Xadrez do jogo político dos fake news
O fenômeno das agências de checagem é um capítulo a mais na disputa que se trava hoje, em torno da globalização versus projetos nacionais.
- Análisis
A história do fake news que dobrou o Facebook para que instituísse a censura política em suas páginas. E as ligações desse episódio com as eleições brasileiras de 2018, capítulo importante e até agora não revelado das disputas políticas globais.
Peça 1 – a desorganização do mercado de opinião
Havia um modelo de mídia instalado, com os grupos tradicionais disciplinando o mercado de opinião, sistematizando uma opinião pública já incluída e invisibilizando vozes dissonantes.
A Internet e as redes sociais implodiram esse modelo, abrindo possibilidades infinitas de organização social e de vocalização de demandas, desde causas humanitárias a discursos de ódio.
A expansão das redes sociais, com seus impactos na desorganização do mercado de opinião, também cria instabilidades na democracia convencional. Surgem ativistas digitais, mudando completamente as formas de interação do público com a notícia.
Mas, principalmente, emergem as duas mídias mais poderosas da história, Facebook e Google, com estratégias de negócio fundadas na democratização e universalização do acesso.
Esse é o preâmbulo para nossa história, que tem como personagem central o Atlantic Council, um dos mais influentes think tanks norte-americanos, nosso velho conhecido, por suas ligações com a Lava Jato.
Peça 2 – o Atlantic Council
Três fenômenos vieram alterar profundamente a geopolítica internacional:
O fenômeno das redes sociais.
O fracasso do modelo neoliberal como alternativa eleitoral a partir de 2008. A disputa sai do âmbito dos estados para o campo internacional, trabalho facilitado pela integração proporcionada pela telemática e pelas redes sociais e pela proliferação de bilionários ativistas.
As legislações internacionais se sobrepondo às nacionais, inicialmente para propósitos humanistas (punição dos chamados crimes contra a humanidade), derivando depois para o combate à corrupção, que joga no caldeirão dos EUA todo crime em que circularam dólares.
Esse desenho abre espaço para think tanks, que se tornam o grande espaço de promoção de novas alianças, de articulação entre grandes capitais, funcionários públicos e sistemas de poder de outros países.
Clicando aqui, você vai a uma reportagem do The New York Times sobre o uso abusivo pelos think tanks de um falso conhecimento técnico para impor aos governos decisões de interesse de seus contratantes. E um trecho especial sobre as jogadas do Atlantic Council.
Assim que explodiu a Lava Jato, o Atlantic Council se tornou uma das vitrines de juízes e procuradores junto ao público corporativo norte-americano, exibindo-os como troféus. Nomeou o ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot como conselheiro, em um caso clássico de fake reputation, e promoveu encontros com membros do Departamento de Justiça, no qual um deles, Kenneth Blanco, narrou a maneira como o DoJ (o Departamento de Justiça) articulou-se informalmente com o grupo de Curitiba para preparar a Lava Jato.
No post “Xadrez de como os EUA e a Lava Jato desmontaram o Brasil”, há mais detalhes dessa combinação.
A estratégia comercial do Atlantic Council se baseou nos estudos do guru Harlam Ulmann, relevantes para entender a tentativa recente de impor censura política nas redes sociais.
O ideólogo Harlam Ulmann
Harlam Ulmann é um cientista político que mudou o conceito de segurança nacional nos Estados Unidos com seu “Shock and Awe Doctrine”.
Confira seu pensamento:
A revolução da informação e das comunicações globais instantâneas estão frustrando a nova ordem mundial"
Apenas um outro cataclismo como o 11/9 permitirá que o estado possa reafirmar o seu domínio e a eliminação de agentes não estatais e indivíduos capacitados, a fim de preservar a nova ordem mundial.
A definição de uma "nova ordem mundial" deve ser a de uma tecnocracia mundial gerida por uma fusão do grande governo e o grande negócio em que a individualidade seja substituída por uma singularidade trans-humanista.
Não são as superpotências militares, como a China, mas "atores não estatais", como Edward Snowden, Bradley Manning e hackers anônimos, que representam a maior ameaça para o Westphalian System, porque eles estão incentivando as pessoas a se tornarem autocapacitadas e eviscerar o controle do Estado.
Com base nos estudos de Ulmann, o principal produto que o Atlantic Council passou a vender foi a grande batalha da globalização através das redes sociais.
