Uma abordagem sobre a indústria de transformação de madeiras
Amazônia: o silêncio das árvores
07/11/2012
- Opinión
Introdução
Este é o terceiro livro, de uma série de quatro, que versa acerca da Amazônia e mantém a mesma estratégia de análise adotada nos dois primeiros[1]. Trata das relações estabelecidas entre os grupos econômicos, que se instalam na região afim de acumularem riquezas, e da expansão que ocorre, seguindo a lógica mundial. Para o entendimento do assunto discutido aqui, não se faz necessário que o leitor tenha lido as outras obras do autor. Isso deve-se à autonomia do texto quanto ao recorte e aos dados observados.
Sentimo-nos muito à vontade quando discorremos com referência ao processo de transformação de madeiras. Mesmo diante da amplitude da temática e do espaço, a preocupação constante em pesquisar a Amazônia tem o intuito de verificar a veracidade dos fatos já postos em discussão por estudiosos da área. Para relacionar a indústria de transformação de madeiras com o meio ambiente, com as estratégias capitalistas, com o Estado e com a força de trabalho, sentimo-nos diante de uma tarefa complexa, não impossível de ser realizada, certamente, mas que nos leva a percorrer difíceis caminhos por entre a selva densa.
Além disso, o estudo ora apresentado não pode ser entendido como acabado. Os conceitos necessitam, ainda, de apuração, pois não atingem o estágio final das reflexões a que se propõe. São apresentados de forma simples, conforme entendimento do pesquisador, e são suscetíveis a críticas e leituras diferentes, o que o torna objeto próprio da ciência mantendo seu movimento e evolução. É necessário, para tanto, entender os caminhos já percorridos até então, dos que realizaram trabalhos de investigação, as hipóteses comprovadas pelas diferentes metodologias e áreas voltadas às questões amazônicas.
A primeira parte deste livro apresenta o perfil dos empresários madeireiros, aqueles que coordenam e fazem a acumulação de capital neste setor. Faz o diagnóstico geral das madeireiras e sua representação econômica no comércio nacional e internacional, proporcionada pela extração dos recursos naturais da floresta tropical.
Aponta, também, o volume de madeireiras nacionais e multinacionais existentes na região, o processo crescente de exploração dos recursos nos últimos anos e a vinda de madeireiras asiáticas que se instalam com o objetivo de agregar valor a seu capital. Assim, aponta para o movimento que caracterizou a crescente internacionalização da região voltada ao comércio de madeiras.
O papel do Estado foi determinante no fornecimento de incentivos fiscais aos grupos econômicos organizados, proporcionados por órgãos governamentais criados propositadamente para servirem às classes dominantes, principalmente por meio da ditadura de 1964. Estes foram decisivos para o sucesso da nova fase de acumulação regional, e contribuíram para o desenvolvimento e a concentração de riquezas. As empresas que tiveram acesso aos recursos do Estado são representadas por grupos econômicos que dominam a política, a economia e as forças produtivas do País e, na maioria das vezes, ditam as regras do mercado nacional e global.
Esses grupos utilizam táticas e estratégias de dominação, concentrando a terra em suas mãos, em detrimento da não-realização da reforma agrária no País. Também se verifica que a maioria dos projetos criados por estes recursos vai servir para dois fins: o desvio de verbas públicas e a devastação ambiental. O projeto proposto pela dinâmica capitalista regional não contempla as madeireiras, pois estas realizam o aproveitamento das árvores, para, em seguida, realizar a expansão da agropecuária extensiva por meio das monoculturas.
Pretendemos demonstrar, ainda, a estrutura econômica das madeireiras na região, representadas por seu volume produtivo, a quantidade de empregos oferecidos e as formas como os grupos econômicos participam da dinâmica do enriquecimento de suas empresas, em detrimento da subsistência da força da classe trabalhadora. Diante dos fatos, serão feitos apontamentos a respeito dos proprietários das indústrias, do grau de dependência entre pequenos, médios e grandes empresários do setor. Além disso, serão observados os contratos dos trabalhadores da extração de madeira por meio do agenciamento da mão-de-obra feita pelo “gato”, que fica com toda a responsabilidade trabalhista para eximir o capitalista de qualquer compromisso.
