Repúdio à série de reportagens “Amazônia em Perigo” (Jornal do Brasil)

02/03/2007
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A violência e a mentira têm sido as armas usadas frequentemente contra os indígenas e a população por políticos e empresários de Roraima. Nos últimos 25 anos, mais de 20 indígenas naquele estado foram assassinados e nenhum dos autores e mandantes de tais crimes foi condenado. As agressões acontecem cotidianamente e fazem parte da estratégia para enfraquecer, dividir as comunidades e favorecer a ocupação das terras indígenas por interesses privados.

Ao mesmo tempo em que sofrem ataques pessoais e contra seu patrimônio, os indígenas e a opinião pública são bombardeados por informações falsas, tendenciosas e preconceituosas - como as publicadas em uma série de reportagens veiculadas na última semana de fevereiro pelo Jornal do Brasil. Tal como ocorreu em outras ocasiões, quando a questão indígena em Roraima esteve em destaque na imprensa nacional, os alvos dessa guerra de contra-informação são indígenas, missionários, ONG´s, Fundação Nacional do Índio e outros aliados dos indígenas.

É falsa e tendenciosa, por exemplo, a informação de que “o Governo vai entregar mais um pedaço do Brasil para as tribos indígenas” (JB, 25/02/07, pág.02 – País). A inverdade consiste no fato de que o Governo não está entregando nada aos indígenas. Está, sim, atendendo a determinação constitucional de demarcar, proteger e fazer respeitar todos os bens das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas, segundo os preceitos do artigo 231 da Constituição Federal. As terras são da União, destinadas à posse permanente dos índios e em nada se compara à propriedade privada, como as adquiridas por grandes empresas, grileiros ou pelo latifúndio. O ato da demarcação, atendendo a esse dispositivo, é a confirmação do reconhecimento pelo Estado Brasileiro ao direito dos indígenas muito antes da formação do estado nacional.

Tanto quanto falsos e tendenciosos, vários trechos das reportagens são carregados de preconceito. Os indígenas são apresentados como “brabos” (JB, 25/02/07, Editorial-País), indolentes ou “guerrilheiros”. Pior ainda é que a reportagem reproduz o discurso de conhecidas lideranças políticas de Roraima, que constantemente ocupam as páginas dos jornais para difamar qualquer pessoa ou instituição aliada às organizações e comunidades indígenas. Chega a ser um preconceito e ignorância brutal a suposição de que os indígenas não queiram, nem devam saber quais são e para qual finalidade existem órgãos governamentais, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

É lamentável e digno de repúdio o comportamento de meios de comunicação que perseguem a ética do capital em detrimento da ética profissional, que se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação. Ainda mais quando se prestam ao serviço de manipular a opinião pública nacional com mentiras.

A sociedade brasileira espera muito mais dos meios de comunicação. A imprensa, de um modo geral, tem contribuído enormemente para a consolidação da democracia no Brasil, atuando de forma vigilante quanto aos interesses nacionais, acompanhando de perto os passos dos administradores públicos, revelando fatos obscuros que atentam contra o patrimônio do povo brasileiro e, na maioria das vezes, servindo de porta voz de todos os cidadãos e cidadãs.

Por isso mesmo toda e qualquer forma de manipulação das informações, divulgação de fatos notadamente tendenciosos e preconceituosos receberá sempre o repúdio da sociedade, como as notícias levianas contra os povos indígenas e seus aliados no estado de Roraima veiculadas pela série de reportagem “Amazônia em Perigo” pelo Jornal do Brasil.

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jô 8:32).


Manaus (AM), 02 de março de 2007

Conselho Indigenista Missionário – CIMI

Regional Norte I – AM/AM
https://www.alainet.org/pt/articulo/119831
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