Mas como impedir o acesso à rede daqueles que o Atlantic Council denomina de “atores malignos”, disputando a narrativa com o sistema, confrontando a ideologia da globalização? Como domar as redes sociais, se a universalização do acesso está no cerne do seu modelo de negócio?
A maneira como o Atlantic Council conseguiu dobrar o gigante Facebook é um caso que ainda será contado, um dia, como um clássico do uso dos fake news, o 11 de novembro das redes sociais, preconizado pelo guru Ullman.
Peça 3 – a fake news que dobrou o Facebook
No dia 24 de novembro de 2016, The Washington Post publicou uma reportagem de capa sobre a interferência russa na eleição de Donald Trump. Essa reportagem deflagrou a campanha mundial contra o fake news, apontado a partir de então, com evidente exagero, como a maior ameaça à democracia. E, provavelmente, foi o maior fake news das últimas décadas.
A reportagem se baseava em um site obscuro, o PropOrNot, cujos autores eram anônimos. O grupo divulgou um relatório de 32 páginas detalhando a metodologia, e delatando cerca de duzentos meios de comunicação suspeitos de publicar propaganda russa para torpedear a campanha de Hillary Clinton. E justificava o anonimato pelo receio de ser atacado pelos hackers russos.
Ao melhor estilo “Guerra dos Mundos”, o site apregoava:
Uma campanha de informação em grande escala está enganosamente injetando propaganda russa no discurso público americano on-line. Ele opera tanto à esquerda quanto à direita, gerando milhares de artigos de notícias, memes, tweets e vídeos falsos (...) É vital que esse esforço seja exposto pelo que é: uma tentativa coordenada de enganar os cidadãos dos EUA para que atuem no interesse da Rússia.
O espaço dado pelo Washington Post mereceu críticas generalizadas do jornalismo sério do país. Andrew Cockburn, editor da Harper’s, classificou a reportagem como um “lixo lastimável”. Colunistas do The Intercept , Fortune e Rolling Stone também despejaram, críticas sobre o jornal.
Adrian Chen, do respeitado The New Yorker, informou que havia sido contatado pela organização mas não embarcou na história.
“Um olhar mais atento no relatório mostrou que estava uma bagunça. "Para ser honesto, parece uma tentativa muito amadora", disse-me Eliot Higgins, um pesquisador respeitado que investigou notícias falsas da Rússia em seu site, Bellingcat, durante anos. "Eu acho que nunca deveria ter sido publicado em qualquer site de notícias de qualquer nota."
O Washington Post foi obrigado a se retratar. Na cabeça de reportagem online publicou numa Nota do Editor dizendo não garantir a validade das conclusões do PorpOrNot. Nem tinha condições de avaliar se a campanha russa havia sido decisiva para eleger Trump.
Criou-se o mistério: quem estaria por trás das notícias superdimensionadas sobre a invasão russa?
Dois pesquisadores independentes buscaram a resposta através de caminhos distintos.
Um deles se valeu de análise linguística. Concluiu que o autor anônimo era Michael Weiss, editor sênior do The Daily Beast , colunista de Política Externa e colaborador frequente em segurança nacional da CNN . Ele também é editor-chefe do The Interpreter , membro sênior não-residente do Atlantic Council e co-presidente do Russia Studies Center da Henry Jackson Society.
Outro pesquisador se valeu de uma ferramenta de teste, que permite a varredura de vulnerabilidades em sites. Mostrou que o painel de administração pertencia a www.interpretermag.com, site financiado pelo Atlantic Council.
Mesmo com todos os ingredientes de uma notícia falsa, plantada, o fake news ganhou vida e levou a uma campanha mundial contra os poderes do Facebook.
A empresa já estava vulnerável. O fake news sobre a Rússia foi o empurrão final para deixa-la de joelhos. Mark Zuckerberger jogou a toalha e procurou o seu verdugo, o próprio Atlantic Council, contratando-o para um trabalho de assessoria.
“O Facebook não forneceu muitos detalhes sobre como o Atlantic Council ajudaria a identificar possíveis desinformações, apenas para que a equipe forense cibernética do think tank trabalhasse com a equipe do Facebook para fornecer "insights e atualizações em tempo real sobre as ameaças emergentes".
O Facebook queria uma trégua para poder respirar, tal o tiroteio que se viu envolvido. Permanece o gigante, mas a inexperiência política de Zuckerberger obrigou-o a um movimento de recuo, ante raposas experientes da política norte-americana.
