Bioética
17/10/2002
- Opinión
A bioética surgiu em 1971, nos Estados Unidos, quando o oncologista Van Rensselaer Potter publicou a obra intitulada "Bioethics: a Bridge to the Future". Sua intenção era desenvolver uma ética das relações vitais, ou seja, dos seres humanos entre si e dos seres humanos com o ecossistema Nesta perspectiva, o médico norte-americano buscava uma saída para o progressivo desequilíbrio criado pelo homem na natureza. O compromisso com a preservação da vida no planeta se tornou, desta forma, o cerne de seu projeto. Sua obra se difundiu rapidamente e, em 1979, Beauchamp e Childress publicam juntos o livro "The Principles of Bioethics", que daria um novo rumo aos estudos da bioética nos anos posteriores. A novidade trazida por estes dois autores limitaria a intenção original de Van Rensselaer Potter Enquanto este dava à bioética um caráter mais global, aqueles procuraram restringi-la aos meios científicos. Este foi o ponto de partida para a construção da bioética que conhecemos hoje. O novo conceito de bioética, originado a partir da obra de Beauchamp e Childress, introduziu quatro princípios básicos: dois de ordem deontológica e outros dois de ordem teleológica. Os dois primeiros princípios eram os da não-maleficência e da justiça. Os outros dois eram os da beneficência e o da autonomia. Estes princípios eram norteadores de uma nova práxis nas relações entre profissionais de saúde e seus pacientes. Com o tempo, estes princípios foram acrescidos e a bioética deixando de ser exclusivamente principialista passando a assumir, cada vez mais, como centro de suas preocupações, as origens contextuais que envolvem seus problemas. É daí que surge o contextualismo. Atualmente encontramos outras linhas de bioética como o naturalismo, o contratualismo entre outras, que se diferenciam acidentalmente, embora não formalmente. Contudo, o contextualismo parece ser hoje o caminho mais percorrido pelos bioeticistas Mas o que é bioética? Antes de mais nada é bom esclarecer alguns pontos importantes. Em primeiro lugar, não se trata de uma nova ciência, pois a bioética não possui um estatuto epistemológico próprio e é em vista disto que se utiliza das bases conceituais da filosofia. Em segundo lugar, mesmo utilizando bases conceituais filosóficas, a bioética não pode ser reduzida a um ramo da filosofia; sua preocupação é, portanto, de ordem particular Em terceiro lugar, por possuir uma preocupação de ordem particular, ela não se confunde com ética e nem com moral. Estas são logicamente dedutivas compreendendo o bem, a priori, de forma abstrata, ao passo que a bioética compreende o bem a partir de uma autonomia determinada. É neste sentido que, em bioética, a beneficência precede a deontologia Mas o que é mesmo bioética? Depois de dizer o que ela não é, podemos afirmar que se trata na verdade de um conhecimento complexo, de características inter e multidisciplinares e de natureza problematizadora. Seus conceitos flexíveis, de ordem epistemologicamente transdisciplinar, são o motivo de sua vulnerabilidade. Contudo, ainda assim, vale dizer que a bioética não é serva de nenhuma outra ciência Baseando-se nessas reflexões, em 1998, o Centro Loyola de Fé e Cultura criou um núcleo de estudos bioéticos para discutir os dilemas que envolvem a vida humana, da sua origem até o seu fim. A preocupação que perpassava este núcleo era a de estabelecer um diálogo entre os profissionais de saúde, filósofos, teólogos, sociólogos, psicólogos e outros de formação cristã Em 1999, a convite do Núcleo de Estudos Bioéticos do Centro Loyola, o diretor do Instituto Borja de Bioética (Barcelona), o padre jesuíta Francèsc Abel, realizou uma semana de conferências sobre temas relacionados à bioética. Estas conferências foram realizadas na Academia Brasileira de Letras, na PUC/RJ e no próprio auditório do Centro Loyola A bioética é uma ciência que no Brasil ainda está engatinhando, mas tem um futuro promissor. Como seu próprio nome indica ciência da vida a bioética é aquela ciência que lida com os limites éticos e a sacralidade desta vida dada a nós pelo Deus Criador * Maria Clara Bingemer, teóloga
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