Defensiva ou ofensiva
29/08/2008
- Opinión
Não são poucos os pensadores de esquerda embaraçados pelas experiências, aparentemente heterodoxas, dos países que se denominam socialistas, como China, Vietnã e Cuba. Dão-se conta de que o socialismo está em defensiva, mas não admitem que aquelas experiências estejam relacionadas com isso. Supõem que a defensiva socialista não é profunda, nem prolongada, e consideram traidora a atual estratégia daqueles países.
Partindo do pressuposto de que, hoje, as lutas sociais ganharam dimensão mundial, afirmam que elas não teriam se generalizado por faltar-lhes a vontade de construir uma convergência na diversidade, em escala mundial. Faltaria uma visão internacionalista e uma perspectiva socialista, assim como a decisão de passar, da resistência contra o neoliberalismo, a uma ofensiva contra o capitalismo. Se aqueles países fossem realmente socialistas, certamente poderiam demonstrar aquela vontade e tomar aquela decisão.
Não é por acaso, portanto, que, a cada oportunidade, tais pensadores conclamem que se passe da defensiva à ofensiva. Supõem que basta vontade e decisão. Esse tipo de voluntarismo é um velho companheiro de certos círculos de esquerda. Eles jamais aprenderam com a experiência das lutas sociais e das revoluções. Que, como se sabe, não dependem da vontade e da decisão de tal ou qual força política, mas do aprendizado que as grandes massas populares conquistam no dia a dia de suas relações com as classes dominantes.
As lutas sociais e as revoluções ocorrem, em geral, por negação, quando as massas populares já não agüentam viver como até então. A suposição de que hoje, em todo o mundo, elas já podem ter uma unidade ou convergência internacionalista apenas demonstra o desprezo daqueles pensadores pela enorme diversidade de condições nas diferentes regiões e países do globo, apesar de seus pontos em comum.
Se as lutas sociais, em cada região ou país, apresentam características locais ainda muito diversificadas, isso significa que o grau de negação ao seu modo de vida é ainda muito variado, apesar de o capitalismo estar presente em toda parte. Mas está presente de forma desigual. Assim, do mesmo modo que a desigualdade de desenvolvimento do capital levou, na primeira metade do século 20, tanto às revoluções burguesa e socialista na Rússia, quanto às revoluções anti-coloniais e democrático-populares em diversos outros países, na melhor das hipóteses também deve levar, no futuro, a revoluções diferenciadas.
Portanto, o que os pensadores socialistas precisam, hoje, é ter uma noção clara do significado de estar na defensiva estratégica, e das condições em que se pode passar dessa defensiva para a ofensiva. Sem isso, além de classificarem os outros de traidores, acabarão culpando as próprias massas populares por sua falta de vontade e decisão.
-Wladimir Pomar e analista político e escritor.
Partindo do pressuposto de que, hoje, as lutas sociais ganharam dimensão mundial, afirmam que elas não teriam se generalizado por faltar-lhes a vontade de construir uma convergência na diversidade, em escala mundial. Faltaria uma visão internacionalista e uma perspectiva socialista, assim como a decisão de passar, da resistência contra o neoliberalismo, a uma ofensiva contra o capitalismo. Se aqueles países fossem realmente socialistas, certamente poderiam demonstrar aquela vontade e tomar aquela decisão.
Não é por acaso, portanto, que, a cada oportunidade, tais pensadores conclamem que se passe da defensiva à ofensiva. Supõem que basta vontade e decisão. Esse tipo de voluntarismo é um velho companheiro de certos círculos de esquerda. Eles jamais aprenderam com a experiência das lutas sociais e das revoluções. Que, como se sabe, não dependem da vontade e da decisão de tal ou qual força política, mas do aprendizado que as grandes massas populares conquistam no dia a dia de suas relações com as classes dominantes.
As lutas sociais e as revoluções ocorrem, em geral, por negação, quando as massas populares já não agüentam viver como até então. A suposição de que hoje, em todo o mundo, elas já podem ter uma unidade ou convergência internacionalista apenas demonstra o desprezo daqueles pensadores pela enorme diversidade de condições nas diferentes regiões e países do globo, apesar de seus pontos em comum.
Se as lutas sociais, em cada região ou país, apresentam características locais ainda muito diversificadas, isso significa que o grau de negação ao seu modo de vida é ainda muito variado, apesar de o capitalismo estar presente em toda parte. Mas está presente de forma desigual. Assim, do mesmo modo que a desigualdade de desenvolvimento do capital levou, na primeira metade do século 20, tanto às revoluções burguesa e socialista na Rússia, quanto às revoluções anti-coloniais e democrático-populares em diversos outros países, na melhor das hipóteses também deve levar, no futuro, a revoluções diferenciadas.
Portanto, o que os pensadores socialistas precisam, hoje, é ter uma noção clara do significado de estar na defensiva estratégica, e das condições em que se pode passar dessa defensiva para a ofensiva. Sem isso, além de classificarem os outros de traidores, acabarão culpando as próprias massas populares por sua falta de vontade e decisão.
-Wladimir Pomar e analista político e escritor.
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