O imprevisivel mercado agrícola

13/03/2011
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Vivemos um tempo em que à economia esta atrelada absurdamente a produção de serviços. No nível mais primário, o sistema econômico sempre se baseou na produção agrícola como o foram desde priscas eras. Quando uma sociedade gera excedente nestes produtos, lhe permite trocar com outros bens mais nobres que a civilização industrial oferece, que lhe trazem conforto, prazer, alegrias, e no caso mais recente serviços de toda ordem. Depois do conforto dos bens, no dizer de Alvin Toffler, entramos na economia da terceira onda: o conhecimento.
 
Quer queiramos ou não a base fundamental é a agricultura, porque sem o pão nosso de cada dia, para nos manter de pé a outra economia não ocorre. Segundo as estatísticas mundiais, há um relativo equilíbrio entre a produção e o consumo mundial dos produtos agrícolas. Salvo pequenos momentos de perdas por fenômenos climáticos, os preços se mantiveram equilibrados e, até caíram pelo ganho de produtividade, graças à tecnologia no campo, de fertilizantes e investimentos na irrigação. No período de 1974-2005, 75% dos produtos ofertados no mercado mundial sofreram queda de preços, que talvez possa explicar a grande expansão do PIB mundial. Comprando alimentos mais em conta, sobra mais recursos para adquirir bens de consumo e serviços, impulsionando o eixo econômico.
 
Entretanto, a partir de 2005, segundo “The Economist” os preços voltaram a subir que deverão se manter nesta condição pelo período de uma década, em torno de 10 a 15% de aumento. Em Dez/2010 alcançou o maior índice de preços desde 1990.
 
Pela economia convencional o aumento dos preços das comodities deriva da escassez do produto e de baixos estoques. Nesta situação da economia o aumento dos preços das comodities, particularmente da agropastoril, reflete uma situação de desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Em linguagem técnica a demanda está mais aquecida. O estranho agora com excedente elevado, os preços dos produtos agrícolas, mais particularmente do trigo, estão em ascensão no mercado mundial. Visto que a produção de cereais em 2008 foi a maior da história, e 2010 foi maior ainda. A revista citada denomina esse fato, pelo seu impacto sobre a economia internacional de “agflation”. Mas onde está esta abundância?
 
O que pouco se fala é que estamos numa encruzilhada da história. Para atender a demanda crescente tanto em novos “gafanhotos” humanos, como os da China agora endinheirada, há necessidade de aumentar a produção. Mesmo que a agricultura seja intensiva, deverá consumir outros produtos da natureza de qualquer forma. Se aumentar a produção agregando novas áreas de plantio terá de se buscar, aquelas que ainda não foram tocadas pelo ser humano, neste caso lá se vai a biodiversidade. A longo prazo temos imensas áreas desérticas disponíveis que com alta tecnologia podem ser aproveitadas, mas nossa fome vem a cada seis horas.
 
O aumento dos preços do petróleo, provocada principalmente pela indústria automobilística, para atender o sonho de milhões de pessoas no mundo inteiro, leva a um novo complicador. Com petróleo em alta, o consumidor se refugia no etanol. Alguns produtos agrícolas, como o milho e a cana de açúcar são excelentes na produção deste item. Se forem desviados produtos da alimentação para o combustível, os preços dos alimentos dispararão, neste caso bilhões continuarão na fome, quando milhões passearão de automóvel de barriga cheia.
 
- Sergio Sebold – Economista e Professor – sebold@terra.com.br     
https://www.alainet.org/pt/articulo/148261

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