A fome e o custo dos armamentos

07/01/2013
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De vez em quando me debruço sobre a questão do desarmamento pelo aspecto global. Se formos perguntar pessoa a pessoa, se ela deseja a guerra, não será surpresa que a unanimidade responderá: não. E muitos responderão com ar de horror. Isto, em qualquer país deste planeta dilacerado pelo ódio. Mesmo os fundamentalistas pelas suas crenças darão esta mesma resposta.  Então se pergunta, porque se tem esta cultura de todos se armarem? Talvez seja esta a única e temerosa pergunta que os políticos jamais farão à sua sociedade para seus projetos e desígnios políticos. Veremos que haverá países, com espírito imperialista de aumentar seus estoques e domínio político, - com o argumento torpe de se defenderem (do quê?) - e haverá países em decorrência dos imperialistas que deverão se armar para se defenderem. Daí o ciclo perpétuo do medo e do ódio.

 

Vivemos uma civilização contraditória, ninguém deseja a guerra mas todos estão se armando, se protegendo(?). Permanece no DNA humano, uma instintiva imagem do passado de que o próximo sempre será visto com desconfiança. Para isto Cristo veio justamente pregar para que fosse substituído este estigma pela cultura do amor-confiança.

 

Colocando os pés no chão, as despesas com armamentos em 2010 (dado mais recente e confiável porque esta informação é altamente sigilosa) atingiram a cifra de US$ 1,630 Trilhões, sendo os EUA responsável pela metade desta importância. Se estes investimentos fossem aplicados em arados para produção de alimentos viveríamos num paraíso sem fome.

 

Com aqueles recursos despendidos em 2010, seria suficiente para manter 250 milhões de crianças vivas, ao custo do padrão de vida europeu em torno de cinco mil dólares/ano. À níveis africanos nem é necessário fazer as contas, todos que estão na faixa de subnutrição do planeta estariam salvos. Seria o fim da fome no mundo. Mas quem deseja isto?

 

Por trás destes números há uma crescente e poderosa indústria de armas de todos os tipos de destruição, em cima daquilo que foi laboriosamente construído pelo homem. Por ser um mercado hermético os lucros são astronômicos. O pior e mais perigoso é que estes estoques devam ser “desovados” de tempos em tempos. Isto é, inventa-se um inimigo. Ao queimar estes estoques pela destruição, absurdamente, dará oportunidade para gerar o progresso tanto pelas armas “queimadas” como de  bens civis destruídos. Na linguagem schumpeteriana teríamos uma espécie de “destruição criadora”. Toda a inovação destruirá a anterior, onde o modelo atual econômico se sustenta. Vivemos a economia de guerra, virtualmente. Ao se criar a guerra, surge novas oportunidades de progresso pelo modelo capitalista vigente. Assim é até hoje.

 

Por causa da pirâmide armamentista, intensifica-se a disputa pelas riquezas naturais, aumentando o potencial de conflitos.

 

Parece estar longe a mudança deste paradigma de armas, para o paradigma dos arados. Por este viés, o dia que todos estiverem saciados, termina a guerra e não se terá mais economia ao menos no modelo que atualmente praticamos. Terá que se inventar outro modelo. Talvez seja a vez da solidariedade.

 

Esperamos e sonhamos que esta nova civilização, comece surgir depois do 21 de Dezembro. Enquanto isso,  não sairemos do estágio da barbárie que ainda hoje nos encontramos.

 

Sergio Sebold – Economista e Professor Independente 

https://www.alainet.org/pt/articulo/163718

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