O desafio do diálogo - João XXIII e papa Francisco
03/06/2013
- Opinión
Quando os cristãos afirmam que Deus é comunhão, atestam que o diálogo é a forma de comunicão mais profunda que a humanidade tem para caminhar para a unidade. Em sua primeira carta encíclica, o papa Paulo VI dizia que o diálogo é um ato divino porque foi Deus que iniciou o diálogo com a humanidade. Quando nos colocamos em uma postura de acolhimento e diálogo com alguém diferente de nós, estamos fazendo algo que recebemos como vocação do próprio Criador.
Durante a sua história, as Igrejas sempre tiveram dificuldade de conjugar a convicção de terem a revelação divina com a abertura necessária ao pensamento e modo de crer dos outros grupos e pessoas.
Francisco, o novo bispo de Roma e primaz das Igrejas em comunhão com a Igreja Católica Romana, chama a atenção do mundo pela sua forma simples de se comunicar. Ele parece retomar um diálogo da hierarquia da Igreja com a humanidade que, no início dos anos 60, o papa João XXIII iniciou.
Nesta semana, o mundo recorda que, há exatamente 50 anos, no dia 03 de junho de 1963, João XXIII partia para Deus. O mundo o chamou de “o papa bom”. Era um homem interiormente livre e evangélico. Fazia questão de se apresentar assim. Conhecia bem a estrutura histórica do Vaticano com a qual devia sempre lidar. Quando anunciou ao mundo que Deus lhe inspirara a ideia de convocar todos os bispos do mundo para um concílio ecumênico, seus auxiliares diretos não compreenderam e manifestaram sua estranheza.
O papa insistiu que queria renovar a Igreja Católica e prepará-la melhor para a unidade com as outras Igrejas. Precisou mais de três anos (de janeiro de 1959 a outubro de 1962) para ver se realizar o seu sonho. Quando o Concilio começou, dirigiu a primeira sessão do Concílio e alguns meses depois partiu, deixando-nos uma herança maravilhosa que nem sempre foi bem valorizada.
Foi o primeiro papa a receber no Vaticano o primeiro-ministro da União Soviética comunista e atuou como mediador de paz entre Estados Unidos e Rússia na crise dos mísseis nucleares. Em 2012, passava a ser o único papa na história a ganhar o prêmio Nobel da Paz.
Graças a Deus, Paulo VI, o papa que o sucedeu, compreendeu o seu espírito. Embora fosse um homem tímido e com outro temperamento e sensibilidade diferente de João XXIII, soube prosseguir o trabalho e continuar o concílio iniciado. Afirmou que a epóca das condenacões e do dogmatismo tinha acabado. A missão da Igreja deve ser sempre dialogar e conviver com a diversidade sem se impor.
Para o diálogo ser sincero e profundo, cada parte do diálogo deve assumir sua identidade própria e tem toda liberdade de expressar seus pontos de vista, desde que aceite escutar a outra parte e o diálogo possibilite uma evolução de todas as partes na direção de um ponto comum e de descoberta sempre mais ampla da verdade.
Há uma agenda imensa para o diálogo entre as hierarquias religiosas e a sociedade civil: a relaçao da fé com ciência, as novas questões da bioética, a abertura pastoral às situaçoes concretas da ética sexual, o compromisso da fé com uma política justa e comprometida com a transformação do mundo e assim por diante.
O aniversário da partida de João XXIII nos recorda: durante a sua longa agonia, o papa bom revelou que desejava oferecer a Deus os seus sofrimentos e sua própria vida pela unidade dos cristãos. Agora, 50 anos depois, apesar de que as Igrejas históricas fizeram um bom caminho, ainda falta muito para chegarmos à plena unidade visível das Igrejas. Essa união na diversidade pode ser muito fortalecida pelo diálogo fraterno. Pode ser que, nesse diálogo, a Igreja não tenha resposta para muitos problemas, mas ela pode sim ajudar a humanidade a abrir-se mais à diversidade das culturas, a tornar o mundo mais humano e a aprofundar a vocação humana para uma amorização sempre maior que em nós é conduzida e feita pelo Espírito de Deus.
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