecer. Com argumentos de que pode ser baixado nos sites disponíveis de livros inteiros com algum pagamento quase simbólico e até de graça.  Ora, mas isto só será possível quando todos tiverem computadores em casa. A nível Brasil e mundial está muito longe de ser realidade.
 
Não há duvidas que o conforto de leitura (?) e a manipulação pela visão virtual ganha de longe do livro tradicional. Também tive que me adaptar a leitura via tela de computador. Mas quando termino, ou paro de ler ele passa para as catacumbas do HD. Se some. Não faz mais parte de meu campo visual ou outra sensação física. Fico com monte de informação sem qualquer parâmetro de memória. Esta pragramaticidade ou facilitador da eletrônica está tirando a beleza lírica do livro tradicional.
 
No livro físico, sua capa, textura, tamanho, cheiro, formato, fazem parte da memória; são ancoras de lembrança sobre tudo que dentro estava escrito.  No virtual, nada disso acontece, mesmo que os e-books disponíveis simulem o livro real.
 
Façamos algumas reflexões. Os livros são depositários de todo o conhecimento e memória da humanidade. O mais belo é que eles sempre foram uma caixa de surpresa. A curiosidade do homem é insaciável. Mesmo que se está passando para as memórias virtuais todos os livros que foram escritos pela humanidade, jamais tirará a beleza de seus originais quer sejam em papiro, pele de carneiro, plástico, e mesmo o tradicional papel da era moderna.
 
Para se ler um livro virtual há necessidade de todo um aparato de tecnologia avançada por trás. Sem entrar em detalhes, desde a eletricidade, aos chips, a transmissão, tudo pelo processo de magnetização e de movimento de bits e bytes. As fitas magnetizadas do passado, os CD´s estão lentamente perdendo ou desaparecendo do universo computacional. Como ficam aqueles livros se não tivermos novos decodificadores?
 
No livro tradicional é necessário apenas um decodificador de linguagem que aprendemos nas escolas. Ou seja, basta saber ler. O que está escrito no livro, não se apaga, num tempo relativamente longo. Com a loucura da eletrônica, isto não dá para garantir.
 
A tecnologia tem permitido armazenar milhões de livros num simples Pen Drive, apenas como referência, mas jamais poderão ser lidos todos. Tem-se uma imensa biblioteca para pesquisa. Google oferece esta maravilha do conhecimento humano. Mas mesmo a maravilha do armazenamento em nuvens, num pensamento terrorista, um simples bug mundial, um espirro eletromagnético do sol, será o suficiente para se perder toda a história da humanidade. Sobrarão apenas as lápides dos cemitérios, placas em ferro ou bronze de algum personagem político em praças públicas, algum monumento, as pirâmides do Egito etc.
 
O livro é um objeto frio na sua textura, mas fixo; permanece pronto para sua leitura em qualquer tempo. Um livro eletrônico é feito de bits e bytes, em constante movimento, que se apaga totalmente quando se desliga da tomada. Ele é efêmero. O de papel se bem cuidado é para séculos; com novos decodificadores linguísticos se poderá relembrar ou escrever a história. A eletrônica é um meio, o livro gráfico é perpétuo. Infelizmente os jovens estão enfeitiçados pelos efêmeros dispositivos eletrônicos.
 
Transcrevemos uma pequena quadra do poeta Elias José tirado da Internet:
 
Um livro
é uma floresta
com folhas e flores
e bichos e cores,
é mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata no mar,
um foguete perdido no ar,
é o amigo e companheiro.
A morte do livro será o  fim da cultura.
 
Sergio Sebold
Economista e Professor Independente
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/83365

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