Contaminação transgênica
18/11/2004
- Opinión
Um fato novo confirma uma das principais preocupações dos
críticos dos transgênicos em relação a sua liberação
indiscriminada e sem controle: a contaminação. Cientistas
da Agência Norte Americana de Proteção ao Meio Ambiente
(EPA, na sigla em inglês) comprovaram que um tipo de grama
transgênica ( por enquanto só liberada para pesquisas) pode
polinizar (cruzar através do pólen) com gramas não-
transgênicas até a uma distância de 21 quilômetros. A
descoberta reforça preocupações de que o pólen transgênico
possa contaminar outras gramas silvestres.
Este é só mais um fato. Nos Estados Unidos, o Milho
Starlink, reprovado para consumo humano, foi encontrado em
tortilhas populares consumidas por milhões de pessoas e
retiradas do mercado. A contaminação em larga escala das
variedades tradicionais de milho no México, colocando em
risco os bancos de germoplasma desta importante cultivar
para a alimentação da humanidade, foi comprovada de maneira
insofismável pelo próprio Governo Mexicano. O caso do
agricultor canadense, Perci Schemeisser, cultivador de
canola orgânica com suas lavouras contaminadas por canola
transgênica de seus vizinhos transformou-se num símbolo
mundial quando o agricultor foi abrigado a pagar royalties
à Monsanto por ter sido contaminado por semente patenteada
por ela.
No Rio Grande do Sul, no município de Ibirubá, agricultores
que plantaram e colheram soja convencional, quando testada,
contatou-se contaminação com soja transgênica. Resíduos nas
plantadeiras, nos caminhões de transporte, nas
colheitadeiras, nos armazéns tornam impossível o controle e
a garantia do direito de escolher o que plantar e o que
colher daqueles que não querem - pelas mais variadas razões
- cultivar transgênicos. Isto comprova que o discurso de
que o agricultor poderá escolher o que lhe for mais
vantajoso entre o convencional, orgânico e transgênico não
passa de uma falácia. Trata-se, na verdade, de uma
tecnologia totalitária. Ao contrário de outros recursos
tecnológicos até hoje colocados a disposição dos
agricultores, este não consegue conviver com a diversidade.
Vai impor-se como o único.
O chamado fluxo gênico e a conseqüente poluição genética já
são um problema real e só tendem a piorar quanto mais
transgênicos forem cultivados. Caso algum problema grave
venha a ser constatado, tanto em relação à produtividade
agrícola, à doença de plantas, à microbiologia do solo ou à
saúde humana teremos enormes dificuldades de dar marcha ré.
Qualquer processo de descontaminação será caro, difícil e
demorado. Por isto impõe-se o princípio da precaução. Antes
de liberar comercialmente, procedam-se exaustivos estudos
de biossegurança. A Alemanha já editou uma lei garantindo o
direito de co-existência entre culturas agrícolas e
prevendo penas severas aos contaminadores. Todos os
cultivadores de plantas transgênicas serão obrigados ao
registro publico das áreas cultivadas. Enquanto isto em
nosso amado Brasil segue a festa do lobby das
multinacionais dos transgênicos demostrando que, além de
contaminar a natureza, são capazes de contaminar
consciências de deputados, senadores e ministros de Estado.
* Frei Sérgio Antônio Görgen ofm
https://www.alainet.org/pt/articulo/110910
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