O Banco Mundial e a construção político-intelectual do “combate à pobreza”

05/01/2011
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Criado em 1944 e em operação desde 1946, o Banco Mundial sempre explorou a sinergia entre empréstimos e pensamento econômico para ampliar a sua influência e institucionalizar a sua pauta de políticas em âmbito internacional. Em pesquisa recente,1 desenvolveu-se a hipótese de que o Banco Mundial age, desde as suas origens, ainda que de diferentes formas, como um ator político, intelectual e financeiro, e o faz devido à sua condição singular de emprestador, formulador de políticas, ator social e veiculador de ideias – produzidas pelo mainstream anglo-saxônico e disseminadas por ele ou produzidas por ele, em sintonia com o mainstream – sobre o que fazer, como fazer, quem deve fazer e para quem, em matéria de desenvolvimento capitalista.
 
Desde os anos 1950 o Banco figura no centro do debate internacional sobre desenvolvimento, do qual uma das principais dimensões é a redução da pobreza. Contudo, pouco se estudou como a sua atuação político-intelectual contribuiu para vincular desenvolvimento à superação da pobreza e instituir ambos os temas como objetos legítimos de pesquisa econômica e de políticas públicas.
 
Nesse sentido, propõe-se neste artigo uma história da ideia de “combate à pobreza” advogada pelo Banco. Para isso, remonta-se aos anos de McNamara na presidência do Banco, quando essa bandeira foi enxertada e entronizada na instituição, relacionando-a com as tensões da guerra fria, a revisão da política norte-americana de ajuda externa ao desenvolvimento e os debates no interior do mainstream econômico.  Em seguida, discute-se o porquê do esvaziamento da ideia de “combate à pobreza” na agenda operacional do Banco durante a primeira metade dos anos oitenta, para depois analisar-se o seu retorno a partir de 1986-87, associado à governabilidade dos programas de ajustamento estrutural promovidos pelo Banco em conjunto com o Fundo Monetário Internacional. Na sequência, argumenta-se como o Banco Mundial se voltou para a neoliberalização da política social, prescrevendo e legitimando programas de aliviamento paliativo e focalizado da pobreza como instrumentos preferenciais de ação dos Estados nacionais no âmbito da “questão social”. No conjunto, mostra-se a continuidade básica entre algumas premissas que orientavam as prescrições do Banco nos anos setenta e no início dos anos noventa, como a confiança no “efeito derrame” e uma visão de política social centrada em mínimos sociais.
 
 
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/146550
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