La Embajada: Honduras 2009 não é o Haiti de 1992
- Opinión
Embora a história do Brasil acuse a presença nefasta de ações contra a democracia perpetrada pelos Estados Unidos, nem de longe a expressão
O caráter estratégico dessa região era tal que até mesmo concessões de direitos trabalhistas e reforma agrária foram feitas
Não se pode entender o que se passa hoje em Honduras sem consideramos esse pano de fundo. Desde os quentes anos da Guerra Fria que Honduras tem sido um lugar estratégico contra movimentos populares e democráticos na região, como na derrubada da “primavera democrática” guatemalteca (1944-1954), no combate à guerrilha salvadorenha, no apoio aos “contra” na Nicarágua sandinista e na frustrada tentativa de derrubada da revolução cubana com o episódio da Playa Girón.
Desde que os movimentos populares começaram a debilitar os governos que se submetiam às políticas do Consenso de Washington, é dizer, desde que o Exército venezuelano assassinou entre 1000 e 3000 pessoas em Caracas, em fevereiro de 1989, e que o Presidente Raul Alfonsín no mesmo ano se viu obrigado a renunciar diante das manifestações callejeras contra as medidas de ajuste que decretara, que o pêndulo político na região começou a tender para a esquerda e contra golpes de estado. A tentativa frustrada de golpe de estado de Hugo Chávez na Venezuela em 1992 e, sobretudo as lições por ele tirada daquele episódio, foi fundamental para a onda antineoliberal que emana das ruas e que ensejará que uma série de governos se eleja impulsionada por esses movimentos de fundo populares e anti-golpistas.
O primeiro desses governos seria exatamente o de Hugo Chávez, eleito em 1998, e que mudaria a correlação de forças na região, situação essa que hoje se faz sentir com a condenação unânime do golpe de estado contra o Presidente Zelaya,
O recente golpe contra o governo democrático de Honduras é um teste fundamental ao governo do Presidente Barak Obama, pois são notórias as ligações do Exército golpista hondurenho com a ultra-direita dos falcões estadunidenses que foi derrotada nas urnas nos EEUU junto com os neoconservadores do partido republicano.
É preciso estar atento para que não se repita agora em Honduras o mesmo que ocorreu no Haiti em 1992, desenho que parece estar se configurando. Á época, o padre ativista da Teologia da Libertação Jean-Baptiste Aristide havia sido eleito na primeira eleição democrática realizada no país depois da derrocada da ditadura sanguinária dos Duvallier. Á época, a direita colocou todos os obstáculos possíveis para que não fosse respeitada a vontade popular e o presidente eleito Jean-Baptiste Aristide pudesse levar a cabo as reformas de sua plataforma eleitoral vitoriosa e que fazia parte da sua historia de militância junto aos movimentos populares haitianos. Configurado o impasse ensejado pelos golpistas contra vontade popular, o Presidente eleito foi retirado do país e levado para os Estados Unidos onde teve que negociar as condições de sua posse que incluía a permanência à frente das forças armadas dos militares golpistas de ultra-direita. Os acontecimentos do Haiti depois disso são sobejamente conhecidos mostrando o que significa debilitar a vontade democrática, o que levaria à intervenção militar internacional no Haiti de 2003. É importante recuperarmos esse (mal)exemplo no Haiti de 1992 posto que se tratava de um governo democrata nos EEUU, ou seja, estava no poder o Sr. Bill Clinton, quem seqüestrou e armou as condições de retorno condicionado de Jean-Baptiste Aristide. Portanto, não se tratava de um republicano conservador ou neoconservador como seriam os anos Bush. Não, tratava-se de um governo democrata que não foi capaz de enfrentar a direita militar situação que, hoje, volta a se delinear no caso de Honduras. O estranho disso tudo é que mídia não se cansa de lembrar o golpe que Hugo Chávez intentara em 1992 e nunca se lembre do golpe de estado do democrata Bill Clinton contra o povo haitiano e o Sr. Jean-Baptiste Aristide. Se as esquerdas latinoamericanas parecem ter entendido a importância da radicalização democrática, o mesmo não parece ter ocorrido à direita e a região se vê no caso hondurenho, assim como se viu no caso venezuelano de 2002, diante de um momento de bifurcação: ou consolidação democrática ou retorno aos golpes de estado de tão triste memória para as maiorias empobrecidas.
E se alguma dúvida ainda pairava no ar, os dois casos recentes de tentativa de golpe de estado na América Latina deixam claro uma verdade profunda de nossa realidade, a saber: os golpes de estado que tanto caracterizaram o chamado Terceiro Mundo não são uma intervenção estadunidense. As intervenções dos EEUU são feitas a convite, como tão bem salientou David Harvey
- Carlos Walter Porto-Gonçalves é Doutor
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