Uma aliança de civilizações, futuro para a humanidade

27/07/2006
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Nada mais longínquo da proposta de uma aliança de civilizações do que o massacre criminoso que o Estado de Israel está perpetrando contra o Líbano, na continuidade de sua ação de extermínio do povo palestino. É vergonhoso como as grandes potências, que invadem países pobres sob o pretexto de evitar que esses possam, um dia, vir a usar armas atômicas, assistam, complacentes, tal genocídio sem fazer nada para detê-lo. Nestes dias, o governo dos Estados Unidos enviou sua embaixadora ao Oriente Médio não para pressionar o governo israelita e exigir o fim dos ataques, mas apenas para evitar que o conflito se espalhe por outras regiões do mundo onde as grandes potências têm interesses estratégicos. Até aqui, nem a ONU, nem outros organismos internacionais, nem as lideranças religiosas do mundo estão conseguindo formular uma proposta eficiente de paz. No dia 15 de fevereiro de 2002, o Fórum Social Mundial convocou a sociedade civil internacional para se manifestar contra a criminosa invasão do Iraque. Conforme dados da ONU, de fato, nos cinco continentes e especialmente em todas as grandes cidades do mundo, ocorreram manifestações pela paz que reuniram mais de oito milhões de pessoas. Não conseguiram deter o presidente Bush e sua sede de guerrear, mas contribuíram para fortalecer uma cultura internacional da paz. É urgente refazer esta mobilização para exigir a paz no Oriente Médio e que cessem os ataques de Israel contra o Líbano. O projeto de uma aliança de civilizações foi formulado na última assembléia geral da ONU por José Luis Rodriguez Zapatero, presidente do Conselho de Ministros e chefe do governo da Espanha. Assim como outras propostas transformadoras, como a de uma taxa a ser paga sobre todo o produto comercial para combater a pobreza no mundo (taxa Tobin) e a de um projeto internacional contra a fome, tipo Fome Zero, também a proposta de Zapatero foi criticada por alguns governos e considerada utópica. Como o filósofo W. Benjamin dizia que “a utopia é motor da história”, temos o direito e o dever de exigi-la e espalhar esta idéia para que, no mundo todo, se torne um caminho possível de paz e justiça. É importante saber que, no próprio projeto formulado por Zapatero, há quatro grandes linhas que podem ajudar a humanidade no começo deste século atribulado por tantos conflitos: 1 Um diálogo intercultural e inter-religioso promovido pela própria ONU e com a finalidade de aproximar as civilizações a serviço da paz (Cf. Revista Êxodo, abril 2006, p 50). É significativo que esta proposta venha de um governo civil e não apenas de organismos religiosos. Na Espanha de onde surgiu esta proposta, quando se fala de diálogo de civilizações, logo aparece em evidência o contraste entre o Ocidente e a civilização islâmica. É preciso que esta sociedade perceba que todo fundamentalismo é pernicioso, tanto o fundamentalismo dito islâmico, como o fundamentalismo neoliberal que torna as sociedades modernas cada vez mais fechadas e racistas. Para que haja um diálogo intercultural é necessário nos libertarmos de todo tipo de preconceito. 2 Uma humanização da Economia de forma que inclua as multidões de pobres que atualmente são excluídas das mínimas condições de vida. Cada vez fica mais claro para a maior parte da humanidade que o terrorismo é sempre injustificável, mas este atual modelo econômico vigente no mundo o propicia e favorece. 3 Recolocar a Ciência a serviço da vida dos povos e não do lucro das grandes empresas. Por exemplo, a medicina já tem condições de vencer diversas enfermidades, mas existem multinacionais que vivem dos remédios que aliviam, mas não curam. Estas empresas impedem que se democratizem os caminhos da saúde. É urgente retomar as sabedorias ancestrais que recuperam métodos de saúde mais ligadas à natureza. 4 É imperioso um diálogo com a Planeta que articule de forma mais justa o necessário desenvolvimento humano e tecnológico com o cuidado com o Terra e a natureza. Este diálogo supõe uma educação ecológica e exige um investimento em projetos de caráter eco-filosóficos, eco-teológicos, eco-sociológicos e assim por diante. A ONU, assim como o primeiro-ministro da Espanha, sabem que este projeto de uma aliança de civilizações já existe concretamente e vem sendo realizado pelo processo do Fórum Social Mundial. A preparação para o 7º Fórum em Nairobi no Quênia é um exemplo disso. O importante é que, no dia-a-dia de nossas vidas e na realidade restrita de nossas relações procuremos viver, desde agora, esta aliança de civilizações.
https://www.alainet.org/pt/articulo/116303
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