O projeto de expansão da Amazônia brasileira será identificado nas suas duas fases bem distintas: na primeira, o madeireiro faz a coleta das árvores com o objetivo de aproveitar economicamente a madeira; na segunda, a concretização do projeto capitalista, com a fixação da agropecuária por meio das monoculturas de soja e gado bovino. Assim, pode-se demonstrar que a coleta das árvores não recebe cuidados para preservar a floresta, sendo os empresários, na maioria das vezes, apenas coletores das árvores, para, depois, se instalarem grandes núcleos de agropecuária extensiva no lugar devastado.
A madeireira, muitas vezes, faz um papel insignificante na relação concentradora da região, pois apenas aproveita economicamente as árvores. Em outros casos, a madeira é queimada sem aproveitamento para que se permita a entrada das monoculturas. Isso comprova que, com ou sem madeireiras, a Amazônia é devastada em nome de um grande projeto que não contempla a indústria de transformação na região.
Essa perspectiva não utiliza técnicas de manejo florestal e os ecossistemas passam a ser agredidos de forma irreversível. O procedimento pode ser visto em todas as fases do processo produtivo, pois, além de não se utilizarem tais técnicas na maioria dos projetos, os que se utilizam delas, não as aplicam bem. Muitas vezes, não passam de palavras que enfeitam os projetos e servem para legalizar a devastação da floresta, visto que o objetivo maior da estratégia capitalista na região, não visa a fortalecer o setor madeireiro. O processo de destruição ambiental leva ao deslocamento das indústrias, após a coleta predatória. Em seu lugar, são formadas grandes áreas com monoculturas, exatamente como prevê o projeto do grande capital para a região, e a madeireira passa a fazer um circuito itinerante.
Além de não utilizar formas adequadas de manejo, podem ser vistas outras causas para tal destruição: a falta de tecnologia adequada, com máquinas e equipamentos sucateados; o mau aproveitamento que reduz a lucratividade da empresa; a grande quantidade de florestas disponíveis, fazendo com que seja aproveitada somente a que proporciona mais lucro; a dificuldade na comercialização do aproveitamento das madeiras, bem como o processamento final que, em grande parte, é feito fora da região produtora.
As formas de obtenção de maior lucratividade para a empresa, segundo a lógica capitalista, são observadas no aproveitamento da madeira de melhor qualidade, desperdiçando-se 2/3 nas várias fases do processo produtivo. Outros adicionais financeiros são conseguidos, quando a empresa, por exemplo, sonega imposto, ou trabalha com o sistema de grilagem de terras e de madeiras, principalmente, as conseguidas ilegalmente de áreas indígenas, de posseiros, de preservação ambiental e/ou da União.
Tal atitude orienta o mercado, pois define os preços da madeira no comércio nacional e internacional, determina a forma de transformação de madeira, assegura o benefício dos incentivos fiscais, e, principalmente, força a participação do Estado, que se põe a serviço do capital, fornecendo toda a estrutura para a expansão e concentração dos grupos econômicos, jogo político que torna a região um objeto de cobiça.
O Estado e o capital em conjunto regulam as ações de dominação na região. Eles usam da força conjunta para favorecer grupos organizados na economia e na política, tendo como objetivo final a expansão e a concentração de capital na região. Nessa estratégia, utilizam a superexploração e colocam a natureza a serviço de grandes conglomerados econômicos. A exploração do homem e do seu ambiente passa a ser a regra, e a determinação do capitalismo sistêmico quer o lucro fácil, por meio da fabricação de derivados da madeira das florestas tropicais nativas. De acordo com o que foi dito, deixa-se ao leitor a oportunidade de fazer emergir do texto as leituras possíveis no que diz respeito à ocupação e exploração da Amazônia.
SUMÁRIO
PREFÁCIO .................................................................................... 7
APRESENTAÇÃO .......................................................................... 9
Diagnóstico geral das empresas madeireiras
nacionais e multinacionais ................................................... 13
nacionais e multinacionais ................................................... 13
Os incentivos governamentais aos capitalistas do setor ....... 41
A estrutura capitalista do setor madeireiro ........................... 55
Os capitalistas madeireiros .................................................. 61
O desperdício das madeiras e a devastação ........................ 73
A grilagem de madeiras e as formas de apurar os lucros ..... 87
RESUMO ....................................................................................... 99
CONCLUSÃO ................................................................................ 107
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................ 111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 113
[1] Livros do mesmo autor. PICOLI, Fiorelo. Amazônia: do mel ao sangue – os extremos da expansão capitalista. Sinop: Editora Fiorelo, 2004a e PICOLI, Fiorelo. Amazônia: a ilusão da terra prometida. Sinop: Editora Fiorelo, 2004b.
https://www.alainet.org/pt/articulo/162473
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