OPT e a transição
20/03/2003
- Opinión
Nos últimos dias 15 e 16, o Diretório Nacional do PT fez
uma reunião histórica por sera primeira do Partido depois
da posse do presidente Lula. Nela compareceram,
paraparticipar nos debates, ministros como Antônio Palocci,
Benedita da Silva, José Dirceu,José Fritsch, José Graziano,
Luiz Dulci, Olívio Dutra, Ricardo Berzoini, Tarso Genro
eWaldir Pires. A maior parte desses ministros integra o
Diretório Nacional do PT. Mas ofato mais significativo da
reunião foi o comparecimento do próprio presidente Lula,
quetambém integra o Diretório do Partido.
A presença de Lula na reunião não representa apenas um
prestigio para o PT, mas umprestigio e um fortalecimento de
todos os partidos políticos. As democracias modernas
sófuncionam bem onde existem partidos sólidos e
estruturados, agindo como principais atoresdo cenário
político. No Brasil, temos uma longa tradição de
instrumentalização dospartidos pelo poder. Os partidos
sempre ficaram num segundo plano. Os políticos, nas
suasindividualidades, sempre pontificaram. O governo Lula
tende a ser marcado por umainversão desta relação: buscar-
se-á o fortalecimento dos partidos e a
discussãoprogramática na condução do processo político. A
presença de Lula na reunião do PTteve este significado
simbólico.
Do ponto de vista político, a reunião do PT analisou o
desempenho do governo e indicoualgumas diretrizes para o
atual momento político. A resolução aprovada no
encontrosustenta que os principais êxitos do governo, até
agora, ocorreram no terreno daarticulação política e na
política externa. Na articulação política são destacadosos
seguintes fatos: o governo ampliou sua base no Congresso,
conseguiu evitar que houvessedisputa nas presidências da
Câmara e do Senado, fez um pacto com os governadores
emtorno das reformas e estabeleceu mecanismos de
procedimentos institucionais na relaçãoentre União e
Estados e sinalizou a necessidade de um novo pacto
federativo, tanto nareunião com os governadores quanto com
os prefeitos.
Na política externa, o governo Lula conseguiu imprimir uma
nova perspectiva para oBrasil: a de exercer uma liderança
positiva na América Latina e no contexto da políticaglobal.
Na América Latina, o governo vem adotando uma postura ativa
na busca desoluções para conflitos como os da Colômbia e da
Venezuela. Busca também consolidar ademocracia e o comércio
na região, seja no âmbito do Mercosul ou de
relaçõesbilaterais com outros países. O governo deve seguir
negociando a implantação da Alca,defendendo os interesses
do Brasil e sem se submeter os interesses norte-americanos.
No âmbito da política global o governo Lula pode exercer
uma liderança positiva na OMCe em outros fóruns
internacionais em torno da temática comercial como, o
combate aoprotecionismo comercial dos países ricos, os
desequilíbrios entre países ricos epaíses pobres, o tema da
pobreza mundial, os conflitos em torno das questões
daspatentes e dos direitos de propriedade intelectual etc.
Num momento histórico em que aeconomia e as relações
políticas e culturais se globalizam, o novo governo
deveráimprimir uma ampliação das ações internacionais do
Estado brasileiro. Ressalte-seainda, a atuação firme do
governo contra a guerra do Golfo, cujas principais
vítimas,como sempre, são as populações civis do Iraque.
Do ponto de vista econômico, a reunião do PT garantiu
sustentação clara à políticade ajuste que o governo vem
adotando, na certeza de que estão sendo construídas
ascondições para sair da crise e promover as mudanças no
sentido do crescimentoeconômico e da geração de emprego e
renda. Está claro, tanto para o PT quanto para ogoverno,
que a política de juros é transitória e voltada
exclusivamente para combater ainflação. Esta é uma
diferenciação significativa em relação aos juros
altospraticados pelo governo FHC que tinham como objetivo
premiar o risco de investimento docapital especulativo,
atraído para financiar o déficit fiscal e externo. Com o
governoLula pratica-se uma política fiscal dura, mas
necessária. O benefício desse ajusteserá colhido amanhã,
por toda a sociedade, quando o Brasil diminuir sua dívida e
suadependência externa. Então, com os juros e oferta de
crédito barato, poderáincrementar o desenvolvimento.
O PT, exercendo sua autonomia, não deixou também de sugerir
diretrizes ao governo. Naárea social, o Partido quer uma
melhor definição de focos, de métodos, de critérios ede
objetivos. Quer também ações pró-ativas do governo em
políticas de desenvolvimentoe geração de emprego, nosso
principal tema de campanha. Quer, ainda, ver o
governofuncionando com mais coordenação interna e com
definições estratégicas. A reuniãomostrou, por fim, que
apesar dos debates e das divergências naturais, o PT saiu
unido eintegrado no conjunto dos indivíduos e grupos
internos.
* José Genoino, Presidente nacional do PT
https://www.alainet.org/pt/articulo/107192
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