E o Atlantic Council já tinha pronta, há tempos, sua receita.
Peça 4 – a receita para o controle da rede
No dia 26 de julho de 2017, o site do Atlantic Council publicou um artigo explicando como deveria ser o critério para Google e Facebook impedirem notícias falsas.
“As leis de mídia existentes já estão sendo usadas por pessoas no poder para silenciar seus oponentes, e o termo “notícias falsas” foi rapidamente adotado por políticos com o objetivo de desacreditar a mídia. É muito fácil imaginar um governo usando o discurso falso da notícia falsa / discurso do ódio para censurar pontos de vista inconvenientes”.
E defendia que não poderia se dar a ambos o direito de censurar.
“Obrigações de remoção de conteúdos ilegais devem estar sujeitas a uma supervisão judicial adequada ou a de transparência e de comunicação”.
O caminho, segundo o Atlantic Council, seria estabelecer “parcerias com organizações de checagem de fatos, reprimindo propagandas de sites não confiáveis, modificando seus algoritmos”. Nas apenas isso, mas essas organizações “lançando seus próprios projetos de suporte de mídia”. Espalha-se, aí, o fenômeno das agências de checagem.
Mas quem seriam essas organizações aliadas?
Peça 5 – o clube dos bilionários
O destino manifesto sempre induziu bilionários norte-americanos a cruzadas de salvação moral contra os ímpios do hemisfério sul. Esse tipo continuou florescendo nos Estados Unidos, como demonstram os texanos irmãos Koch, prováveis financiadores de movimentos de ultradireita na América Latina.
Mas, ao mesmo tempo, surgiu outra geração de bilionários mais instruídos, muitos aparecendo com o boom da Internet, procurando exercer o soft power do setor, como o próprio Bill Gates e sua fundação para combater a miséria na África.
É o caso de George Soros e seu Open Society.
Segundo artigo publicado em seu site no dia 1º de fevereiro de 2018:
“Na última década, à medida que a confiança nas instituições diminuiu em todo o mundo, a política em muitos países aparentemente se transformou em uma disputa que colocou “elites” egoístas contra todo mundo. E como a convicção de que as “elites” não representam os interesses do “povo” tornou-se cada vez mais comum, dois caminhos alternativos à frente também se tornaram ascendentes. Um caminho está enraizado no populismo e representado pela construção de paredes, tanto literais quanto figurativas. O outro é inclusivo e baseado em colaboração e confiança’.
Através do Instituto Update, o Open Society passa a mapear todas as iniciativas sociais que florescem nas redes sociais, visando criar uma sociedade global, com troca de experiências e defesa de valores humanitários – mas estritamente individuais. E, especialmente, como alternativa às “elites egoístas”, que são justamente as que comandam os Estados nacionais. E por “povo” não se entendam os movimentos sociais nacionais, mas a nova geração de influenciadores que nasce com a Internet.
Com Soros, se alinham vários bilionários bancando sites jornalísticos, alguns de boa qualidade e considerados de esquerda.
Porque um bilionário capitalista financiaria grupos de direitos humanos, muitos deles identificados com a esquerda? A resposta é algo óbvia, já foi bastante discutida no GGN, e foi bem explicada por Alan Ghani, Doutor em Finanças pela FEA-USP:
“Basicamente, porque muitos movimentos de esquerda não são necessariamente contra o capitalismo de George Soros, mas contra valores e princípios conservadores, base da civilização ocidental, que representam obviamente uma resistência aos anseios globalistas de Soros e outros grandes capitalistas - tema muito discutido em outros países e totalmente obscuro no Brasil”.
Essa é a distinção básica, que vai explicar o papel das agências de checagem no Brasil e seu foco no jornalismo independente crítico da Ponte para o Futuro e dos grandes negócios em andamento com as estatais.
Peça 6 – as eleições de 2018
Tem-se, então, o seguinte desenho:
Na qualidade de consultor do Facebook, o Atlantic Council dispondo da capacidade de indicar os tais representantes da sociedade civil para exerceram o filtro na rede.
Como aliados, bilionários dispostos a lançar seus próprios projetos de financiamento de mídia, conforme a recomendação descrita na Peça 4, e sendo os representantes da sociedade civil na filtragem de informações do Facebook.
Mas qual o objetivo imediato desse movimento? Apenas combater o discurso de ódio? Ou usá-lo como álibi para coibir a opinião dos tais "agentes malignos" antiglobalização?
