Bolívia fortalece a luta contra a ALCA
09/06/2003
- Opinión
La paz foi sede de mais uma ação na luta continental contra a ALCA.
Mais de dois mil bolivianos e bolivianas estiveram presentes no II
Encontro Nacional Contra a ALCA, que contou com representantes do
Brasil, México, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Paraguai e Cuba.
O Encontro consolidou o movimento boliviano contra a ALCA e OMC
informando e conscientizando a sociedade sobre o estreito vínculo que
esta política tem com a ação belicista do governo norte-americano.
Convencidos de que outra integração é possível e necessária, os
participantes aprovaram, ao final do encontro, um plano de ação em
âmbito nacional para fortalecer a luta de enfrentamento contra a ALCA
e a OMC.
Na abertura do Encontro, os delegados internacionais foram recebidos
pelo prefeito de La Paz, Juan Del Granado, que, numa demonstração de
apoio à luta, condecorou os estrangeiros como hóspedes ilustres da
cidade. Durante a cerimônia, o prefeito ressaltou a importância do
encontro para o avanço da luta. Porém, bem outra foi a posição do
governo federal que, defende o acordo para preservar e fortalecer a
comunidade democrática dos americanos, promovendo a prosperidade
através da integração econômica e do livre comércio. Equivocadamente,
o governo federal, entende ainda que a ALCA contribui para erradicar
a pobreza e a discriminação e garante o desenvolvimento sustentável e
a conservação do meio ambiente para as gerações futuras. Mal sabe o
governo boliviano, ou pelo menos finge não saber que, este modelo tão
perfeito só é aplicado para os Estados Unidos, pois para os países da
América do Sul, Central e Caribe, os resultados serão bem
catastróficos. Basta ver o exemplo mexicano. Após a implantação do
NAFTA, a tonelada do milho, cultura básica do país, passou de 1200
pesos para 500 pesos. A área cultivada de milho e oleaginosas passou
de 14 milhões de hectares para 12 milhões e, segundo o FMI, a
continuidade desta tendência reduzirá a área a 4 milhões de hectares.
Assim, o milho, principal componente da alimentação mexicana, está
sendo importado dos EUA. E o que é pior, milho transgênico. Serão
necessárias maiores explicações?
Bem outra é a visão das personalidades presentes no II Encontro
Boliviano. Para Adolfo Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, a ALCA é
simplesmente a anexação da América Latina aos EUA. Não tem nada de
livre comércio e sim, muito de dominação, submissão e perda de
soberania. "Não podemos nos deixar enganar pelos reflexos coloridos.
Se tomarmos como base o que aconteceu no México, podemos prever qual
será o futuro da Bolívia e do continente".
Já, para o Pe. Gregório Iriarte, a ALCA é a expressão do
neocoloniaismo, e trata-se de um projeto meramente economicista.
"Não há nada de integração".
O primeiro dia de debates foi precedido por uma Marcha Contra a
ALCA, que partiu da Praça central de La paz, em direção à Embaixada
Americana. Mais de seis mil pessoas, entre sindicalistas, estudantes,
mulheres, religiosos, operários, donas-de-casa, camponeses e
indígenas gritavam: "bolivia libre si, colonia yanqui no!" Mas, a
exemplo da marcha de Quito, que em outubro de 2002 tentou entregar um
documentos aos ministros que discutiam a ALCA, os manifestantes foram
barrados pela polícia e pelo exército boliviano, numa repetida
demonstração de que policiais são pagos pelo povo para defender os
interesses dos poderosos norte-americanos.
Como membro da delegação brasileira, da qual fizeram parte um
advogado do MST e um representante da Plataforma Continental dos
Direitos Humanos, pude reforçar que, somente um grande movimento
continental poderá fazer frente ao império estadounidense que tenta
nos dominar econômica, política, cultural e militarmente. "Se não nos
organizarmos, seremos transformados em neo-colônias."
Ao término do Encontro assumiu-se um plano de ações coletivas que
prevê manifestações contra a ALCA e OMC de 7 a 13 de setembro,
encerrando no dia 13 com uma Marcha Global contra a Globalização e a
Guerra. Também foi assumido o compromisso de exigir a realização de
um referendum sobre a ALCA e sobre os acordos comerciais da OMC. No
documento final foi recomendado a participação ativa nas articulações
e redes internacionais que combatem o neoliberalismo e a
militarização como: a Campanha Continental contra a ALCA, Aliança
Social Continental, Grito dos Excluídos/as, jubileu Sul e Nosso Mundo
não está a Venda
* Luiz Bassegio, é secretário continental dos Grito dos Excluídos/as
https://www.alainet.org/pt/articulo/107649
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