Desafio regional
29/09/2013
- Opinión
Um dos principais fatores do crescimento econômico brasileiro na última década foi a mudança de paradigma implantada pelos governos do PT em relação aos nossos parceiros comerciais: deixamos para trás uma postura submissa à economia dos EUA, que já representaram sozinhos quase 25% de todo o nosso comércio exterior, e rodamos o mundo para fazer negócios com nossos irmãos latino-americanos, com as nações africanas e com os tigres asiáticos. Foi um grande acerto e devemos avançar ainda mais nesse sentido, especialmente porque não há expectativa de solução da crise nos países desenvolvidos em um futuro próximo.
Foram nossos parceiros emergentes que ajudaram a nos “blindar” da crise econômica global, permitindo ao Brasil manter relações econômicas com nações que, como nós, mantiveram o crescimento de 2008 em diante. Pelo mesmo motivo, é necessário que tenhamos opções de comércio para impedir que os problemas sazonais de nossos vizinhos tenham impacto na balança comercial brasileira, como, recentemente, vimos acontecer com a Argentina. Além disso, há a pressão dos produtos chineses, que ameaçam a exportação brasileira.
Com esse cenário à frente, é importante ampliar a presença de nossos produtos em países como, por exemplo, Peru, Colômbia e Venezuela, que apresentam boas oportunidades para exportação tanto de commodities e manufaturados, quanto de serviços e tecnologia.
O Peru acumulou, em junho deste ano, 46 meses seguidos de resultados positivos na economia, e deverá apresentar crescimento do Produto Interno Bruto de 5,6% neste ano —no país andino, o carro-chefe é a construção civil, que vem crescendo acima dos 20% em 2013. São notáveis também os resultados do comércio varejista, que expandiu 7,4%, revelando um mercado interno aquecido. Na Colômbia, as projeções para o crescimento do PIB vão de 4,5% a 5,6%, com destaque para o setor financeiro: o mercado de capitais representa 19,8% das riquezas do país, e o setor segue em expansão de 5% ao ano.
É importante ressaltar que esses países estão em pleno processo de consolidação de suas indústrias de mineração e petróleo, setores em que o Brasil é sinônimo de excelência e que podem ser o início de grandes projetos conjuntos entre empresas peruanas, colombianas e brasileiras.
Já na Venezuela, que conta com um parque industrial ainda incipiente, está em curso um grande esforço governamental pela diversificação da economia, carente, sobretudo, de produção de alimentos. Isso significa que, além de abastecer um mercado consumidor de 28 milhões de pessoas com cada vez maior poder de compra —a pobreza caiu mais do que pela metade na última década—, os empresários brasileiros podem também exportar tecnologia de alto valor agregado para o país vizinho.
A Venezuela é, ainda, um dos símbolos do investimento empenhado pelos governos progressistas da região em melhoria de qualidade de vida e atendimento aos direitos fundamentais da população por meio de programas para a saúde, educação e saneamento básico, entre outros —investimentos esses que representam oportunidades sólidas para as empresas brasileiras.
Ademais, aprofundar nossos laços econômicos com os países andinos significa dar um passo importante também para a integração entre blocos econômicos: Peru e Colômbia, citados anteriormente, são líderes da Aliança do Pacífico, grupo oficialmente fundado em junho do ano passado e que conta ainda com Chile e México, enquanto a Venezuela é o membro mais recente do Mercosul. Juntos, os países de ambos os blocos detêm um PIB de cerca de US$ 4,5 trilhões, suficiente para disputar o posto de terceira ou quarta economia global, ainda que muito atrás dos PIBs de União Europeia (US$ 17 trilhões), EUA (US$ 15,4 trilhões) e China (US$ 8,1 trilhões).
Para tanto, é necessário que o empresariado nacional abra os olhos para a realidade dos nossos países vizinhos, mas o governo brasileiro também tem lição de casa a fazer: internamente, instituir um banco de exportações que financie a oferta internacional dos produtos e serviços brasileiros; regionalmente, reforçar o chamado pela criação do Banco do Sul, que garantiria crédito para projetos de infraestrutura que facilitariam o trânsito de pessoas e mercadorias entre os países sul-americanos, como rodovias e ferrovias, novas linhas aéreas, telecomunicações, geração e transmissão de energia, entre outros.
É essencial ainda dar andamento aos mais de 40 projetos que estão em andamento no Focem (Fórum para a Convergência Estrutural do Mercosul), estrutura criada no bloco em 2006 com orçamento de US$ 100 milhões, e que, até 2016, deve ter US$ 1 bilhão para projetos de integração econômica e social. Não podemos abrir mão de nenhum desses mecanismos.
Só teremos chance de equilibrar o jogo global e nos posicionarmos com maior assertividade no cenário internacional se estivermos em sintonia pelo desenvolvimento e atentos às oportunidades mais próximas e que geram maior retorno para a região. Esse é o desafio para consolidar o desenvolvimento na América do Sul. E, por sua importância e dimensão, o Brasil tem grande responsabilidade nessa construção.
- José Dirceu, 67, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
29/set/2013
https://www.alainet.org/es/node/79696
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