Nos diversos estudos disponíveis no site do Atlantic Council se percebe uma grande prioridade: a enorme preocupação com as eleições de 2018, especialmente no Brasil, Colômbia e México e o papel das disputas nas redes sociais.
Um artigo deste ano, publicado no seu portal, exemplifica bem essas preocupações:
Os atores malignos
“Na América Latina, região que assistirá a três importantes eleições em 2018, o conceito de notícias falsas tornou-se uma preocupação significativa tanto para formuladores de políticas quanto para grupos da sociedade civil.
Antes das eleições no Brasil, Colômbia e México, as falsas narrativas espalhadas nas notícias e nas mídias sociais são agora construídas para dois propósitos: 1) disseminar mentiras e 2) criar incerteza ou suspeita profunda.
(...) Como foi visto na preparação para as eleições europeias, essas narrativas são projetadas por atores malignos para influenciar o resultado de uma eleição, de modo a costurar discórdia e prejudicar a fé na democracia.
(...) No Brasil, vídeos falsos, contas de mídias sociais, imagens, artigos e infográficos começaram a influenciar as principais mídias e conversas públicas.
(...) As narrativas não são neutras, mas projetadas para influenciar a opinião dos leitores. Quando atores malignos empregam narrativas falsas destinadas a mudar a opinião pública e interferir nos processos eleitorais, a democracia sofre como resultado.
(...) No Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece estar pronto para um retorno nas eleições de outubro (...)Uma vitória de Lula ou Bolsonaro pode ser disruptiva, potencialmente descarrilando a frágil recuperação econômica do Brasil.
Peça 7 – as agências de checagem
Acertado o novo modelo de filtragem de informações pelo Facebook, imediatamente começaram a brotar agências de checagem de notícias que, mal saíam do berço, já eram convocadas para o trabalho de filtragem das informações da rede, indicadas pelo próprio Atlantic Council.
No Brasil, três iniciativas se destacaram:
A Open Society, de Soros, que tem como articulador Pedro Abramovay, advogado que chegou a trabalhar no Ministério da Justiça na gestão Márcio Thomaz Bastos. Provavelmente partiu dele a indicação para que a Publica topasse assumir a Agência Truco, que significou um custo adicional em sua estrutura. A Open Society é uma das financiadoras permanentes da Publica – que, aliás, pratica um jornalismo investigativo de primeira.
A revista Piauí, de João Moreira Salles, outro belo veículo jornalístico, ele, dono de uma biografia até agora respeitável, abriu a Agência Lupa.
O Projeto Credibilidade, montado na UNESP, que se se alinha com o The Trust Project, de uma universidade localizada no Vale do Silício, todos de olho na possibilidade de serem o Santo Ofício do Facebook.
Peça 8 – os indícios da censura política
Há uma série de indícios de que as agências de checagem brasileiras podem ter se submetido à estratégia do Atlantic Council, de calar as vozes antiglobalização.
Para tanto, retornemos à explicação contida na Peça 5: mesmo blogs de esquerda serão apoiados, desde que não façam a crítica aos princípios globalistas defendidos pelo clube dos bilionários, ou, por tabela, a denúncia dos grandes negócios que estão sendo perpetrados à sombra da tal Ponte para o Futuro.
Indício 1 – o mapeamento das iniciativas digitais.
A exemplo do Instituto Update, do Open Society, provavelmente por inspiração de Abramovay, a Publica procedeu a um levantamento das principais iniciativas de jornalismo e ativismo digital no Brasil. Os critérios de seleção eram:
Organizações que produzem primordialmente conteúdo jornalístico;
Organizações que nasceram na rede;
Projetos coletivos, que não se resumem a blogs;
Sites não ligados a grandes grupos de mídia, políticos, organizações ou empresas.
Foram selecionadas cem iniciativas, algumas conhecidas, outras praticamente de gueto. Entraram Midia Livre, Jornalistas livres, Marco Zero, Congresso em Foco, Nexo, Acurácia, ESTOPIM, Escotilha, Papo Reto, Jornal Comunitário da Vila Prudente, Farofa-fa, Rede de Informações Anarquista. Não entrou nenhum dos sites jornalísticas que fazem o contra discurso à mídia convencional e a crítica à globalização.
Indício 2 – o estudo da Publica para Veja
Com patrocínio da Ambev – controlada por Jorge Paulo Lehmann -, Veja montou um seminário sobre fake news. Saliente-se que Lehmann é um dos controladores do 3G, o grupo que está articulando a privatização da Eletrobras. As únicas resistências a essa jogada partem dos blogs jornalísticos independentes.
A base do seminário foi um trabalho produzido por Pablo Ortollado, um acadêmico esperto e ambicioso, junto com a Publica. Nele, mapeava três grupos de influenciadores digitais: à direita, um conjunto de blogs claramente fakes (sem identificação de responsáveis e especializados unicamente em notícias falsas); no centro virtuoso, os grupos de mídia; à esquerda, os blogs jornalísticos que fazem o contraponto ao jogo político da Ponte, incluindo o próprio GGN.
Qual a razão de terem apresentados blogs jornalísticos identificados com teses de esquerda aos blogs fakes de direita? A explicação da Publica é que os fakes de esquerda tinham pouca audiência. Ora, se o critério era de relevância, qual a razão para os blogs jornalísticos terem sido excluídos do tal Mapa montado pela Publica? E qual o motivo de não terem incluído blogs de direita? Explicação: audiência insuficiente, o que não é verdade.
Indício 3 – a censura da Agência Lupa
Montou estratégia similar. Primeiro, a denúncia de notícias fake produzidas pelo MBL e congêneres. Depois, o ataque aos blogs jornalísticos, tido como de esquerda, em cima de um episódio menor, sem característica de notícia fake – o caso do rosário que um emissário do Papa entregou a Lula. Foi uma iniciativa esdrúxula, que mereceu uma única defesa, um professor do Insper (universidade ligada a Lehman), de que o episódio significaria a maturidade das agências de checagem, por estarem sendo atacadas, agora, pela direita do MBL e pela esquerda.
Indício 4 – a seletividade do Projeto Credibilidade
O projeto tem como participantes apenas grupos de mídia e sites e portais alinhados com o sistema. Para testar, solicitei a inscrição do Jornal GGN no grupo. A resposta dos organizadores: “Agradecemos o interesse do Jornal GGN de integrar o consórcio de mídia do Projeto Credibilidade. Em função de limitações operacionais, estamos impossibilitados de responder sua solicitação de forma imediata, pois estamos analisamos solicitações anteriores de outros veículos”. A resposta foi no dia 13 de março passado. Até hoje não recebi resposta.
Peça 9 – a volta da censura
Quando teve início o carnaval em torno dos fake news, o Ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), anunciou que, na condição de presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), montaria um grupo de trabalho com Polícia Federal, ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) para combater os fake news. Anunciou até a intenção de recorrer a buscas e apreensões, como maneira de prevenir ataques – um caso claro de ameaça de censura prévia.
No evento da Veja – alimentado pelos estudos de Ortollado e da Publica -, na casa da revista que soltou uma capa fake na véspera das últimas eleições, Fux anunciou seu pacto com jornais para coibir as notícias falsas. Soltou a bazófia, de que o TSE anularia a eleição se fosse comprovada a influência decisiva de uma notícia falsa.
Peça 10 – as hipóteses em jogo
É evidente que está em andamento um processo de censura na próxima campanha eleitoral, ou, quem sabe, mais permanente, sob a capa de uma falsa legalidade – a exemplo do que ocorreu no impeachment.
A quem recorrer? No CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a inacreditável presidente Carmen Lúcia montou um grupo destinado exclusivamente a defender os grupos de mídia das ações judiciais. No TSE, Fux acena com ameaças e pactos com a imprensa tradicional, como revelou no Jornal Nacional de dias atrás.
Está em fase montagem a mais grave ameaça à liberdade de pensamento do país.
A primeira hipótese é que as agências participam deliberadamente do jogo da censura.
A segunda hipótese, levando em conta a biografia dos envolvidos, é o da imaturidade no exercício onipotente de poder vetar publicações no Facebook.
Há sempre a possibilidade de que Publica e Piauí tenham pecado pela inexperiência e que os ataques apenas expuseram idiossincrasias jornalísticas contra veículos que vinham criticando o seu trabalho.
De qualquer modo, é relevante que seus titulares se deem conta do enorme risco não apenas para a democracia, mas para sua própria reputação. E se posicionem claramente a respeito do seu papel nesse jogo. Afinal, o que está em jogo não é a questão esquerda x direita, ou globalização x antiglobalização, mas princípios fundamentais na construção da democracia e dos direitos humanos: a liberdade de expressão.
19/06/2018
https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-jogo-politico-dos-fake-news-por-luis-nassif
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